sábado, 10 de janeiro de 2015

Ceará recebeu 191 mil cisternas durante 2014


A construção de cisternas de placa e a distribuição de unidades de polietileno, em três anos, superaram a meta definida pelo Ministério da Integração Nacional (MI) para o sertão nordestino, por meio do programa governamental Água para Todos. Foram implantadas mais de 771 mil unidades na região. A previsão inicial era de instalação de 750 mil até o fim de 2014. Somente no Ceará, foram mais de 191 mil, beneficiando 955 mil pessoas em 170 municípios. Os dados são do MI.

Os números apresentados pelo Ministério da Integração diferem, entretanto, dos dados divulgados pelo governo do Estado, que apontam instalação ou em processo de instalação 34.180 cisternas de polietileno, que têm capacidade de armazenas 16 mil litros de água. No fim de dezembro passado, o governo assinou novo aditivo ao convênio com o MI para instalar, ao longo de 2015, mais 11.603 unidades, em 12 municípios, com investimentos de R$ 52 milhões.

A construção e instalação de cisternas é uma ação do programa Água para Todos, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Regional do MI, e integra as estratégias do governo federal de convivência com a seca.

Resultados favoráveis também foram observados pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que alcançou, em dezembro 2014, a meta de mais de 172 mil cisternas instaladas nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Sergipe. No Nordeste, foram mais de 40 meses de trabalho, R$ 6,1 bilhões investidos, 1.200 municípios atendidos e mais de 5 milhões de brasileiros contemplados, resultado do programa Água para Todos.

Surpreendente

"A conclusão deste primeiro ciclo do Água para Todos foi surpreendente. Além de superamos a meta pública, também atendemos a um número maior de famílias", afirmou a secretária de Desenvolvimento Regional, Adriana Alves.

Desde 2003 o governo federal instalou mais de 1,1 milhão de cisternas na região Nordeste, possibilitando uma capacidade de armazenamento de 17,6 bilhões de litros de água. As unidades armazenam água da chuva colhida nas calhas das casas ou por meio de caminhões-pipa.

Descompasso

Apesar dos esforços do governo, há um descompasso entre distribuição de unidades e instalação. Em uma área do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), na cidade de Morada Nova, mais de mil unidades permanecem armazenadas. "A gente está enfrentando dificuldade de água, esperando carro-pipa passar e as cisternas permanecem lá guardadas", lamentou o agricultor, Pedro Oliveira, da localidade de Pedras.

No Ceará, em centenas de localidades rurais, as cisternas de polietileno somente foram instaladas após o término da quadra invernosa de 2014. Em Várzea Alegre, no Centro-Sul do Ceará, por exemplo, muitas foram implantadas somente a partir de setembro do ano passado. Não houve tempo de armazenar a água das chuvas.

A aposentada, Maria Isabel Bezerra, 101, moradora da localidade de Varzinha, em Várzea Alegre, aguarda o início do inverno. "A cisterna está pronta, mas permanece seca", disse. "Tomara que chova logo para encher".

No município de Quixelô, na região Centro-Sul do Ceará, o problema se repete: centenas de unidades estão secas porque somente foram implantadas no segundo semestre de 2014.

Onde as cisternas foram implantadas e acumulam água o quadro é diferente. Sobra motivo de comemoração. É o caso do agricultor, Luís Nogueira, da localidade de Umarizeira, em Cariús, Centro-Sul do Ceará, foi contemplado com uma unidade, há dois anos e disse que a vida ganhou outro sentido após ter acesso ao abastecimento de água. "Deu para tirar o resto do ano e ainda tem um pouco", contou. "Usamos a água para beber e cozinhar".

Antes das cisternas, o consumo de água inapropriada e sem tratamento causa doenças como diarreia e infecções. A mudança se reflete em diversos aspectos. As pessoas tinham de deixar suas casas para buscar uma vida melhor nos centros urbanos, mediante a crise de desabastecimento. Quem sofre com a seca severa do sertão sabe o valor que uma cisterna tem, mas ainda assim há famílias que não fazem a conservação e nem a ligação da calha para captar água.

O Ministério da Integração anunciou que vai dar sequência à implantação dos sistemas coletivos de abastecimento - mais de 1.600 já foram instalados -, e ao investimento nas tecnologias de segunda água, como barreiros, pequenas barragens, poços e kits de irrigação. "As tecnologias de segunda água são fundamentais para universalizarmos o acesso à água no semiárido", afirma Adriana.