Além de registrar o maior percentual de entrevistados que planejam deixar o cigarro nos próximos seis meses, o estudo revela que fumantes e não fumantes apoiam a criação de novas ações governamentais para o combate ao tabagismo. |
Os dados do
Projeto englobam informações relativas a 24 países. Entre os principais
motivos apontados pelos fumantes para deixar o hábito, estão a
preocupação com a própria saúde, com os danos que possam vir a causar em
outras pessoas pelo tabagismo passivo e com a possibilidade de dar mau
exemplo a crianças.
Para a
diretora-geral do Inca, Ana Cristina Pinho, os dados significam um
“pedido de socorro” por parte dos fumantes do país, que querem deixar o
vício mas não conseguem. “Os números mostram com muita clareza o que
significa a dependência física e psíquica de uma droga. O fumante tem a
consciência de que o tabaco é danoso à sua saúde, mas não consegue se
libertar da dependência”, afirma.
De acordo
com a pesquisa, os resultados relativos aos que planejam deixar o vício
nos próximos seis meses no Brasil indicam “um índice bastante elevado,
principalmente se comparado ao de países desenvolvidos com programas
estruturados de controle ao tabaco como Estados Unidos(índice de 37%),
França (34%), Inglaterra (33%) e Alemanha (apenas 10%)”.
A
secretária-executiva da Comissão Nacional para Implementação da
Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CONICQ), Tânia Cavalcante,
destaca que a mudança de visão da sociedade brasileira em relação ao
cigarro é fruto do trabalho de diversos atores ao longo dos anos. “Essa
mudança na postura em relação ao hábito de fumar, que era bem visto e
amplamente estimulado no Brasil entre as décadas de 70 a 90, é fruto de
um longo trabalho desenvolvido pelo Inca e pelo Ministério da Saúde, em
parceria com secretarias de saúde e a sociedade civil", aponta.
Proibição e regulamentação
Outra
constatação da pesquisa é a de que existe um forte apoio para a
proibição total da comercialização dos produtos de tabaco. O Projeto ITC
perguntou a todos os 1.358 entrevistados, entre setembro de 2016 e
março de 2017, se eles apoiam ou se opõem a uma proibição total de
produtos de tabaco nos próximos 10 anos, caso o governo forneça
tratamento para ajudar fumantes a deixarem o vício. Os resultados
mostram que 68% dos fumantes e 77%dos não fumantes pesquisados “apoiam”
ou “apoiam fortemente” essa proibição.
Vera Luiza
da Costa e Silva, chefe do secretariado da Convenção do Controle de
Tabaco da Organização Mundial de Saúde (OMS), ressaltou durante o
congresso que a proibição do tabaco não está em pauta.
“Os dados
do ITC não propõem essa proibição, eles simplesmente utilizam este
indicador comomedida da não aceitação social do produto por parte do
fumante e do não fumante. E quando você vê que uma parte grande da
população acha até que proibir seria uma solução, é porque a situação
está chegando a um ponto em que o produto não está sendo bem aceito”,
disse.
Para ela,
os resultados da pesquisa são um estímulo para discutir como avançar na
regulamentação do uso de outras substâncias, como o álcool e alguns
produtos alimentícios. "[Pensar] em como se avançar dentro da mesma
lógica de regulamentar. Não é proibir, é regulamentar. E ter um olhar,
dentro desta regulamentação, voltado principalmente para os adolescentes
e para a população de baixa renda”, disse.
A
importância da regulamentação também foi defendida pela diretora-geral
do Inca, Ana Cristina Pinho. Para ela, ao contrário das drogas ilícitas,
o que se pretende, no caso do cigarro, é reduzir o consumo via
estrangulamento do acesso ao produto.
“É o caso
de dificultar o consumo via estrangulamento, dificultando o início do
hábito, daí a importância de uma política educativa tendo como meta
dificultar o vício do hábito de fumar: e aí o público-alvo é a criança e
o adolescente, porque 90% dos fumantes adquirem o hábito nesta fase da
vida”, destaca.
No
entendimento de Ana Cristina, “é necessário primeiro desmistificar,
tirar o glamour do hábito pelo tabaco". Esse trabalho passa por medidas
relacionadas à indústria tabagista, como a padronização das embalagens e
a questão dos aditivos que adicionam sabores aos cigarros. No entanto,
ações desse tipo envolvem a formulação de legislação específica.
“Já existem
muitos projetos que contemplam algumas dessas medidas, mas o lobby no
Congresso Nacional é muito forte por conta de parlamentares ligados
diretamente à indústria tabagista. E eles [projetos] estão lá parados e
são de difícil aprovação. Mas é um desafio que precisa ser encardo
porque o custo para o país é muito alto”, argumenta.