O Papa Francisco embarcou nesta quarta-feira (25) para sua primeira visita à África. Ele desembarcará em Nairóbi, no Quênia. Na sequência, vai a Uganda e República Centro-Africana. Francisco é o quarto papa na história a visitar a África.
Um grande esquema de segurança foi montado para a chegada do pontífice.
Dez mil agentes foram deslocados para isso. Há o temor de um ataque
terrorista do grupo al-Shabab.
Quênia, Uganda
e República Centro-Africana são países marcados pela falta de respeito
aos direitos humanos e a violência armada. Francisco pretende deixar uma
mensagem de justiça, paz e tolerância.
Quênia
O pontífice aterrissará à tarde em Nairóbi, onde encontrará o presidente do país, Uhuru Kenyatta, que até o final do ano passado era acusado pelo Tribunal Penal Internacional como responsável pela onda de violência ocorrida no Quênia após as eleições de 2007.
Há cinco anos, o país dos safáris estava em permanente estado de alerta
pela ameaça do grupo jihadista somali al-Shabab, que em setembro de
2013 se tornou conhecido internacionalmente ao matar 67 pessoas durante
um ataque de quatro dias ao shopping mais movimentado de Nairóbi.
Em abril deste ano, a organização terrorista realizou outro massacre na
Universidade de Garissa, no norte do país, onde homens armados com
fuzis e granadas assassinaram 143 pessoas, a maioria estudante. Os
líderes de al-Shabab reforçam periodicamente que continuarão atacando
enquanto o governo de Kenyatta mantiver suas tropas na Somália.
Neste contexto, a visita do papa adquire a condição de máximo risco e
requer um dispositivo extraordinário de segurança que irá mudar o dia a
dia da capital. Ao todo, 10 mil agentes vigiarão uma cidade que, durante
a maior parte da quinta (26) e da sexta (27), terá todas as principais
avenidas fechadas para o trânsito.
Além disso, o governo declarou o dia 26 como feriado nacional. A
justificativa oficial é permitir que todos possam aproveitar a visita
papal, mas o motivo real, em um país de maioria protestante e sem
grandes expectativas quanto a visita, é que milhares de pessoas nem
sequer poderão chegar ao trabalho.
Uganda
O cenário não é muito diferente em Uganda. Ainda que em menor medida, o papa também desafiará à ameaça jihadista nesse país, onde os Estados Unidos e o Reino Unido lançaram neste ano pelo menos dois alertas por possíveis atentados.
Desde 2007, Uganda mantém mais de 6 mil soldados na Somália. Como
resposta, a al-Shabab matou 79 pessoas ao colocar uma bomba em um
restaurante de Campala durante a final da Copa do Mundo de 2010, na
África do Sul.
Porém, a maior ameaça que o pontífice conhecerá neste país será a que
diariamente sofrem os homossexuais, perseguidos pela sociedade, pela
igreja, pelo governo e pela Justiça, com duras condenações. O movimento
LGBT espera que o papa interceda a Igreja local e o governo para aliviar
sua situação, que pode ser agravada por uma lei que pretende determinar
a prisão perpétua para os que cometerem os "delitos de
homossexualismo".
República Centro-Africana
A etapa mais perigosa desta viagem será, no entanto, a última, na República Centro-Africana (RC): um país em estado de guerra pelo conflito étnico-religioso entre cristãos e muçulmanos.
"Estou preparado para sustentar o diálogo inter-religioso e para
incentivar a convivência pacífica. Sei que é possível, porque todos
somos irmãos", disse Francisco em uma mensagem em vídeo aos cidadãos do
país.
O Vaticano
pensou em suspender este parada por conta da intensificação da
violência vivida nas últimas semanas em Bangui, mas, por fim, o
pontífice confirmou que viajaria como símbolo de mediação no conflito.
Durante sua estadia na capital, ele visitará a Grande Mesquita, e os
muçulmanos, que quase foram expulsos do país pelas milícias cristãs, se
mostraram favoráveis a este gesto. Em declarações divulgadas na semana
passada, a Coalizão-Séléka, integrada majoritariamente por muçulmanos,
admitiu que a visita papal é "uma oportunidade para movimentar o povo
rumo à paz, a coesão social, o amor e o perdão".
No entanto, no mês passado, o arcebispo de Bangui, Dieudonné
Nzapalainga, sofreu uma tentativa de sequestro durante um encontro com
líderes muçulmanos para falar sobre a visita do papa, segundo fontes do
governo centro-africano.
Agora, aproximadamente, 3 mil boinas azuis da Minusca - a missão da
Organização das Nações Unidas (ONU) neste país -, reforçados por
soldados internacionais e 500 policiais, farão de tudo para garantir que
a viagem de Francisco transcorrerá, da mesma forma que seu pontificado,
pacificamente.