Apesar de
não integrar os grupos mais afetados pelo novo coronavírus, as crianças
podem se tornar potenciais transmissores da doença em meio à pandemia da
Covid-19. No Ceará, mesmo com aulas suspensas por 15 dias, desde o
último dia 19, quando o Governador do Estado, Camilo Santana, decretou
estado de emergência por coronavírus, o infectologista Roberto da Justa
considera que o período deve ser estendido. “A escola é lugar de
aglomerações. A volta [às aulas] só deve ser cogitada quando a curva de
incidência [da doença] apresentar estabilidade e tendência de declínio”,
analisa.
A
transmissão da doença é a mesma independentemente da faixa etária. Se dá
pelo ar, com tosse e espirros que podem adentrar os pulmões, além de
partir de superfícies inertes já contaminadas com gotículas
respiratórias, segundo o especialista. Conforme Justa, as crianças
infectadas pelo coronavírus são, geralmente, assintomáticas ou
apresentam queixas brandas, contudo, “elas fazem o papel de manutenção
da epidemia, ou seja, elas são infectadas, não apresentam sintomas e
passam a ser transmissoras da doença, pois tossem e espirram
naturalmente, sem cuidados maiores. É um perigo iminente, uma vez que,
se postas em aglomerações e estando em contato direto com os mais
velhos, como pais e avós, podem transmitir para este grupo de risco da
Covid-19”.
Diante do
cenário, a importância de manter o distanciamento social, para o
infectologista, é de suma importância. “As crianças passam a ter uma
relevância nesse sentido da transmissão.
Elas não
têm a noção de um adulto, apesar de explicá-las a importância de
higienizar as mãos, entre outros cuidados. Os avós também querem se
manter perto das criança, o que pode ser preocupante agora. O
distanciamento faz sentido e tem respaldo sanitário para o combate desse
novo vírus”, pontu Justa.
Volta às aulas
Mãe do
pequeno estudante Caio, de apenas 1 ano e 7 meses, Ana Cristina Ribeiro,
24, teme pelo fim da pausa nas aulas. “Dependendo do pico de
contaminação, eu considero necessário o prorrogamento da suspensão das
aulas sim. Na creche, no caso do meu filho, as crianças são bem pequenas
ainda, então se abraçam muito, trocam brinquedos e alimentos. Ali, uma
ou outra criança pode estar contaminada e não apresentar sintomas. É um
risco grande, pois moramos com pessoas mais velhas”, explica. Caso as
aulas voltem na próxima semana, Ana diz que não pretende levar o filho
para a aula. “Tudo vai depender de como vai estar essa contaminação”,
diz.
Para Ana,
todos deveriam se precaver ficando dentro de casa. “O Caio já é uma
criança que fica muitas vezes gripada e cansada. Isso me preocupa
bastante e em um cenário como esse agora, as coisas podem piorar caso
ele seja infectado na escola, volte pra casa e passe para o avô, que já
integra o grupo de risco pela idade e por ser fumante”, finaliza.