A Polícia Federal
deflagrou nesta terça (23) a Operação Panatenaico, com mandados de
prisão temporária contra Tadeu Filippelli (PMDB), assessor especial da
Presidência da República, e os ex-governadores do Distrito Federal José
Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT). Os mandados foram expedidos
por decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de
Brasília.
A reportagem apurou que outro alvo da operação é
Maruska Lima de Souza Holanda, ex-presidente da Terracap (Agência de
Desenvolvimento do Distrito Federal). A Terracap é uma empresa pública
controlada pelo governo do DF. Em abril, o Ministério Público do DF
afirmou que a obra do estádio Mané Garrincha gerou um rombo de R$ 1,3
bilhão nas contas da Terracap.
A operação também cumpre prisão das pessoas apontadas
como "operadores" dos políticos investigados: Afrânio Roberto de Souza
Filho, que atuaria para Filippelli, Sérgio Lucio Andrade (suposto
"operador" de Arruda) e Jorge Luiz Salomão (de Agnelo).
O ex-chefe de gabinete do governador e homem forte do
governo Agnelo Queiroz, Cláudio Monteiro também tem contra si um
mandado de prisão expedido pela Justiça Federal. Ele foi o responsável
pelo acompanhamento das obras do estádio no cargo de secretário especial
da Copa no DF.
José Roberto Arruda (PR) foi o primeiro a chegar na
Polícia Federal do DF, por volta das 8h51. Os demais suspeitos estão a
caminho da sede da PF.
Filippelli foi vice-governador na gestão de Agnelo e é
presidente do diretório do PMDB no DF. Procurada na manhã desta terça
(23), a assessoria de Filippelli não atendeu às chamadas da reportagem. A
defesa do ex-governador Agnelo Queiroz afirmou que as buscas na casa do
político estão em curso e que ele se manifestará somente após ter
acesso aos autos. A reportagem tenta contato com os demais suspeitos.
Arruda foi governador do DF de 2007 a 2010,
quando caiu após o escândalo chamado "Caixa de Pandora", que envolveu um
esquema de desvio de recursos da administração local. Na época, Arruda,
então no DEM, chegou a ficar dois meses preso. Naquele mesmo ano,
Agnelo foi eleito governador pelo PT, com Filippelli no cargo de vice.
DESVIO DE RECURSOS
Segundo a PF, o objetivo da ação é investigar
uma suposta organização criminosa que fraudou e desviou recursos das
obras de reforma do estádio Mané Garrincha para Copa do Mundo de 2014.
"Orçada em cerca de R$ 600 milhões, as obras
no estádio, que é presença marcante na paisagem da cidade, custaram ao
fim, em 2014, R$ 1,575 Bilhão. O superfaturamento, portanto, pode ter
chegado a quase R$ 900 milhões", diz a Polícia Federal.
As informações estão no acordo de delação
premiada que a Andrade Gutierrez fez com investigadores da Lava Jato. A
reportagem apurou que os dados da delação relativos à obra do estádio
foram enviados à Justiça Federal por ordem do ministro Teori Zavascki,
morto em acidente aéreo em janeiro e na época relator dos casos da
Operação Lava Jato no STF.
O delator que mais colaborou para a Operação
Panatenaico foi Rodrigo Leite Vieira, gerente comercial da Andrade
Gutierrez e também investigado em outros processos em Goiás por supostas
fraudes na construção da ferrovia Norte e Sul.
Clovis Renato Numa Peixoto Primo, também
delator da Andrade Gutierrez, relatou em seu acordo que Filippelli
cobrou propina nas obras do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Na
época da construção da arena para a Copa de 2014, Filippelli era vice de
Agnelo Queiroz (PT).
A hipótese investigada pela PF é que agentes
públicos, com a intermediação de operadores, tenham realizado conluios e
simulado procedimentos previstos em edital de licitação.
"A renovação do estádio Mané Garrincha, ao
contrário dos demais estádios da Copa do Mundo financiados com dinheiro
público, não recebeu empréstimos do BNDES, mas sim da Terracap, mesmo
que a estatal não tivesse este tipo de operação financeira prevista no
rol de suas atividades", afirma a nota da PF.
A arena Mané Garrincha foi a mais cara da Copa de 2014.
O nome Panatenaico é uma referência ao
Stadium Panatenaico, sede de competições realizadas na Grécia Antiga que
foram anteriores aos Jogos Olímpicos.
Foram expedidos 15 mandados de busca e
apreensão, dez de prisão temporária e três conduções coercitivas para
ser cumpridas em Brasília e seus arredores.
TEMER
Filippelli integrava um grupo de cinco
assessores especiais escolhidos por Temer, no início de seu governo,
para despachar em uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a
poucos metros do gabinete presidencial. Além dele, eram conselheiros
próximos do presidente Rodrigo Rocha Loures, José Yunes, Sandro Mabel e
Gastão Vieira.
Desses cinco assessores, quatro foram citados
em investigações de corrupção. Rocha Loures foi flagrado recebendo uma
mala com R$ 500 mil enviada pela JBS, depois que havia deixado o
Planalto para assumir o mandato de deputado. Yunes pediu demissão em
dezembro, quando um ex-executivo da Odebrecht disse que ele recebeu em
seu escritório dinheiro pedido pelo ministro da Casa Civil, Eliseu
Padilha. Mabel foi acusado por outro delator de ter pedido dinheiro para
aprovar uma emenda a uma medida provisória em 2004.
Destes,
restam no gabinete apenas Mabel, que auxilia Temer na interlocução com
parlamentares e empresários, e Gastão Vieira, que é conselheiro jurídico
do presidente