São Paulo. No primeiro ato público ao lado do candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (PSB) criticou o clima de “vale-tudo” eleitoral e disse ser preciso resgatar a “ética na política”. O tucano, por sua vez, comparou a aliança selada entre os dois com o movimento que foi feito na década de 1980 para tirar os militares do poder.
Marina Silva, que terminou a corrida presidencial em terceiro lugar, anunciou o seu apoio à candidatura de Aécio no último domingo, dia 12, mas só ontem, 17, os dois apareceram juntos em público. O ato, gravado para ser usado no horário eleitoral, foi marcado por uma intensa troca de elogios entre os antigos adversários e pela reafirmação dos compromissos que teriam pautado a aliança.
Democracia
Em seu discurso, o tucano classificou o momento como o “mais importante” da sua “caminhada” até aqui e afirmou que a união com Marina teve como base três eixos: defesa da democracia, avanço das políticas sociais e desenvolvimento sustentável.
Já a ex-ministra agradeceu pela forma “generosa” que estava sendo tratada por Aécio e lembrou que o acordo entre os dois incluía o compromisso com a reforma agrária e com a proteção dos direitos indígenas.
Em rápida entrevista coletiva concedida após o pronunciamento oficial, Aécio Neves comparou a união com Marina à “Aliança Democrática” de 1985, que teve como objetivo vencer a eleição indireta para presidente da República daquele ano e pôr fim a mais de duas décadas de ditadura militar (1964-1985).
“Eu participei como um espectador privilegiado ao lado do meu avô (Tancredo Neves) da construção da aliança democrática que tinha um único objetivo, encerrar o ciclo autoritário no Brasil, acabar com a ditadura”, ressaltou. “Hoje temos um outro desafio, que não é menor do que aquele, que é encerrar este ciclo de governo que aí está e que perdeu as condições de governar o Brasil pelo fracasso na economia e no descompromisso com a ética”, disse o tucano.
Segundo Aécio, as forças que se uniram em torno do nome de Tancredo naquele ano também atuavam em campos distintos do ponto de vista ideológico, mas tinham um objetivo comum, que era acabar com a ditadura. “Esta aliança foi vitoriosa”, disse, lembrando que seu avô morreu antes de assumir o comando do País, mas os frutos dessa aliança perduram até hoje. Para ele, a aliança com Marina teria esse mesmo simbolismo, pois representaria a nova política e o fim de doze anos do PT no poder.
Depois de ouvir Marina afirmar que “não vale tudo para ganhar uma eleição”, Aécio também criticou o tom que a campanha vem tendo até aqui e culpou a presidente Dilma por não fazer uma campanha propositiva.
Transposição
À noite, em evento realizado em Campina Grande (PB), o atraso das obras da transposição de parte das águas do rio São Francisco e prometeu concluí-la, caso seja eleito. “Não é aceitável, não é compreensível que uma obra que já deveria ter sido concluída há quatro anos, com tanto dinheiro gasto, mais do dobro do que era previsto, não tenha levado uma gota de água sequer àqueles que aguardam”, disse.
O governo federal fez no início desta semana os primeiros testes em um trecho da obra, cujo preço saltou de uma estimativa inicial de R$ 4,6 bilhões para R$ 8,2 bilhões. O prazo de entrega da obra da transposição foi adiado de 2012 para 2015.
“Eu pretendo continuar apresentando propostas, mas estejam certos que reagirei a todas as ofensas, calúnias e mentiras que transformaram essa eleição na pior, do ponto de vista ético, dos últimos tempos”, emendou.
Segundo Aécio, a estratégia ofensiva adotada pelo PT é fruto do desespero.
Programa de TV
O encontro entre Marina e Aécio não passou despercebido pela campanha de Dilma. Ontem, o PT usou a aliança entre os dois para sugerir que o adversário muda de opinião de acordo com “as conveniências de momento”. No horário eleitoral da TV, Dilma Rousseff exibiu trechos de um debate no 1º turno da eleição em que Marina e Aécio fazem críticas um ao outro.