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04.03.2017
por
Yohanna Pinheiro - Repórter
Depois de enfrentar cinco anos de seca, o setor agropecuário ganha
certo fôlego com as chuvas que banharam o território cearense nos dois
primeiros meses deste ano e com a previsão de uma quadra chuvosa dentro
da média histórica para o Estado. A expectativa para os próximos meses é
de safras mais expressivas, especialmente de grãos, e de crescimento da
pastagem nativa para alimentar os rebanhos do Semiárido.
O prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme) para os meses de março, abril e maio aponta que a quadra
chuvosa tem 43% de chance de ter precipitações dentro da média
histórica, com a probabilidade de 20% de ser acima da média e de 37% de
ser abaixo. Ainda existe, porém, a preocupação de que as chuvas não
sejam suficientes para fazer a recarga dos açudes e reservatórios do
Estado.
Perspectivas
As perspectivas para este ano são bem melhores que as dos últimos
cinco, destaca Regina Feitosa, coordenadora do Grupo de Coordenação de
Estatísticas Agropecuárias do Ceará (GCEA), do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Ela afirma que os produtores estão
animados e que algumas áreas de produção de milho e feijão no Estado já
foram ampliadas. "Se as chuvas continuarem como estão, podemos ter uma
safra ainda maior que a prevista", pontua.
Safra pode dobrar
O impacto deve ser sentido sobretudo na safra de grãos, que, de acordo
com Regina, deve ser mais que o dobro da produção do ano passado. Além
do feijão, o arroz irrigado deve voltar a ser cultivado na região de
Quixeré e o milho de sequeiro, isto é, produzido na quadra chuvosa, teve
área de cultivo ampliada pelos produtores, estimulados pela ocorrência
de chuvas em diversas localidades.
Na avaliação de Flávio Saboya, presidente da Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado do Ceará (Faec), as chuvas chegaram com boa
intensidade e trouxeram um pouco mais de tranquilidade para o setor
neste ano. Ele aponta ainda que, aliada à expectativa positiva para a
quadra chuvosa, a renegociação de dívidas agrícolas de produtores também
ajudará a impulsionar a atividade no Estado.
"As chuvas sempre serão muito bem vindas, não resta dúvidas, e estão
chegando com certa intensidade. Já estamos com a meta (de precipitação)
de fevereiro ultrapassada e com um bom prognóstico que, se for
confirmado para os meses de março, abril e maio, significará uma rápida
recuperação principalmente para as pastagens, que era nossa maior
preocupação", ressalta o presidente.
Rebanhos
Saboya relata que todos os dias recebia ligações de produtores
preocupados com a situação dos rebanhos, havendo localidades em que era
necessário até transportar água para que os animais não morressem de
sede. Esse cenário já está mudando, segundo ele, com a distribuição das
chuvas em todo o território cearense e com o surgimento da pastagem
nativa, que reduz as despesas dos produtores.
"No ano passado, estávamos numa situação crítica com o desaparecimento
das pastagens nativas. Deixamos de ter repasses em outubro e chegou-se a
uma situação em que praticamente já não havia pastagem. O Ceará tem 87%
da área no Semiárido, e a atividade principal nessa região é a
pecuária. Essas chuvas agora estão nos dando um alento, porque senão
entraríamos em um colapso total", aponta.
Preços
O fornecimento de milho pela Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab) também deve melhorar a situação. A maior parte das 200 mil
toneladas de milho destinadas ao Nordeste deverá vir ao Ceará, com saca a
preços mais baixos, em torno de R$ 33, mas ainda não há dados oficiais.
Hoje, o preço da saca de 64 Kg nos armazéns da Conab é de R$ 48,09,
enquanto no mercado está entre R$ 52 e R$ 55.
De acordo com o presidente da Faec, os rebanhos deverão se recuperar
rapidamente com o crescimento da pastagem nativa e ele ainda estima que,
em um prazo de dois meses, já haverá um maior volume de leite no
Estado. "Imagino que a oferta de leite deve crescer, no mínimo, cerca de
20% no mercado cearense", avalia Saboya, destacando o alívio para as
despesas dos pecuaristas.