A carnificina registrada em 2017, no Ceará, quando mais de cinco mil
pessoas foram executadas, foi impulsionada pela briga entre a facção
local Guardiões do Estado (GDE) e a facção carioca Comando Vermelho
(CV). A briga pelo domínio do tráfico é o maior motivador das mortes.
Descendente da 'Falange Vermelha', o CV foi criado na prisão Cândido
Mendes, na Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, no ano de 1979,
por Rogério Lemgruber, e ficou conhecida nacionalmente com o nome de
Comando Vermelho Rogério Lemgruber (CVRL).
Em uma prisão que custodiava presos comuns e presos políticos, a facção
foi ganhando força e nos anos 1980 já era a maior do País. Conseguiu
instalar ramificações em vários Estados brasileiros, inclusive no Ceará.
A organização criminosa foi comandada por bandidos como 'Fernandinho
Beira-Mar', 'Marcinho VP', 'Mineiro da Cidade Alta', 'Elias Maluco' e
'Fabiano Atanázio'.
O Diário do Nordeste detalhou, na série de reportagens 'Sem fronteiras:
Os caminhos do Crime Organizado', publicada nos dias 15, 16 e 17 de
janeiro, a chegada da facção no Ceará.
O CV foi a primeira organização de grande porte a cometer ações
orquestradas no Estado, quando, em 1986, atacou a loja King Joias,
localizada no Centro de Fortaleza. Pouco tempo depois, um membro da
organização, identificado como Francisco Siqueira, sequestrou e matou um
corretor de imóveis, também na Capital cearense.
Nos anos 1990, o então líder da facção, 'Fernandinho Beira-Mar' esteve
pessoalmente no Estado e o inseriu em uma próspera rota de tráfico
internacional de entorpecentes, utilizada até hoje por grandes grupos
criminosos. Com contatos diretos com narcotraficantes da Colômbia,
Paraguai e Bolívia, 'Beira-Mar' viu no Ceará uma saída ideal para escoar
cocaína para a Europa e para os Estados Unidos da América (EUA).
Durante a estruturação das rotas, ele alugou um imóvel no bairro Jardim
das Oliveiras, onde permaneceu alguns meses, até que os negócios
estivessem realmente consolidados.
Disputas
O acirramento entre as facções, gerado no ano de 2017, em nível
nacional, promoveu uma reorganização entre os grupos criminosos. O
Comando Vermelho, que antes conviva em harmonia com o Primeiro Comando
da Capital (PCC) não deu continuidade às alianças firmadas há anos. No
Ceará, a facção carioca se aproximou da organização manauara Família do
Norte (FDN) e se tornou uma coadjuvante no domínio do tráfico local.
"A princípio o CV tinha muita gente no Ceará, porque não era exigente
com a entrada de novos membros, como o PCC. Porém, a GDE foi criada e
tomou membros e áreas dominadas pelo CV. Não se pode, de forma nenhuma,
considerar o CV inexpressivo no Estado, mas ele não tem o mesmo poder de
organização que o PCC, nem a mesmo poder de fogo da GDE", afirmou a
fonte de um setor de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública e
Defesa Social (SSDPS).