sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A importância da Educação Física na Escola

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 62,1% dos brasileiros com 15 anos ou mais não praticaram qualquer esporte ou atividade física em 2015. O levantamento ainda mostrou que 57,3% das pessoas entre 15 e 17 anos que não praticaram esporte, não o fizeram porque não gostavam ou não queriam. De acordo com os especialistas, esse quadro se deve à falta de hábito durante a infância, fase decisiva para que as crianças façam atividades físicas, e o corpo se acostume e sinta falta de estar em movimento ao longo da vida.

São dados como esses que comprovam a importância da obrigatoriedade curricular da Educação Física Escolar na Educação Básica que, tanto quanto os outros componentes curriculares, contribui de forma decisiva na formação do educando, agregando uma finalidade a mais, que é a prevenção e manutenção da saúde e melhoria da qualidade de vida através de um estilo de vida fisicamente ativo.

Essa opinião é compartilhada pela professora Aldeisa Gadelha, Presidente da Comissão de Educação Física Escolar do Conselho Regional de Educação Física – 5.ª Região (CREF5-CE); pelo professor Heraldo Simões, membro da Comissão, e pelo Conselheiro Federal Ricardo Catunda, Presidente da Comissão de Educação Física Escolar do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF). Nesta entrevista, eles detalham a respeito da importância da Educação Física na escola e seus benefícios para o indivíduo.

A Educação Física escolar contribui para geração de adultos que sejam mais saudáveis?
  ALDEISA GADELHA: A Educação Física, como componente curricular obrigatório da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), deve contribuir, e por que não dizer, “interferir” para que as pessoas adotem um estilo de vida fisicamente ativo, pois a orientação por professores qualificados e capacitados fará a diferença na vida dessas pessoas, evitando o sedentarismo e, consequentemente, o surgimento de doenças, como hipertensão, diabetes e obesidade. Elas poderiam ser evitadas, como também o controle da agressividade.

De que forma os profissionais de Educação Física podem motivar os alunos?

HERALDO SIMÕES FERREIRA
: Primeiramente, o professor precisa se motivar. Entender que a Educação Física é de extrema necessidade e importância na escola. Entendendo isso, pode motivar os alunos por meio de aulas diversificadas, interessantes e planejadas. O planejamento para as aulas de Educação Física deve respeitar o contexto social dos alunos, a complexidade dos conteúdos, a inclusão e o nível de desenvolvimento e crescimento motor e cognitivo dos alunos.

Qual é a relevância da orientação profissional e correta da atividade física na idade escolar?

ALDEISA GADELHA
: Uma boa orientação induz a uma prática prazerosa e consciente. Sem uma orientação adequada na Educação Infantil (0 a 5 anos de idade) até o 5º. ano do Ensino Fundamental, quando os alunos estão entre 6 a 10 anos de idade, a aprendizagem necessária e adequada não acontece, e, aos invés de incentivar esses alunos para um estilo de vida fisicamente ativo pela utilização de atividades atrativas e adequadas a cada nível de ensino, simplesmente os afastam das atividades físicas, além de não ministrar os conhecimentos necessários para continuar aprendendo.

A Educação Física na escola se resume a correr, brincar, jogar bola, fazer ginástica?

HERALDO SIMÕES FERREIRA
: Os conteúdos da Educação Física na escola incluem os esportes, no caso, aqueles praticados com bola também estão inseridos. Todavia, os conteúdos, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento de orientação do MEC, envolvem, ainda, as lutas, as atividades rítmicas e expressivas, a ginástica, os jogos e as brincadeiras e, por fim, o conhecimento do corpo. Tais conteúdos deveriam ser ministrados nas escolas, nas aulas de Educação Física. Antigamente, era, de fato, muito comum a prática de apenas ‘jogar bola’, ‘carimba’ ou ‘bandeira’ nas aulas. Hoje, isso tem mudado. A formação do professor de Educação Física na atualidade é baseada na diversificação dos conteúdos. A Educação Física não se resume à busca do desenvolvimento físico, apenas. Colabora para o desenvolvimento integral do aluno, ou seja: motor, cognitivo e afetivo.

"Primeiramente, o professor precisa se motivar. Entender que a Educação Física é de extrema necessidade e importância na escola. Entendendo isso, pode motivar os alunos por meio de aulas diversificadas, interessantes e planejadas." Heraldo Simões Ferreira, membro da Comissão de Educação Física Escolar do CREF5-CE.

A disciplina de Educação Física é vista por alguns alunos e pais como prática recreativa, uma forma de quebrar o tempo do ensino intelectual. Como mudar essa imagem?
  RICARDO CATUNDA: Acredito que a forma lúdica com que se desenvolvem as aulas, pelo olhar do senso comum, possa confundi-la com recreação. Esse aspecto é um diferencial positivo para a motivação dos alunos, e potencializaçao do ensino, haja vista ser o clima da aula fator determinante para o aprendizado. Romper com essa desinformação requer a utilização de diretrizes de qualidade para o ensino da Educação Física. Como qualquer outro componente curricular, a Educação Física dispõe de um rol de conteúdos em progressão, tendo como objetivo capacitar e promover o desenvolvimento físico e psicológico equilibrado em crianças e adolescentes. Devemos deixar claro que estudos comprovam a importância da atividade física para o desempenho intelectual, ou seja, quanto mais ativa for a aula, maior capacidade de aprendizagem dos alunos. Assim, importa que pais e estudantes valorizem a Educação Física, pois sua prática contribui dentro de um processo global de educação, para que os aprendizes tenham disponibilidade e desejo individual para assumir “responsabilidades com seu desenvolvimento pessoal, com o meio ambiente e com a sociedade em que se integra”.

A obesidade infantil tem crescido muito no Brasil nas últimas duas décadas. Como a Educação Física na escola pode contribuir para essa mudança?

RICARDO CATUNDA
: Existe consenso na comunidade acadêmica e organismos internacionais (por exemplo, OMS e UNESCO) de que a escola é espaço privilegiado para ações pedagógicas de educação e promoção da saúde e para as políticas públicas de combate à obesidade infantil. Os comportamentos sedentários, atividades passivas de lazer, falta de alimentação balanceada e condicionantes sociais contribuem para um cenário que requer urgente tomada de decisão de pais, professores, gestores escolares e da classe política (criação de lei que garanta a presença do professor licenciado em Educação Física em todos os níveis de ensino, inclusive Educação Infantil). A contribuição da Educação Física passa por decisões didáticas responsáveis na aplicação dos conteúdos, para o desenvolvimento de conhecimentos, capacidades e habilidades, que capacitam as crianças a exercerem uma cidadania ativa. Isso se concretiza, quando as crianças aprendem as atividades físicas por intermédio dos jogos, esporte, atividades rítmicas, lutas, dentre outros, e conseguem permanecer ativas em seu cotidiano, quer seja nos momentos de lazer ou aderindo à prática esportiva sistematizada.

"Quando as crianças aprendem as atividades físicas por intermédio dos jogos, esporte, atividades rítmicas, lutas, dentre outros e conseguem permanecer ativas em seu cotidiano, quer seja nos momentos de lazer ou aderindo à prática esportiva sistematizada." Ricardo Catunda, Conselheiro Federal.