Os advogados do ex-presidente Lula ainda não se pronunciaram sobre o
novo ataque de um integrante da Polícia Federal (PF) contra a moral do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta sexta-feira, o delegado
Igor Romário de Paula, que integra a tropa de elite da Operação Lava
Jato, previu que Lula estará encarcerado em cerca de 60 dias.
O escritório Teixeira Martins apresentou, sim, defesa prévia na ação
em que o ex-presidente, a ex-primeira dama D. Marisa Letícia — internada
e em coma induzido no Hospital Sírio e Libanês — e outros sete
suspeitos são investigados por indícios dos crimes de corrupção e
lavagem de dinheiro.
O processo apura se a Odebrecht pagou propina por meio da compra do
terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula. Consta,
ainda, o apartamento vizinho ao do ex-presidente em São Bernardo, no ABC
Paulista. Os advogados afirmam que Lula jamais comandou ou participou
de organização criminosa. E que ele nunca teve conhecimento de qualquer
esquema de corrupção na Petrobras.
Lula na mira
Por conta deste e de outros processos a que o líder petista responde,
na Justiça Federal, em conversa com jornalistas, nesta manhã, o
delegado Igor de Paula previu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva estará preso em até oito semanas.
— É complicado falar em perder timing. Os requisitos para uma prisão
preventiva são bastante objetivos. Lá atrás, na fase 24 da Lava Jato,
quando houve a representação do Ministério Público (quando da tentativa
de sequestro do ex-presidente Lula, em março), não existiam os
requisitos para um pedido de prisão do ex-presidente. Não acho que a
gente perdeu o timing. Esse timing pode ser daqui a 30 dias, a 60 dias. A
investigação que envolve o ex-presidente Lula é muito ampla — disse o
delegado. Ele comentava acerca das declarações do também delegado da PF
Maurício Moscardi. Este havia dito, anteriormente, que a PF “perdeu o
timing” para a prisão de Lula.
Segundo Igor de Paula, “o timing pode ser daqui a pouco”.
— Não vejo nem perda de tempo nem condescendência com o fato de se
tratar um ex-presidente. O próprio juiz Sergio Moro já mostrou que ele
não leva isso em consideração quando toma suas decisões. Esse timing
pode ser mais para frente, pode não ser aqui, pode aparecer nas
investigações que acontecem em Brasília — acrescentou.
Igor Romário de Paula já foi criticado pela defesa de Lula por
integrar, em 2014, a campanha presidencial do senador Aécio Neves
(PSDB-MG). O líder tucano também delatado na Lava Jato. De Paula postava
mensagens de apoio ao candidato derrotado pela petista Dilma Rousseff.
Ferocidade
Em artigo publicado após as declarações do delegado, o jornalista Fernando Brito, editor do site de notícias Tijolaço,
critica a atitude. Ele afirma que “prisão sem julgamento no Brasil só
existe em caso de ocultação de provas, tentativas de obstruir
investigações por expedientes ilegais. Ou manifesto risco à sociedade”.
Diante do fato, acrescenta que “o delegado Igor mostra – como se ainda
fosse preciso – que não se trata de um expediente legal. Mas da
legalização da obsessão lavajatiana de prender o ex-presidente, por
algum e qualquer motivo”.
“Num país minimamente cioso da isenção de seu sistema
policial-judicial, toda esta turma já teria sido afastada. Há muito
tempo. Por transformar o seu poder em perseguição política e na
realização de seus desejos pessoais. Agora, porém, a atitude do
delegado, que já é absurda em qualquer tempo, assume ares de um tortura
emocional contra alguém que está aos pés de um leito de UTI. Com a
companheira de décadas entre a vida e a morte, depois de um gravíssimo
acidente vascular cerebral”, acrescentou Brito.
“Um homem que age assim é pior, muito pior, do que as duas ou três
sociopatas que foram fazer provocações à porta do Hospital Sírio
Libanês. Porque é o Estado quem lhe confiou uma missão, de agir com
isenção e prudência. Em uma palavra, todos nós lhe confiamos um poder,
que não pode ser exercido para a crueldade e a morbidez.
Fragilidade
“Com Lula, ou com qualquer outro dos que investigam (ou que não
investigam, como Aécio Neves) isso é vergonhoso, indigno, desumano e
ilegal.
“Mas é, sobretudo, revelador da desumanidade, do caráter cruel e
insensível de um cidadão. Em lugar de cumprir suas obrigações
funcionais, vai à mídia agredir as pessoas em situação de fragilidade.
“O Doutor Igor não consegue nem ser um Javert e atirar-se ao Sena,
num único gesto de humanidade. Atira-se à lama, quando se presta ao
papel de promover-se no momento de um drama pessoal”, concluiu.