A fé atrai peregrinos para festas dedicadas a santos, a Maria
Santíssima, em seus diversos títulos, e a Jesus Cristo em todas as
regiões do Ceará ao longo do ano. Nos santuários, nas igrejas, nas
caminhadas e procissões ocorre a mais pura manifestação de religiosidade
popular. É gente simples, que percorre dias de viagens em
desconfortáveis paus de arara, lotam os centros de romarias e trazem em
seu íntimo razões de agradecimentos, renovação de preces e novos pedidos
aos padroeiros.
O mundo mudou, o Interior se moderniza, os evangélicos se expandem e os
católicos em suas missas regulares parecem retrair-se, mas a presença
aos centros de romarias com sua manifestação de religiosidade popular é
crescente. Basta observar as festas dedicadas a São Francisco de Assis,
em Canindé, no Sertão Central, e os festejos em Juazeiro do Norte, no
Cariri cearense, uma espécie de Meca no Sul do Estado, que ao longo do
ano atrai milhares de devotos do Padre Cícero Romão Batista, da Mãe das
Dores e de Nossa Senhora das Candeias.
A tradição herdada dos romeiros antepassados que foram atraídos pelas
pregações e supostos milagres atribuídos ao Padim Cícero permanece viva
nas gerações atuais. Os idosos trazem os filhos e netos. A fé se renova.
A Igreja alimenta com programações intensas as festas dedicadas aos
seus santos.
Em Juazeiro do Norte, os caminhões pau de arara chegam lotados de
romeiros, que não revelam cansaço, mas animação na fé. O clima nas ruas é
de festa. Os veículos estão decorados com bandeirinhas. O chapéu de
palha, as vestes longas, em tons de marrom e preto, o depósito de velas,
de esmolas, a queima de fogos e a compra de imagens sacras formam o
mosaico de religiosidade popular do sertanejo.
Em Canindé, a dedicação é fervorosa a São Francisco de Assis; em Icó, a
procissão ocorre em honra ao Senhor do Bonfim (Jesus Cristo
Crucificado); em São Benedito, no alto da Ibiapaba, louvores são dados a
Nossa Senhora de Fátima a cada dia 13; em Ipaumirim, a romaria é
intensa para festejar o mártir São Sebastião.
Os peregrinos chegam, lotam as cidades, se arrastam como cobra pelo
chão, lotam praças e templos, munidos pela fé inabalável. É preciso
vivenciar a sua condição de vida, a sua formação religiosa e o seu
sofrimento para tentar entender a crescente e forte devoção do sertanejo
aos santos e santas católicas. Nas páginas seguintes, um pouco da
história e características dessa religiosidade que se manifesta na terra
cearense.