quarta-feira, 3 de junho de 2015

PF investiga dupla suspeita de dar golpe com perfil falso de Gloria Perez

A Polícia Federal (PF) investiga uma dupla de mulheres que, segundo testemunhas, enganava adolescentes e seus pais prometendo uma vaga em uma suposta minissérie da autora de novelas Gloria Perez, da TV Globo. Elas teriam usado um perfil falso no Facebook e realizado testes para novas atrizes e atores desde setembro de 2014.

A PF informou que um abriu inquérito e as investigações devem ser concluídas ainda neste mês. A polícia não divulgou detalhes sobre as suspeitas.

Gloria Perez foi contatada pela PF e negou a existência de qualquer minissérie. Ela postou duas vezes na rede social no último final de semana, alertando para o golpe realizado na capital paulista. Segundo ela, os adolescentes iriam gravar em uma fazenda sem acompanhante e sem poder usar o celular por três meses.

“Estelionatários em São Paulo convidando pessoas para fazer teste em uma minissérie supostamente escrita por mim sobre minha filha Daniella! Aviso a todos que é golpe! E peço à polícia de SP que ponha um fim nessa patifaria”, escreveu a autora no sábado (30).

Daniella Perez, filha de Glória, morreu assassinada em dezembro de 1992 pelo ex-ator e colega de trabalho Guilherme de Pádua com envolvimento da mulher dele na época, Paula Thomaz.

Denúncias

Em entrevista ao G1, Gloria Perez contou que pelo menos seis pessoas já entraram em contato desde que escreveu a denúncia nas redes sociais. A autora de novelas como “Salve Jorge”, “O Clone” e da recente minissérie “O Canto da Sereia” contou que um perfil falso no Facebook foi criado em seu nome para convencer as famílias.

“Eu estou esperando a polícia tomar uma atitude. Cada denúncia que chega eu repasso pra eles”, disse Gloria. “Foram várias mães. Uma moça foi contratada para fazer joias para a minissérie. Um rapaz para ser o coreógrafo. É uma coisa grave, porque envolve menores de idade.”

O coreógrafo a que se refere a autora é Luiz Guarany, de 28 anos, que dava aulas de dança no mesmo prédio em que moravam as duas mulheres.

"Elas acabaram se aproximando de mim e disseram que a filha de uma delas já tinha ouvido falar muito do meu trabalho e me queria na equipe", conta.

De acordo com Guarany, a imagem dessa filha que a dupla mostrava era, na verdade, da modelo francesa Thylane Blondeau.

"Elas mostravam a foto da modelo dizendo que ela faria um dos papeis principais da novela. Diziam que era filha de uma das estelionatárias. Um dia começamos a fuçar no Google e descobrimos a mentira", conta.

Simone de Freitas é mãe de uma das jovens que participou das falsas seleções que, segundo ela, ocorreram em um apartamento em Moema, na Zona Sul de São Paulo.

“Convidaram minha filha primeiro pelo Facebook. Aí autorizei e começamos a fazer os testes. Depois de um tempo, a estelionatária disse que minha filha tinha sido escolhida”, contou Simone. Ela disse que em nenhum momento precisou pagar algum valor pelos testes.

A filha de Simone tem 15 anos e chegou a faltar à escola para ir aos ensaios e garantir vaga no elenco da falsa nova minissérie. Durante os testes, que começaram no final de 2014, os jovens eram filmados.

“Os ensaios eram todos gravados. Eles diziam que tudo seria passado para a Gloria Perez e que a história da minissérie seria sobre a vida da filha dela, a Daniella”, disse Simone. “Eles também pediam sigilo absoluto, porque seria uma produção nova da Globo para comemorar os 50 anos”.

Após os jovens serem escolhidos para a série, uma das mulheres mandou uma mensagem marcando uma reunião para explicar como seriam as gravações.

“Elas disseram que estavam em nome da Gloria Perez e que todos os que estavam ali passaram no teste”, contou Simone.

A dupla anunciou que, no elenco, estariam atores como Caio Castro, Fernanda Montenegro, Raul Gazolla, Bruno Gagliasso. A filha de Simone, por exemplo, faria o papel de uma cigana, parente do personagem de Gazolla.
Gravação sem direito a celular

Na reunião, os organizadores da falsa minissérie expuseram as regras: os jovens iriam gravar a produção no Rio de Janeiro, em uma fazenda, no início deste ano. Por lá, ficaram cerca de três meses. O acesso até o local não poderia ser feito por estrada, apenas por helicóptero. Os adolescentes não poderiam levar celular, nem ser acompanhados por um familiar.

“Foi quando meu marido começou a desconfiar e disse que a nossa filha não iria mais. E elas também não apresentaram nenhum contrato”, disse Simone.

Alguns pais pesquisaram sobre os futuros projetos dos atores escalados para o elenco e viram que nenhum deles estaria livre durante a gravação da suposta minissérie. Caio Castro estaria em “I Love Paraisópolis” e Fernanda Montenegro, em “Babilônia”, por exemplo.

Com as perguntas cada vez mais frequentes dos pais, os ensaios, que ocorriam quase que diariamente, ficaram mais raros.

Sobre o caso, a Rede Globo respondeu, por meio do seu departamento de comunicação, que "a autoridade policial competente está investigando o golpe praticado por estelionatários em inquérito sigiloso, cujos termos desconhecemos".