A Itália registrou, neste sábado, um novo recorde
de mortes em 24 horas, com 793 falecimentos, elevando o número de
mortos a 4.825 pela pandemia de coronavírus na península em um mês,
segundo dados da Proteção Civil.
As autoridades italianas anunciaram 6.557 novos casos positivos, outro recorde preocupante.
A região de Milão, Lombardia (norte), onde os serviços de saúde estão
sobrecarregados, registrou a grande maioria das mortes (546) e metade
dos novos casos.
Vai entrar na história como uma das imagens mais simbólicas da
batalha na Itália contra o coronavírus. Trata-se da foto de uma
enfermeira exausta que adormece, usando uma máscara, luvas e uniforme
diante de um computador depois de uma noite atendendo os pacientes.
A foto foi tirada no hospital Cremona, no norte da península, foco do
surto, e a enfermeira é Elena Pagliarini, 43 anos, que cede ao cansaço
depois de um dos turnos mais exaustivos de sua vida. "Por um lado,
fiquei com vergonha da foto estar circulando por toda parte, mostrando
meu lado frágil, mas agora recebo lindas mensagens de pessoas
preocupadas com a minha história", confessou a enfermeira após a imagem
circular pela internet.
"Posso trabalhar vinte e quatro horas seguidas, se necessário, mas
não escondo que, neste momento, o que me aflige é que estamos lutando
contra um inimigo que não conhecemos", confessou.
Entrevistada pelo noticiário público RaiTG1, o depoimento da
enfermeira comoveu até o repórter, que interrompeu a conversa para se
desculpar pela voz embargada. A foto, tirada alguns dias atrás ao
amanhecer, retrata a situação vivida em hospitais no norte da península,
com salas de terapia intensiva à beira do colapso.
Escassez de pessoal
A Itália mobilizou pessoal médico, enfermeiros e assistentes para
lidar com a emergência. "Quando a vi descansar cinco minutos depois de
horas correndo de um paciente para outro, tentando ajudar aqueles que
tinham febre e insuficiência respiratória, olhei para ela e queria
abraçá-la, mas preferi capturar aquele momento de trégua...", disse à
televisão Francesca Mangiatordi, médica da emergência que foi a autora
da foto.
Como elas, todo o pessoal médico italiano foi mobilizado, apesar de,
nos últimos anos, após profundos cortes, já estarem trabalhando em
condições adversas, com longos turnos e escassez de pessoal.
"Trabalhamos o tempo todo, não temos mais turnos. Não vejo minha família
há quase duas semanas porque tenho medo de infectá-los", disse Daniele
Macchini, médica de um hospital de Bergamo (norte), no Facebook.
Também na Toscana, mais ao sul, os hospitais também estão começando a
sofrer. De Grossetto, a enfermeira Alessia Bonari publicou sua foto no
Instagram com o rosto cheio de hematomas causados pela máscara
cirúrgica que ela usa o dia todo. No hospital San Giovanni di Bosco, em
Turim (norte), uma equipe de assistência psicológica apoia a equipe
médica sob pressão desde quarta-feira.
"A iniciativa envolve aqueles que trabalham em ressuscitação e
primeiros socorros", explicou a psicóloga Monica Agnesone ao jornal La
Stampa. "Mas quem precisar pode aparecer, damos as boas-vindas a
todos", explicou, referindo-se aos ritmos exaustivos, pressão e estresse
que aumentam entre os profissionais de saúde. "O medo de cometer
erros, de ser infectado, de não poder continuar nessas condições" são as
maiores reclamações, explicou a psicóloga.