No último sábado (1º), veio à público por meio de uma reportagem do site UOL que o jogador de futebol Neymar era acusado de estupro por uma mulher. De acordo com o boletim de ocorrência registrado por ela em São Paulo, ela teria ido a Paris encontrar o jogador no dia 15 de maio, e no mesmo dia teria sido estuprada pelo atleta, em um quarto de hotel.
De acordo com o boletim de ocorrência, o encontro teria começado bem, mas “em determinado momento, Neymar se tornou agressivo, e mediante violência, praticou relação sexual contra a vontade da vítima”.
No domingo (2), Neymar publicou um vídeo de sete minutos em suas
redes sociais, com o intuito de expor uma conversa que os dois tiveram
via WhatsApp e
provar que “o que aconteceu em um dia foi uma relação entre homem e
mulher dentro de quatro paredes, algo que acontece com todo casal, e no
dia seguinte não aconteceu nada demais”.
Não só ao tentar se defender da acusação do crime de estupro, o jogador pode ter cometido o crime de expor cenas de nudez – e já está sendo investigado por isso
– como também a conversa publicada por ele não prova absolutamente
nada, ao contrário do que o tribunal da internet parece acreditar.
Pouco menos de 24 horas depois, Neymar apagou de suas redes sociais o
tal vídeo que havia feito. Não sem, claro, ele ter sido visualizado
milhões de vezes e ter virado até meme – “motivo da minha libido” foi
piada até durante a transmissão da final da NBA no canal ESPN, e há registros da conversa circulando pela internet.
De fato, o diálogo entre os dois indica que havia um alto teor sexual
na relação. De ambos os lados, havia troca de provocações e flerte, e
promessas de que, quando eles se encontrassem, iriam ter, sim, relações
sexuais.
Fica registrado também que Neymar teria pago a viagem para que a
mulher fosse se encontrar com ele em Paris, e que ela, no dia seguinte
do relatado estupro, queria encontrá-lo de novo, o que não aconteceu.
Mas nada disso prova que ela não foi estuprada.
Simplesmente porque o consentimento durante o sexo
não pode ser dado previamente. Uma mulher pode ter seduzido um homem,
aceitado presentes, viajado para a cidade onde ele vive, e, quando se
encontraram, ele ter se tornado agressivo e ela não ter mais querido
fazer sexo com ele. E a partir do momento que ela não quer mais, que ela
diz que não quer mais, não importa o que aconteceu antes. Ela não pode
ser obrigada a fazer sexo.
Se alguém é obrigado a fazer sexo, mesmo não querendo, adivinhe só: é estupro.
E mesmo o fato dela ter entrado em contato com ele no dia seguinte,
ter querido se encontrar de novo, nada disso é prova de que ela não foi
estuprada. Ela pode, inclusive, ter entendido que o que aconteceu com
ela foi um estupro apenas dias depois do ocorrido – seja por estar em
choque, ou por estar envolvida com a situação ou por qualquer outro
motivo. E isso não minimiza o que teria acontecido.
As conversas vazadas por Neymar serviram apenas para expor a
intimidade dela (e dele, ok, mas Neymar se expôs por vontade própria –
ela não teve escolha), e não provam nem a inocência, nem a culpa dele.
Talvez por isso ele tenha escolhido tirar o vídeo do ar.
Embora o tribunal da internet goste de se apressar e tirar conclusões
baseadas em meia dúzia de evidências e preconceitos, a verdade é que
quem vai decidir se Neymar é culpado ou inocente das acusações que foram
feitas, é a polícia e a justiça. Vamos acompanhar.