Um dos principais produtores e exportadores de mel do Brasil, o Ceará
viu a produção cair pela metade, após anos de estiagem. Em 2009, quando
registrou sua maior produção, o Estado produziu 4,7 mil toneladas, o
equivalente a 12% do volume total produzido no País. E em 2017, último
dado disponibilizado pelo IBGE, a produção estadual foi de 1,7 mil
tonelada, apenas 4% do volume nacional.
Já as exportações de mel caíram 65%, de 2009 até 2018. Entretanto,
com a quadra chuvosa favorável deste ano, o setor espera recuperar o
espaço perdido apostando, principalmente, no mercado interno.
“Neste ano, o setor teve uma produção muito boa, mas com a queda de
demanda no mercado externo, muitos produtores estão com mel estocado.
Então, agora, nós vamos trabalhar o mercado interno, incentivando o
consumo das famílias por meio de campanhas de marketing”, diz Vinicius
de Carvalho, presidente da Câmara Setorial do Mel (CS Mel), vinculada à
Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).
Diferente do que ocorria em anos anteriores, quando o Ceará exportava
cerca de 90% da produção, neste ano o Estado deverá vender apenas 50%
da produção para o mercado externo. Segundo Carvalho, em um ano
considerado bom, a produção cearense supera 4 mil toneladas. E neste
ano, deve ficar em torno de 2 mil toneladas. “Agora, estamos vendo uma
recuperação dos apiários e, consequentemente, da produção”, diz
Carvalho.
Potencial
Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará
(Faec), Flávio Saboya, o setor da apicultura no Ceará tem um grande
potencial a ser explorado, principalmente por não ter grandes áreas
plantadas com uso de defensivos agrícolas.
“Isso é um diferencial do Ceará”, diz. “Mas, na seca, os apicultores
perderam muitas colmeias. Ainda assim, se houver uma maior organização
do setor, podemos nos firmar como um grande exportador de mel, seja ele
produzido no Ceará ou em estados vizinhos. Tenho muita esperança no mel
nordestino”, completa.
De 2004 a 2014, o Ceará foi o principal exportador de mel do
Nordeste, ficando entre os três maiores do Brasil até 2012. Hoje, o
Estado figura na segunda colocação do Nordeste e na quinta do País. De
janeiro a setembro deste ano, o Ceará exportou 1,71 mil tonelada de mel,
volume 36,5% superior ao registrado em igual período de 2018. Mas,
apesar desse avanço, a queda da demanda impactou negativamente o preço
do mel no mercado internacional, e o valor exportado (US$ 3,9 milhões)
caiu cerca de 6,1%.
Neste ano, 67% das exportações cearenses seguiram para os Estados
Unidos. Ao todo, foram US$ 2,54 milhões referentes a 1,15 mil tonelada.
Em seguida aparecem Alemanha (US$ 780 mil), Bélgica (US$ 380 mil), Reino
Unido (US$ 110 mil) e Itália (US$ 40 mil).
Preço
Além da estiagem, a queda do preço do mel tem sido um dos grandes
entraves enfrentados pelo setor. Antes de 2016, o quilo do produto
chegou a ser vendido por R$ 12. Em 2017, o valor passou para R$ 9,50, e
em 2018 caiu para R$ 7. Neste ano, o quilo do mel é vendido por cerca de
R$ 5.
“O preço teve uma alta grande até 2016, mas como o mercado lá fora deu uma parada, boa parte da produção cearense acabou sendo vendida no Sul e Sudeste”, diz Carvalho.
Outro fator que acabou prejudicando os produtores locais, foi a
substituição do mel por “preparado de mel”, feito pela indústria de
alimentos, principal comprador de mel de abelha. “Como o preço do mel
estava muito alto, indústrias, como a de laticínios, buscaram uma
alternativa e o Ministério da Agricultura aprovou o uso de ‘preparado de
mel’, que é um pseudomel. Isso prejudicou muito os apicultores”, diz
Carvalho.
Em abril, o Governo do Estado anunciou um investimento de quase R$ 20 milhões no projeto “Rota do Mel”, que consiste na reestruturação da cadeia produtiva nas regiões do Sertão Central, Inhamuns e Crateús. Os recursos são aplicados na aquisição de equipamentos com o objetivo de que o Estado retome a posição de maior produtor do Nordeste, aumentando a participação nos mercados interno e externo. “O Governo vem incentivando muitos projetos, com investimentos inclusive do Banco Mundial. Estão trabalhando cada vez mais nas comunidades e, com isso, a apicultura cresceu muito aqui no Estado”, diz Carvalho.
Com a iniciativa, o Governo espera um incremento superior a 20% na
produção, com a entrega de 29 mil colmeias e uma média de 25 quilos de
mel para 50 colmeias. Considerando apenas as vendas para o mercado
interno, o Governo estima um acréscimo de mais de R$ 3,1 milhões já em
2020. Segundo o IBGE, em 2017, o Estado produziu 1,77 mil tonelada de
mel, ficando na terceira colocação do ranking nacional.
Histórico
Naquele ano, os municípios com maior produção de mel no Estado foram
Mombaça (200 toneladas), Alto Santo (130 toneladas) e Limoeiro do Norte
(80 toneladas). De acordo com a Federação Cearense de Apicultura
(Fecap), a apicultura gera cerca de 8 mil empregos de base familiar. A
região do semiárido se destaca, sobretudo, pela baixa contaminação de
pesticidas, já que a produção é proveniente de flores de vegetação
nativa.