O ministro Marcelo Castro anuncia parceria com os EUA em entrevista coletiva (Foto: Mateus Rodrigues/G1)
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou nesta quinta-feira (11) uma parceria firmada entre o Instituto Evandro Chagas, sediado em Belém, e a Universidade do Texas, nos Estados Unidos,
para desenvolver uma vacina contra o vírus da zika. Segundo ele, a
experiência das instituições pode encurtar o prazo de formulação do
produto em laboratório, que poderá ser de um ano. Depois, a vacina deve
ser testada em animais e humanos por mais dois anos, antes de o
imunizante ser aplicado em grande escala, de acordo com o ministro.
"Como o instituto e a universidade têm o mesmo viés, fizemos essa
parceria para desenvolver a vacina. Sabemos que é demorada, mas há um
grande otimismo de que poderemos desenvolver a vacina em um tempo menor
que o previsto. Aproximadamente em um ano, podemos ter essa vacina
desenvolvida", afirmou Castro. "Seria um ano para desenvolver e dois
anos para testar o produto", acrescentou.
(Correção: ao ser publicada, essa reportagem afirmou
erroneamente que a vacina estaria pronta em um ano, segundo declaração
do ministro da Saúde. Depois Castro corrigiu sua fala, dizendo que nesse prazo ela estará pronta para testes. A reportagem foi corrigida às 12h45).
A parceria prevê investimento de US$ 1,9 milhão pelo governo brasileiro, nos próximos cinco anos. O valor do aporte a ser feito pelos EUA não foi informado.
A parceria prevê investimento de US$ 1,9 milhão pelo governo brasileiro, nos próximos cinco anos. O valor do aporte a ser feito pelos EUA não foi informado.
O lado brasileiro do desenvolvimento será coordenado pelo pesquisador
Pedro Vasconcelos, do Evandro Chagas. Embora o cronograma de trabalho
oficial preveja prazo de dois anos para a vacina, ele também diz que
será possível encurtar o tempo pela metade.
"Essa vacina vai ser feita da seguinte maneira: após o sequenciamento
do vírus zika, que já está acontecendo, a parte que é responsável pelo
desenvolvimento de anticorpos no hospedeiro será incorporada a uma
molécula sintética, que vai estimular o organismo humano".
Camundongos e macacos
Segundo Vasconcelos, grande parte da pesquisa será desenvolvida em Galveston, no Texas. Os testes pré-clínicos, que antecedem a aplicação em humanos, devem ser feitos simultaneamente em Galveston, em camundongos, e em Ananindeua, na região metropolitana de Belém, em macacos.
Geralmente, os testes nas duas espécies são feitos em separado. "Essa
simultaneidade vai acelerar o procedimento em seis a oito meses. Por
isso, acreditamos que a vacina poderá estar disponível para teste em
humanos em doze meses. Um pouco mais, um pouco menos", diz o
pesquisador.
O prazo para desenvolvimento não significa que a vacina estará
disponível na rede de saúde daqui a um ano. Além dos testes em animais, o
produto precisa ser testado em humanos, enviado para laboratórios de
outras partes do mundo e registrado na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), por exemplo.
"O que está previsto no cronograma é dois anos, mas nossos cientistas
estão tão otimistas que estão prevendo um prazo inferior. Aí, vai ter
que fazer testes em animais, em humanos, e isso demora. A vacina da
dengue, por exemplo, está na fase III e ainda vai levar cerca de um
ano", diz Castro.
No melhor dos cenários, Castro diz que a vacina poderia estar
disponível à população dentro de três anos. "O caso é tão urgente que
estamos pedindo a presença da FDA [órgão americano de vigilância
sanitária] e da Anvisa para eliminar burocracias. Não queremos pular
etapas, mas agilizar etapas", diz.
Críticas
O anúncio da parceria com os EUA ocorreu numa semana em que cientistas estrangeiros vinham criticando o Brasil pela dificuldade de acesso a amostras do vírus da zika. Problemas burocráticos e desinteresse por colaborações estariam desestimulando cientistas brasileiros a enviar amostras para fora.,
O anúncio da parceria com os EUA ocorreu numa semana em que cientistas estrangeiros vinham criticando o Brasil pela dificuldade de acesso a amostras do vírus da zika. Problemas burocráticos e desinteresse por colaborações estariam desestimulando cientistas brasileiros a enviar amostras para fora.,
Castro não quis criar polêmica sobre as críticas. "Elas são livres", afirmou.
O ministro também afirmou na entrevista coletiva que as notificações
obrigatórias de zika nos laboratórios centrais, que seriam anunciadas
nesta semana, devem ser adiadas. O atraso ocorre porque a licitação dos
kits feitos pela Biomanguinhos demorou, e os materiais ainda estão sendo
enviados.
Relação 'sem dúvidas'
O ministro da Saúde afirmou nesta quinta que o governo não tem mais dúvidas sobre a relação existente entre o vírus da zika e o aumento nos casos de microcefalia. O que os pesquisadores investigam agora, segundo ele, é a existência de outros fatores "colaterais".
O ministro da Saúde afirmou nesta quinta que o governo não tem mais dúvidas sobre a relação existente entre o vírus da zika e o aumento nos casos de microcefalia. O que os pesquisadores investigam agora, segundo ele, é a existência de outros fatores "colaterais".
"Não há a menor dúvida de que o fator determinante da epidemia de
microcefalia que temos no Brasil é a epidemia de zika. O que nós vamos
investigar agora é se há outros fatores adicionais, outras influências.
Nós não temos hipóteses, tudo ainda vai ser investigado", disse.
Castro reafirmou que as estratégias de combate ao vírus e ao mosquito Aedes aegypti são uma prioridade do governo e que, por causa disso, têm recursos garantidos no orçamento da União.
"Este é o maior problema que o Brasil tem. Para o maior problema do
país, não podem faltar recursos e a presidente Dilma tem sido enfática
ao dizer que isso [a falta de dinheiro] não será um problema. Os
recursos não são vultosos, não é grande quantidade para a dimensão do
problema", declarou.