No ano
passado, o Ceará foi o estado do Nordeste com maior número de mortes
ocasionadas por descargas atmosféricas. Foram oito acidentes registrados
e quatro óbitos, segundo levantamento da Associação Brasileira de
Conscientização Para os Perigos da Eletricidade (Abracopel). A atenção,
no entanto, precisa ser redobrada. Apenas nos dois primeiros meses deste
ano, já foram registrados pelo menos cinco acidentes e quatro óbitos
decorrentes de raios.
O último
incidente, ocorrido por volta das 8 horas do dia 15 de fevereiro, por
pouco não se transformou em tragédia. Renato Alves, de 40 anos, foi
atingido por uma descarga atmosférica na zona rural de Juazeiro do
Norte, no Cariri. O agricultor sofreu queimaduras em 30% do corpo. “Eu
estava num barraquinho protegido por uma coberta de lona que tinha na
roça e, quando coloquei a cabeça para o lado de fora, eu recebi a
descarga”, lembra.
Ranking de Mortes no NE (2019):
Ceará: 4 mortes
Maranhão: 3 mortes
Piauí: 3 mortes
Rio Grande do Norte: 1 morte
Sergipe: 1 morte
Alagoas: 1 morte
Bahia: 1 morte
Pernambuco: 1 morte
Ao ser
atingido, Renato conseguiu pedir ajuda. “Eu só lembro que saí procurando
o meu filho e esperei o socorro. Depois, pronto, apaguei”, ressalta.
Apesar de não ter sido atingido diretamente pelo raio (foi vítima de uma
descarga indireta), o agricultor perdeu a audição no ouvido direito e
parte do sentido no ouvido esquerdo. “Não sei o que vou fazer da minha
vida. Viver da roça, com a audição ruim, é complicado”, lamenta.
Cuidados Redobrados
Em 2019, as
mortes registradas pela Abracopel ocorreram nas cidades de Santa
Quitéria, Santana do Acaraú, Fortaleza e Pindoretama. Uma delas foi a da
atleta campeã de surf, Luzimara Souza, em uma praia da capital. O
acidente aconteceu em março do ano passado e, na ocasião, um outro
atleta chegou a sofrer queimaduras, mas sobreviveu.
O problema
reflete o cenário nacional. O Brasil saiu de 51 para 85 acidentes com
raios e de 38 para 50 mortes, de 2018 para 2019. Para o diretor
executivo da Abracopel, Edson Martinho, o conhecimento do fenômeno é
fundamental. “Saber os riscos faz com que você saiba se proteger. No
meio urbano, como existem muitos prédios, o ideal é procurar esse
abrigo. Já nas zonas rurais, a pessoa deve ficar de cócoras, o que reduz
a “tensão de passo”, mas nunca debaixo de árvore ou de locais que o
raio pode chegar”.
A tensão de
passo é a diferença de potencial presente entre as pernas do corpo
humano. Animais sofrem mais com essa tensão por terem os membros mais
distantes.
Edson
ressalta que, além da educação, é necessário que as edificações estejam
equipadas corretamente com instrumentos para evitar as descargas. “Os
prédios precisam estar equipados com para-raios para serem eficientes”,
acrescenta.
"A chance
de uma pessoa ser atingida e sobreviver é quase nula. O raio vem com uma
energia absurda. O que acontece muito são descargas próximas da pessoa,
que a gente chama de descargas indiretas”, finaliza.
Casos
Neste ano,
nos primeiros dois meses, os acidentes com mortes aconteceram nas
cidades de Jaguaruana e Crateús, ambos na área rural, e em Itarema e São
Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza.
9 de
janeiro: Um caminhoneiro morreu após ser atingido por descarga elétrica
no início da tarde, na localidade de Sítio Perereca, em Jaguaruana.
Segundo a Polícia, outras três pessoas também foram atingidas pelo raio.
15 de
janeiro: Um adolescente de 15 anos morreu vítima da descarga elétrica de
um raio em Crateús, no interior do Ceará. O caso aconteceu na
localidade de Alto.
10 de
fevereiro: Um agricultor, de 48 anos, perdeu a vida após ser atingido
por um raio enquanto almoçava, na zona rural de Itarema. O corpo foi
encontrado a alguns metros de uma cerca.
10 de
fevereiro: Um homem morreu após ter a casa destruída por um raio, em São
Gonçalo do Amarante, na Grande Fortaleza. A casa fica no Povoado
Bandeira, no Distrito de Siupé.
Raios
Segundo
dados do Sistema de Monitoramento e Alerta, da Enel Distribuição Ceará, o
Ceará registrou, apenas nos dois primeiros meses do ano, 89.900
descargas atmosféricas. O número é superior ao observado nos 12 meses de
2019, que somou 74.304 raios. O município mais atingido este ano foi
Santa Quitéria (4.070), seguido por Granja (3.599), Sobral (2.998),
Crateús (2.195) e Ipueiras (2.033).
Além disso,
fevereiro foi o mês com maior incidências nos últimos três anos. Foram
47.088 raios, com cerca de 64% registrados na área operacional Norte da
Enel. A empresa indica alguns cuidados a serem tomados a fim de diminuir
os acidentes:
Dentro de casa durante tempestade:
Evitar o uso do celular, secador de cabelo e ferro elétrico conectados à tomada;
Evitar uso de chuveiro ou torneira elétrica;
Evitar consertos de instalações elétricas;
Se possível, permanecer dentro de casa enquanto a tempestade durar.
Cuidados fora de casa durante tempestade:
Evitar contato com objetos metálicos, como cercas de arame, tubos metálicos e principalmente linhas telefônicas ou elétricas;
Evitar estar em locais como campos abertos, piscinas, lagos, praias, árvores isoladas, postes e locais elevados.
Com informações do G1 Ceará.