A síndrome metabólica é um conjunto de alterações que elevam o risco
cardiovascular e a taxa de mortalidade. O excesso de gordura na região
abdominal, níveis elevados de triglicérides, alterações nos valores do
colesterol, glicemia, pressão arterial e aumento de circunferência da
cintura (o que pressupõe a adiposidade abdominal) estão entre as
principais características.
O processo inflamatório associado à obesidade causa a secreção de
substâncias pelo tecido adiposo, as quais são capazes de elevar o risco
cardiovascular.
Reduzir a ocorrência da síndrome metabólica e controlar o processo
inflamatório associado à obesidade é tão ou mais importante do que
tratar o sobrepeso. Foi o que concluiu a pesquisa realizada pela
nutricionista Deborah Masqui em sua tese de doutorado, sob a orientação
de Ana Dâmaso, do programa de pós-graduação em Nutrição da Universidade
Federal de São Paulo (EPM/Unifesp). O estudo avaliou 69 adolescentes
obesos, todos voluntários do Grupo de Estudos da Obesidade, que é ligado
ao programa da universidade.
Em excesso
O excesso de gordura corporal, principalmente na região abdominal, está
diretamente ligado ao processo inflamatório. "A gordura em excesso,
principalmente visceral, secreta substâncias consideradas
pró-inflamatórias, que são denominadas adipocinas (proteínas), como a
leptina, o fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), a interleucina-6
(IL-6) e também o PAI-1, que forma trombos ou coágulos".
Nesse contexto, complementa Ana Dâmaso, "há um aumento da adiponectina,
que é uma adipocina secretada pelo tecido adiposo, cuja ação é
anti-inflamatória e que se encontra reduzida na obesidade".
A alteração desses marcadores eleva o risco de doenças cardiovasculares
em longo prazo, pois eles atuam em diversas fases do processo de
aterosclerose, que é o acúmulo de placas de gordura, colesterol e outras
substâncias nas paredes das artérias. Tal condição restringe o fluxo
sanguíneo e pode levar a graves complicações de saúde.
Marcador da síndrome
Para a Profa. Ana Dâmaso, o controle do processo inflamatório
(associado à obesidade) é tão ou mais importante do que o controle do
peso.
O estudo mostrou que, além de reduzir a espessura da carótida (marcador
subclínico importante da aterosclerose), foi possível controlar a razão
leptina/adiponectina e obter o controle do processo inflamatório, o que
favoreceu a redução da espessura da carótida e de todos os marcadores
da síndrome metabólica.
Comprovações
Os voluntários selecionados foram divididos em dois grupos, ambos com
diagnóstico de obesidade: um com 19 portadores de síndrome, e outro com
50 indivíduos isentos da doença. Todos se submeteram a tratamento de um
ano (exercícios físicos três vezes por semana; intervenção nutricional
em grupos semanais, associada à consulta individual/mês; atendimento
psicológico semanal individual ou em grupos; avaliação por
fisioterapeuta e acompanhamento mensal por um endocrinologista).
Os resultados da pesquisa mostraram índices que merecem destaque:
pressões sistólica (passou de 34,8% para 8,7%) e diastólica (de 21,7%
para 1,45%), enquanto no excesso de insulina (de 53,6% para 23,2%) e de
leptina (de 66,7% para 40,6%) no sangue. Foi verificado também um
aumento dos níveis de adiponectina, sendo controlada a produção de
leptina e o processo inflamatório.