BRASÍLIA
(Reuters) - Ele tem fama de ser antigay, é defensor do direito de posse
de armas e diz que a China está ocupando o Brasil.
O
deputado de direita Jair Bolsonaro não tem partido, mas está em segundo
lugar nas pesquisas de intenção de voto um ano antes das eleições e
espera replicar a ascensão inesperada de Donald Trump à Presidência dos
Estados Unidos com o apoio dos brasileiros fartos de políticos corruptos
e governos ruins.
"Atacaram
Trump com os mesmos temas com que eu sou atacado no Brasil: de facista,
homofóbico, racista, nazista. Mas Trump fez um programa de governo dele
em que a população acreditou", disse Bolsonaro em uma entrevista esta
semana.
Ex-paraquedista
do Exército, Bolsonaro vem revoltando compatriotas devido aos seus
comentários misóginos e ao seu apoio à ditadura militar, inclusive ao
uso que fizeram da tortura. O deputado, que exerce o sétimo mandato,
está emergindo como um candidato da lei e da ordem e anticorrupção para a
eleição de outubro de 2018, em meio a um surto de crimes violentos e ao
pior escândalo de corrupção da história do Brasil, que está implicando
grande parte da classe política, incluindo o presidente Michel Temer.
No
desacreditado sistema político do país, o apelo que Bolsonaro tem junto
a muitos brasileiros é seu histórico impecável --nem uma única acusação
de corrupção pesa contra ele.
Duas
semanas atrás, um oficial de alta patente do Exército, o general
Antonio Mourão, alertou que os militares poderiam tomar o poder
novamente se os tribunais não punirem políticos corruptos.
"Ouvi
na fala dele que a corrupção tem que ser estancada no Brasil, que
continuar como está o jogo de compadres com pouca gente sendo punida, o
Brasil perderá seu rumo e perdendo seu rumo alguma coisa terá que ser
feita", disse Bolsonaro.
"Ele
deu um alerta. Ninguém quer assumir o governo dessa forma. Mas pode até
assumir em 2019 um militar, mas via eleições", acrescentou o deputado
com um sorriso.
Bolsonaro,
de 62 anos, rompeu com o Partido Social Cristão (PSC) porque este não
endossou suas ambições presidenciais e está no processo de se unir a uma
legenda menor com somente três cadeiras no Congresso --rebatizada para
ele, muito a propósito, como Patriotas.
Sem
uma máquina partidária e lutando com a repercussão ruim na imprensa
--"sou o deputado mais atacado pela mídia brasileira"--, Bolsonaro conta
com as redes sociais para levar sua mensagem aos eleitores.
Sua
página de Facebook tem mais seguidores do que a de qualquer outro
político brasileiro --4,5 milhões, mais do que os 3 milhões do líder
mais popular da nação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e duas
vezes mais do que sua adversária mais próxima, a ambientalista Marina
Silva.
Uma
pesquisa Datafolha de junho mostrou que 30 por cento dos brasileiros
votariam em Lula, que foi condenado por corrupção e pode não concorrer
novamente, contra 16 por cento de Bolsonaro e 15 por cento de Marina,
que já perdeu duas disputas presidenciais.
Analistas
políticos alertam que o apelo de Bolsonaro deve recuar à medida que
seus oponentes explorarem seus pronunciamentos antigays, antifeministas,
xenófobos e pró-ditadura. A taxa de rejeição que mostra os que jamais
votariam no ex-militar é de 30 por cento, inferior apenas à de Lula (46
por cento) e do governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin (34 por
cento).
Bolsonaro
foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por ofensas à
deputada Maria do Rosário (PT-RS) a quem disse que não estupraria
"porque ela é muito feia".
POLÍTICAS
A
fama antigay de Bolsonaro derivou de seus ataques a um programa de
educação sexual para escolas que, segundo ele, incentivava a
homossexualidade. Ele parece ter suavizado sua posição agora que está de
olho na Presidência, e disse à Reuters que a política não tem lugar no
quarto de dormir e que aquilo que adultos fazem entre os lençóis é um
assunto particular.
Mas
ele não cede em outras plataformas políticas, como defender a
amenização das leis de controle de armas para que qualquer brasileiro
possa comprá-las. Projetos de lei pró-armas que ele patrocinou devem
ganhar apoio no Congresso mais conservador que será eleito em 2018,
disse.
As
opiniões econômicas de Bolsonaro são menos claras. Embora seja
ostensivamente pró-mercado e prometa levar adiante os esforços para
diminuir a burocracia e o tamanho do Estado, ele não privatizaria
empresas que considera estratégicas, como a estatal Petrobras, uma
política de desenvolvimento nacional que foi seguida pelo regime militar
de 1964-1985.
Se
eleito, a prioridade de Bolsonaro na política externa seria fortalecer
os laços com Washington, especialmente agora que Trump está na Casa
Branca, afirmou, e fazer dos EUA o principal parceiro comercial do
Brasil, uma posição que a China ocupa desde 2009.
"A
China está tomando conta do Brasil. É um fator preocupante. Estão
investindo em subsolo, agricultura, energia, portos e aeroportos", disse
Bolsonaro. Ele privilegiaria uma política para limitar a compra de
empresas brasileiras por parte de investidores chineses.
Bolsonaro
se ergueu para trocar cumprimentos ao final da entrevista diante dos
retratos dos cinco presidentes militares pendurados em seu gabinete.
Do
lado de fora, pessoas faziam fila para tirar selfies com ele. Gritavam
"mito, mito, mito!" "Quero uma foto com ele. É o único político que não
roubou", disse Marcos, estudante de 18 anos de Goiás.