segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Guerra entre facção local e Comando Vermelho é motivada pelo tráfico

Image-1-Artigo-2355902-1A carnificina registrada em 2017, no Ceará, quando mais de cinco mil pessoas foram executadas, foi impulsionada pela briga entre a facção local Guardiões do Estado (GDE) e a facção carioca Comando Vermelho (CV). A briga pelo domínio do tráfico é o maior motivador das mortes.

Descendente da 'Falange Vermelha', o CV foi criado na prisão Cândido Mendes, na Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, no ano de 1979, por Rogério Lemgruber, e ficou conhecida nacionalmente com o nome de Comando Vermelho Rogério Lemgruber (CVRL).

Em uma prisão que custodiava presos comuns e presos políticos, a facção foi ganhando força e nos anos 1980 já era a maior do País. Conseguiu instalar ramificações em vários Estados brasileiros, inclusive no Ceará. A organização criminosa foi comandada por bandidos como 'Fernandinho Beira-Mar', 'Marcinho VP', 'Mineiro da Cidade Alta', 'Elias Maluco' e 'Fabiano Atanázio'.

Image-0-Artigo-2355902-1 O Diário do Nordeste detalhou, na série de reportagens 'Sem fronteiras: Os caminhos do Crime Organizado', publicada nos dias 15, 16 e 17 de janeiro, a chegada da facção no Ceará.

O CV foi a primeira organização de grande porte a cometer ações orquestradas no Estado, quando, em 1986, atacou a loja King Joias, localizada no Centro de Fortaleza. Pouco tempo depois, um membro da organização, identificado como Francisco Siqueira, sequestrou e matou um corretor de imóveis, também na Capital cearense.

Nos anos 1990, o então líder da facção, 'Fernandinho Beira-Mar' esteve pessoalmente no Estado e o inseriu em uma próspera rota de tráfico internacional de entorpecentes, utilizada até hoje por grandes grupos criminosos. Com contatos diretos com narcotraficantes da Colômbia, Paraguai e Bolívia, 'Beira-Mar' viu no Ceará uma saída ideal para escoar cocaína para a Europa e para os Estados Unidos da América (EUA).

Durante a estruturação das rotas, ele alugou um imóvel no bairro Jardim das Oliveiras, onde permaneceu alguns meses, até que os negócios estivessem realmente consolidados.

Disputas

O acirramento entre as facções, gerado no ano de 2017, em nível nacional, promoveu uma reorganização entre os grupos criminosos. O Comando Vermelho, que antes conviva em harmonia com o Primeiro Comando da Capital (PCC) não deu continuidade às alianças firmadas há anos. No Ceará, a facção carioca se aproximou da organização manauara Família do Norte (FDN) e se tornou uma coadjuvante no domínio do tráfico local.

"A princípio o CV tinha muita gente no Ceará, porque não era exigente com a entrada de novos membros, como o PCC. Porém, a GDE foi criada e tomou membros e áreas dominadas pelo CV. Não se pode, de forma nenhuma, considerar o CV inexpressivo no Estado, mas ele não tem o mesmo poder de organização que o PCC, nem a mesmo poder de fogo da GDE", afirmou a fonte de um setor de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSDPS).