O governador Camilo Santana, do PT, e o presidente do Senado, Eunício
Oliveira (PMDB), estiveram juntos pela primeira vez em evento oficial,
na manhã de ontem, no Palácio da Abolição. Denominado "Juntos por
Fortaleza", o programa de desenvolvimento da Capital cearense também
serviu como uma espécie de termômetro da opinião pública para com a
reaproximação das duas lideranças políticas, que até pouco tempo eram
antagônicas. Eunício disputou o Governo do Estado contra Camilo.
Apesar de alguns petistas, inclusive a presidente nacional da sigla,
Gleisi Hoffmann, afirmarem, em Fortaleza, que não veem com bons olhos
uma possível aliança entre o chefe do Poder Executivo Estadual e o
parlamentar peemedebista, pelos comentários feitos por aliados de ambos
os lados, ontem, a parceria dos dois para 2018 está praticamente
fechada, como adiantou o Diário do Nordeste, no início de setembro deste
ano.
Eunício Oliveira foi o mais aclamado durante a solenidade, tanto pelo
governador quanto pelo prefeito Roberto Cláudio. Logo que chegou à sede
do Poder Executivo Estadual, o senador era aguardado por Camilo, o
prefeito e outras lideranças. Eles conversaram demoradamente no gabinete
do governador antes de descerem para o local do evento, onde já estavam
outros políticos a eles ligados.
Se juntaram a eles o presidente da Assembleia Legislativa, Zezinho
Albuquerque (PDT), e o senador José Pimentel (PT), último a chegar à
solenidade. Eles passaram aproximadamente uma hora na solenidade,
tratando da importância da programação do evento e de outros assuntos.
Logo após o encerramento do evento, voltaram a se reunir no gabinete de
Camilo.
Durante entrevista coletiva, Camilo Santana e Roberto Cláudio evitaram
comentar sobre questões eleitorais. No entanto, não faltaram elogios de
ambos os lados. Ao Diário, o prefeito disse que se comprometeu a não
falar de eleição neste ano. "Não quero contaminar o que realmente
interessa, que é o grande esforço e compromisso com a cidade de
Fortaleza. Eleição é para o próximo ano", enfatizou o pedetista.
Parceria
Camilo Santana também se desvencilhou das perguntas sobre política
eleitoral, e disse que focaria seus pronunciamentos apenas no que dizia
respeito ao evento em si. Embora todos venham mantendo um discurso de
que só tratarão de eleição no próximo ano, coube a Eunício Oliveira
fazer as considerações sobre uma eventual parceria partidária para o
próximo ano.
A última vez que PMDB e PT estiveram juntos no mesmo palanque, no
Ceará, foi em 2012, quando o partido apoiou a candidatura de Roberto
Cláudio para a Prefeitura de Fortaleza e indicou o vice-prefeito,
Gaudêncio Lucena, na chapa que se consagrou vitoriosa. Durante coletiva,
Eunício disse que o tratamento com o governador sempre foi cordial,
mesmo durante as duas disputas eleitorais de 2014 e 2016, quando
estiveram em lados opostos. Na primeira, Eunício foi o principal
adversário de Camilo. Na segunda, Camilo apoiou Roberto Cláudio e
Eunício votou em Capitão Wagner.
"Estivemos em uma disputa política local em 2014, e eu nunca, em nenhum
momento, desrespeitei a pessoa, o ser humano e o cidadão Camilo. A
recíproca é verdadeira, e eu nunca fui desrespeitado", declarou. De
acordo com ele, há uma convergência de ideias em prol do Estado do
Ceará. "Essa aliança não pode servir apenas para beneficiar ou reeleger A
ou B", disse.
Lula
O senador ressaltou ainda que sendo de interesse do povo cearense, a
parceria, que hoje é apenas administrativa, poderá evoluir para algo
mais consistente, como aliança político-partidária. Ele afirmou que não
vê qualquer impedimento nisso. "A relação com o governador e com o
prefeito tem sido respeitosa, assim como foi com o ex-governador Cid
Gomes. Sempre foi republicana, visando o interesse do Estado do Ceará".
Na semana passada, o senador Tasso Jereissati (PSDB), até pouco tempo
um dos principais aliados de Eunício Oliveira (formou com ele a chapa
majoritária de 2014 e estiveram juntos na disputa municipal de 2016),
disse que a sigla tucana não estará em mesmo palanque de quem apoiará
candidaturas petistas. Eunício Oliveira, porém, reiterou que votará,
sim, em Luiz Inácio Lula Silva, caso o PMDB não lance candidatura para o
Palácio do Planalto.
"Eu já disse que se meu partido não tiver candidato, se minha aliança
não me obrigar a ter uma posição divergente, vou votar no presidente
Lula". Questionado sobre as falas do tucano contra seu posicionamento,
Eunício apenas sorriu.
Recursos
Para evitar a conotação política do evento, a presença de Eunício era
justificada em razão da sua contribuição para permitir que o Governo
Federal liberasse recursos para algumas das obras que foram anunciadas
pelo governador Camilo e o prefeito Roberto Cláudio.
Mesmo antes do evento, em várias outras oportunidades, o governador e o
prefeito já haviam destacado a colaboração de Eunício para a liberação
de recursos e autorizações para que o Estado e a Prefeitura da Capital
tivessem condições de contratar empréstimos externos, emperrados desde
ainda o Governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Em seu pronunciamento, Eunício Oliveira chegou a mencionar que recursos
foram encaminhados para o Município de Barbalha, cujo prefeito não é
seu aliado e nem do Governo do Estado. A Prefeitura é administrada pelo
tucano Argemiro Sampaio Neto, que contou com o apoio do PMDB no pleito
do ano passado.
Muitas personalidades da política local estiveram prestigiando o
lançamento do projeto "Juntos por Fortaleza", como deputados federais,
inclusive o presidente do PDT, André Figueiredo, deputados estaduais e
vereadores. Dentre os vereadores estava o opositor tucano, Plácido
Filho, que serviu de motivo de brincadeiras, em alguns momentos, por
seus pares aliados do prefeito Roberto Cláudio.
Dos peemedebistas da Assembleia estavam Audic Mota e Leonardo Araújo,
este, até pouco tempo o mais crítico da gestão Camilo Santana. Danniel
Oliveira, sobrinho de Eunício, não compareceu. Ele foi um dos primeiros a
arrefecer seu modo de fazer oposição ao Governo. Walter Cavalcante,
apesar de estar no PP, disse a seus colegas que era "peemedebista de
corpo e alma".