quinta-feira, 23 de março de 2017

'Mocidade vai em busca do que é seu por direito', diz vice-presidente da escola

Tomando o cuidado de preservar a Portela, que ressalta "não ter culpa de nada", a diretoria da Mocidade Independente de Padre Miguel confirmou que apelou a um recurso administrativo da Liesa para que o título de 2017 seja dividido entre as duas escolas.

O vice-presidente administrativo, Luiz Cláudio Ribeiro, abriu a entrevista coletiva no barracão da escola, na Cidade do Samba, lendo uma nota na qual atribui a perda do campeonato a um erro "administrativo e de comunicação interna" da Liesa. 

"Após enviarmos as alterações, a Liesa optou por imprimir um novo livro abre alas, em vez de fazer as erratas que eram grampeadas aos livros velhos. O jurado optou por não usar a nova versão do livro, alegando já ter feito anotações na primeira versão. Faltou uma orientação mais firme para que ele adotasse o livro atualizado". 

Marcos Marino, diretor de carnaval, citou o artigo 27 do regulamento, que fixava 10 de janeiro como prazo máximo para envio das informações sobre enredo à Liesa. A partir daí, há um prazo para possíveis correções, até dois dias antes do desfile. 

"Em 2 de fevereiro, a Mocidade informou sobre mudanças, inclusive a extinção do cargo de destaque de chão. A Mocidade cumpriu o regulamento e não pode ser prejudicado pela perda desse título", afirmou Marino, ressaltando que o segundo dia do curso para os julgadores ocorreu em 7 de fevereiro, cinco dias após a entrega das erratas sobre o enredo à Liesa. 

Valeria stelete, advogada da escola, explicou que a Mocidade entrou com recurso administrativo na Liesa pedindo divisão do título e da premiação. A escola recorrerá até a plenária da entidade, se o recurso for rejeitado, mas descarta apelar à Justiça comum - o que é proibido pelo estatuto da Liga.
A advogada informou também que o regulamento proíbe a divulgação de documentos considerados sigilosos, que é o caso dos emails que relatam as correções feitas no livro abre-alas. 

Valeria, Marcos e Luiz Cláudio fizeram questão de ressaltar que o recurso não é contra a Portela, que não tem culpa de nada do que aconteceu, por isso a orientação da direção da escola para que o título seja dividido.

Entenda o caso

Por um décimo, a Mocidade deixou de levantar a taça de campeã do Carnaval 2017, no Rio, que ficou nas mãos da Portela. E o décimo em questão se deu por equívoco do julgador Valmir Aleixo, que avaliou o quesito enredo: ele se baseou na versão antiga do livro Abre-alas e tirou ponto da Mocidade, alegando que ela não apresentou um destaque de chão que, na versão atualizada não iria mais se apresentar. 

Na segunda-feira (20), após a divulgação das justificativas das notas dos jurados, a escola de Padre Miguel lamentou o equívoco e disse que vai cobrar uma melhor preparação técnica dos julgadores. Apesar do descontentamento com a justificativa da nota, cumprimenta a Portela pelo “belíssimo desfile e o merecido título conquistado”. 

“O que questionamos nesta nota é o despreparo apresentado pelo julgador em questão para cumprir tão importante função. É inadmissível que o sonho de uma comunidade seja jogado fora por um erro tão crasso. Criar algo que em nenhum momento esteve no livro Abre-alas’ e em cima disso nos penalizar, soa estranho e sem explicação. A Mocidade se posiciona em busca de mais preparação técnica e responsabilidade para todos os julgadores. Cobraremos isso! Meses de investimento, trabalho pesado, e a dedicação de milhares de componentes não podem ser prejudicados desta maneira”, dizia a nota que conclama a comunidade a continuar acreditando na escola para buscar o campeonato em 2018. 

Também em nota, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) explicou que em 11 de janeiro a Mocidade enviou uma versão do livro Abre-alas na qual cita a presença da destaque Camila Silva, descrevendo sua fantasia como “O esplendor dos sete mares”, para os julgadores estudarem as escolas. A Liesa diz ainda que em 31 de janeiro, data da realização do curso de julgadores para o quesito enredo, os julgadores receberam uma versão impressa em preto e branco, bem como a digital colorida, para poder nortear e iniciar seu trabalho de pesquisa visando o julgamento a ser realizado por ocasião dos desfiles, conforme vem ocorrendo todos os anos. 

Mas, de acordo com a Liesa, só após a distribuição da segunda versão do Abre-alas, a Mocidade alterou o roteiro enviado inicialmente, informando que Camila Silva seria rainha de bateria, com o figurino “Dona das Areias, Iemanjá”. 

A Liesa diz que pode ter havido uma falha de comunicação, na qual o julgador tenha considerado informações do livro inicial e não do impresso entregue aos jurados no dia do desfile.