No Ceará, a cada 100 óbitos registrados, 48 são provocados pelas
doenças cardiovasculares, respiratórias, hipertensivas, vários tipos de
câncer e a diabetes mellitus, as chamadas enfermidades crônicas não
transmissíveis (DCNTs). Os dados, da Secretaria Estadual da Saúde
(Sesa), são referentes a 2015 e fazem parte do boletim mais recente
divulgado pelo órgão que leva em conta um período de 18 anos, entre 1997
e ano passado.
Ainda de acordo com a Sesa, esse percentual já foi bem menor. Em 1997,
as DCNTs representavam um terço ou 32,7% da morbimortalidade no
território cearense. No intervalo, aponta a secretaria, houve um avanço
de 59,5%. Elas matam mais do que a violência urbana, trânsito e doenças
transmissíveis, incluindo aí, HIV/Aids, DST, hepatites ou as provocadas
pelo mosquito Aedes aegypti.
Entre as principais causas, obesidade, inatividade física, uso
excessivo de bebidas alcoólicas e tabagismo. Aliados a eles, afirmam
cardiologistas, outros diversas causas são determinantes e
condicionantes como as questões socioeconômicas, culturais e ambientais,
identificados na base das desigualdades do processo saúde-doença. O
avanço das DCNTs no Brasil e Ceará motivou o Ministério da Saúde a
lançar, ainda em 2011, um Plano de Ações Estratégicas para o
enfrentamento dessas moléstias e, principalmente dos fatores de riscos.
De acordo com o boletim divulgado pelo órgão estadual, dentre as de
maior aumento no período de 18 anos, destacam-se a doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) com elevação de 68%, seguido da diabetes
mellitus com 29% e neoplasias com 11,3%.
Crescente
O boletim indica que quando se analisa as taxas de mortalidade por
causas específicas, é observado um comportamento crescente em todas
elas, destacando-se as doenças cerebrovasculares como as de maiores
taxas de mortalidade, apresentando em 1997 a taxa de 34,2 e 2013 de 52,2
por 100 mil habitantes.
As hipertensivas tiveram um salto de 403,8%, passando de 5,2 para 26,2
para cada grupo de 100 mil pessoas. Além delas, a diabetes mellitus com
aumento de 147,9%, saltando de 9,8 para 24,3 pelo mesmo grupo e as
cardiopatias isquêmicas de 127,9%, saltando de 21,5 para 49,0 por 100
mil habitantes. "O fumo é responsável por 71% dos casos de câncer de
pulmão, 42% dos casos de doença respiratória crônica e quase 10% dos
casos de doenças cardiovasculares. Inatividade física aumenta em 20% a
30% o risco de mortalidade", alerta o cardiologista do Hospital do
Coração, de Messejana, José Carlos Pompeu.
As emergências estão lotadas, salienta o especialista. "Gente
enfartando, com quadro de acidente vascular cerebral (AVC), de isquemia
cardíaca, aneurisma da aorta, perda de visão, entre outras. Praticamente
todas são provocadas pela obesidade, colesterol alto, cigarro,
hipertensão arterial, entre outras", afirma Pompeu.
Para ele, a arteriosclerose, produzida pelo acúmulo de placas de
gordura, colesterol e outras substâncias nas paredes arteriais,
responsáveis por levar sangue e oxigênio por todo o corpo, é de grande
preocupação para a área médica. Pompeu compara a artéria com um cano de
água. "Enferrujado é diabetes; com ação corrosiva, o colesterol; com
rachaduras, o cigarro e com muita pressão, a hipertensão. É preciso
cuidar para evitar a degeneração delas", exemplifica o médico
cardiologista.
As informações acerca do aumento das DCNTs entre os anos de 1997 e
2015, na avaliação do especialista, justificam a realização do
monitoramento continuado da ocorrência deste conjunto de doenças, de tal
forma que os tomadores de decisão tenham subsídios para elaboração de
políticas públicas efeitvas de promoção da saúde, vigilância, prevenção e
assistência dessas doenças, no âmbito do Sistema Único de Saúde.