Por Thaís Sabino (@thaissabino)
O baixo salário mínimo no Brasil em relação ao custo
de vida no país não é novidade. Segundo o Dieese, enquanto a remuneração
base é de R$ 937, o valor necessário para cobrir a Cesta Básica de
Alimentos em abril de 2017 foi de R$ 3.899,66. A diferença é gritante,
porém já esteve pior: na década de 1990, o mínimo chegou a representar
10% da renda suficiente. O aumento está constantemente em discussão, mas
o que aconteceria com o país caso esse valor saltasse para R$ 5 mil?
O salário mínimo indica o poder de compra da
população, “quanto mais alto, mais desenvolvido é o país, melhor a
qualidade de vida e distribuição de renda”, afirmou o economista e
professor da PUC, Claudemir Galvani. A Austrália está na lista dos
melhores países para se viver e tem a base de remuneração de AUD
2.696,20 (R$ 6.259), uma das mais altas do mundo. Como ferramenta de
combate à pobreza, é importante que o salário mínimo seja elevado até
chegar a um patamar, depois ele passa a depender da produtividade.
“Economia que não cresce, se aumenta o salário mínimo, aumenta o custo
de vida” afirmou Galvani.
O reajuste do valor do salário mínimo para R$ 5 mil,
considerando a condição atual da economia brasileira, causaria “um
grande aumento do desemprego e da informalidade”, avaliou Gustavo Grisa,
economista especialista do Instituto Millenium. “Há toda uma indexação
da Previdência Social e de outros benefícios que tornaria essa prática
impossível. Teríamos que ter uma economia quatro ou cinco vezes mais
produtiva” acrescentou Grisa. Outra consequência é a perda da
competitividade dos produtos nacionais em relação aos importados, citou
Galvani.
No Brasil, cerca de 50% dos trabalhadores
recebem até um salário mínimo, segundo o economista. O reajuste do piso
salarial nacional é feito com base na inflação e aumento do PIB dos dois
anos anteriores, o que para Galvani é o sustentável já que o país vive
um momento de crise. “Não significa que o ano anterior foi bom, mas se
mantém o poder de compra. Se o salário mínimo comprava cinco sacos de
arroz há dois anos, continua comprando cinco sacos de arroz”, explicou.
A controvérsia do aumento
“Um salto para R$ 5 mil é uma utopia. Mas
aumenta o mínimo, aumenta o custo de vida não é uma ciência exata,”
afirmou o professor do departamento de Ciências Contábeis da UNB,
Roberto Bocaccio. Sempre que se fala em reajuste do mínimo, continuou o
professor, existe essa “choradeira”, principalmente da classe média.
“Pessoas dizem que vão dispensar a empregada (…) que empresas vão
quebrar, etc”, disse Bocaccio. “Mas o aumento do mínimo tem efeito
benéfico também. Quem ganha nessa faixa gasta tudo em consumo, ou seja, o
valor é injetado na economia e estimula a produção de certos setores”
explicou.
De acordo com o professor, porém, o aumento
precisa acompanhar o crescimento do país. “A política atual de
valorização do mínimo é sustentável. Poderia refinar um pouco trocando o
aumento do PIB pelo aumento da produtividade, mas está muito melhor do
que a regra de décadas atrás”, considerou Bocaccio. A expectativa de
alcançar um balanço na relação remuneração e custo de vida, “na melhor
das hipóteses”, é para cerca de 30 ou 40 anos, na opinião de Grisa.
“Produtividade depende muito de condições regulatórias, infraestrutura e
grau de educação dos trabalhadores”, concluiu.