A menos de um mês para o início da pré-estação chuvosa no Ceará – que
vai de dezembro a janeiro – institutos de previsão climática indicam
que as precipitações no período não devem superar a média histórica
registrada no estado.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe) prevê
chuvas abaixo da média. Já o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)
aponta ocorrência de precipitações dentro da normalidade. A Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), por sua vez, não
apresenta prognóstico para o período.
A média histórica de precipitações para os meses de dezembro e
janeiro é reduzida, segundo a Funceme. O bimestre que inclui novembro e
dezembro tem média de 37.4 milímetros. O mês de janeiro, por sua vez,
tem volume médio em torno dos 98 milímetros. Considerando o trimestre –
novembro a janeiro – o esperado é de 136.1 milímetros.
O meteorologista da Funceme, Raul Fritz, esclarece que “os modelos
apresentam sensibilidade pequena para esse período, pois os sistemas
meteorológicos que atuam nesses meses (Vórtices Ciclônicos e Cavados)
são de previsibilidade de curto prazo”. Diante disso, segundo o
especialista, as previsões tendem a não serem tão assertivas.
Açudes secos e ansiedade de sertanejos
Apesar da ausência de garantias concretas, o período é aguardado com
ansiedade pelos sertanejos. O olhar antecipado sobre a pré-estação é
importante pois os reservatórios estratégicos e também os pequenos e
médios açudes que abastecem cidades estão secando no sertão cearense.
Nas cisternas a água igualmente se aproxima do fim.
Atualmente, conforme a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh), dos 155 açudes monitorados pelo órgão, 84 estão abaixo dos
30%, 23 estão no volume morto e outros 13 são considerados secos. Apenas
dois (Germinal e Jenipapo) possuem volume superior a 90%. O Castanhão,
maior açude do estado, está com apenas 3,64% do seu volume máximo.
“Quanto mais cedo a chuva vier e com intensidade será melhor para o
sertanejo”, observa o secretário de Agricultura de Iguatu, Edmilson
Rodrigues. Ele explica que só com chuvas consideráveis a situação de
criticidade pode mudar. “O lençol freático baixa nesse período do ano e a
chuva realimenta esse sistema, favorecendo o abastecimento por meio de
poços”, acrescentou.
Período de estiagem
A climatologista do Inpe Juliana Anochi reforça que o próximo
trimestre não é de significativas chuvas no Ceará. “É um período de
estiagem”, frisou. “Em janeiro, vamos nos reunir com a Funceme, Inmet e
analisar as condições climáticas e definir o primeiro prognóstico para a
quadra chuvosa de 2020”, disse.
A concordância entre o Inmet e o Inpe surge quando os Institutos
analisam a temperatura da água superficial que, segundo amos, é de
neutralidade no Oceano Pacífico Equatorial. Para os especialistas dos
dois órgãos, no próximo ano não deverá ter a atuação do fenômeno El
Niño, cujos efeitos são aumento das chuvas nas regiões Sul e em partes
do Sudeste e do Centro-Oeste.
A climatologista Juliana Anochi também afirmou que a formação de El
Niño foi desconfigurada. “Não é mais ativo, o quadro atual é de
neutralidade”.
Porém, devido as mudanças de temperatura da água no Oceano Atlântico
Sul Equatorial serem mais rápidas, só será possível uma análise mais
precisa nos próximos meses. “Só a partir do fim de dezembro ou início
janeiro teremos uma definição melhor”, pontua Morgana Almeida.
Para favorecer a quadra chuvosa no Ceará, o cenário ideal é a
ocorrência do que os meteorologistas chamam de dipolo do Atlântico, ou
seja, a parte Sul mais aquecida do que o Norte para atrair a Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT), que é uma larga banda de nuvens e o
principal sistema que traz precipitações entre fevereiro e maio para o
Ceará.