Aliados de Michel Temer no Congresso
Nacional e ministros do Supremo Tribunal Federal afirmam que o governo
atingiu um nível extremo de enfraquecimento político, não descartando,
em caso de piora na situação, o risco de a gestão não conseguir se
sustentar nos sete meses que lhe restam.
A avaliação ouvida pela reportagem é a de que a crise com os
caminhoneiros atingiu um dos últimos resquícios de credibilidade da
administração, a área econômica.
Temer completou no último dia 12 dois anos de governo como o
presidente, na média, mais impopular desde pelo menos a gestão de José
Sarney (1985-1990).
Mas vinha batendo na tecla de que em sua administração a inflação foi
reduzida e o país saiu da recessão, embora em ritmo mais lento do que o
esperado.
Com a crise da greve dos caminhoneiros, o país passa por uma grave
situação de desabastecimento, cenário não detectado pelo governo apesar
de alertas nessa direção.
Emparedado, o Palácio do Planalto foi obrigado a ceder em vários
pontos, em uma demonstração do enfraquecimento político que vive, mas
mesmo assim não conseguiu até esta segunda-feira (28), oitavo dia da
crise, encerrar a paralisação.
"Não é o caminhoneiro, é o brasileiro que não admite a Presidência do
Temer. O PT insistiu na Dilma. Deu no deu", afirmou em nota o líder da
bancada do aliado DEM, o senador Ronaldo Caiado (GO).
"A greve dos caminhoneiros detonou a popularidade do Temer e do
governo, a população está revoltada. O governo tinha ainda certa
credibilidade na equipe econômica. Era um alicerce importante", afirma o
deputado Rogério Rosso (DF), do também aliado PSD.
Um dos principais correligionários de Temer na Câmara, o deputado
Beto Mansur (MDB-SP) afirma que todo o espectro político perde, não só
Temer. "Tivemos um problema na questão da inteligência do governo, de
não saber o tamanho da 'trolha', essa é minha opinião, mas tem que
procurar resolver. Esse é um processo perde-perde, ninguém ganha."
Nos bastidores do STF, a avaliação de ministros é a de que o governo
subestimou os caminhoneiros. No caso de o desabastecimento se agravar,
há, na visão desses magistrados, o risco de uma revolta de maior
proporção, com ameaça ao já cambaleante mandato de Temer.
Ainda de acordo com integrantes da corte, o emedebista e o seu
entorno estão longe de representar uma voz com força para dialogar com
diferentes grupos sociais.
Eles afirmam que em um momento como esse era preciso que Temer
procurasse institucionalmente os governadores e chefes de outros
poderes. Mas a interlocução do Palácio do Planalto com o STF tem sido
feita pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que já
conversou com quase todos os 11 magistrados, pessoalmente e por
telefone.
Na quinta-feira (24), ele se reuniu por cerca de uma hora com Gilmar
Mendes, em Brasília. Nesta segunda (28), o encontro foi com Alexandre de
Moraes.
No Congresso, Temer busca se reaproximar do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que é pré-candidato à sua sucessão.
Durante o fim de semana, quando tentava se desvencilhar da crise,
Temer chamou apenas o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE),
para conversar. Não procurou Maia.
Nesta segunda-feira (28), os deputados Baleia Rossi (MDB-SP) e
Pauderney Avelino (DEM-AM) costuraram uma conversa entre Temer e Maia,
que foi ao Palácio do Planalto no início da tarde.
A TEMPESTADE SOBRE O PRESIDENTE
- enfrenta uma greve de caminhoneiros sem precedentes;
- tem níveis recordes de impopularidade;
- não fez a economia deslanchar, e agora tem de lidar com a alta do dólar;
- perdeu a capacidade de aprovar reformas no Congresso;
- é investigado pela PF em razão de decreto no setor portuário.