Mesmo antes do início oficial da campanha eleitoral, e a mais de quatro meses do pleito, o ex-presidente Lula já cantou vitória ao discursar nesta sexta-feira, em Belo Horizonte, e aproveitou para lançar a campanha Dilminha Paz e Amor, chamando para si a responsabilidade de atacar a oposição e assim preservar a presidente Dilma Rousseff. Lula e Dilma participaram do encontro estadual do PT que confirmou o ex-ministro Fernando Pimentel como candidato do partido ao governo de MG. Pimentel terá como principal adversário o também ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB).
"Eles estão raivosos e agressivos, embora apareçam na televisão com rosto angelical. Eu nunca vi tanta agressão e tanto desrespeito a alguém como eles estão fazendo à nossa presidenta da República e nós não podemos perder a tranquilidade.
Para o ex-presidente Lula, a oposição, simbolizada na figura do senador Aécio Neves, principal e mais ferrenho adversário de Dilma, tem medo das comparações entre os governos: "o que mais incomoda eles é a possibilidade de comparações que nós fazemos entre os nossos 12 anos de governo, que ainda não estão completos, porque só vai ser completo em 31 dezembro de 2014, e o século que eles governaram esse País", disse. "Mesmo aonde nós erramos e mesmo aonde nós não fizemos tudo que imaginávamos que podíamos fazer, ainda assim nós fizemos muito mais do que eles," concluiu.
Lula disse que a oposição age com preconceito quando trata do crescimento da renda da população brasileira nos últimos 12 anos: "vai ficando tudo insuportável. Nós saímos de 35 milhões de passageiros que voavam nesse País para 111 milhões de passageiros. Por isso eles chegam nos aeroportos e fazem o seguinte - isso aqui está parecendo uma rodoviária. Se eles não gostam de rodoviária, nós não temos nada contra rodoviária. Acontece que nós temos o direito de andar de avião nesse País. O que eles não suportam, na verdade, é que nós, humildemente, ensinamos eles a governar esse País", atacou.
"Pobre nesse País sempre foi tratado como se fosse cidadão de segunda classe ou categoria. A nós estava reservado apenas o direito de tirar o diploma de primário, quando muito fazer o segundo grau e ir para o mercado de trabalho e ser pedreiro ou empregada doméstico, e nós pensamos - queremos ser médicos, engenheiros", disse. "Incomoda para eles ver muitos carros nas ruas de Belo Horizonte. O que na verdade eles gostavam é de ver poucos andando de carro e muitos pendurados no ônibus. Porque pobre era tratado como estatísticas para ser utilizado em época de campanha. Se a gente pudesse transformar pobre em ações da bolsa de valores, pobre seria a coisa mais rica todo ano de eleição", avaliou Lula.
Confiante, Lula elegeu a imprensa como maior rival na disputa eleitoral: porque o maior partido político de oposição nesse País é a imprensa, dona Dilma, é a imprensa," avaliou, dizendo que vai aproveitar a campanha eleitoral para se vingar das supostas surras que ele e Dilma levaram: "você (Dilma) pelo cargo que exerce não pode falar metade das coisas que eu estou falando para eles, mas como eu não recebo dinheiro público, não exerço cargo público, eu vou falar mesmo e quando eu ataco eles, eles falam que eu ataco, quando eles me atacam, falam que me criticam. Eu vou devolver em pílulas para eles, todo dia, o que eles fizeram comigo em quatro, oito anos.
O que mais incomoda eles é que quando eles passaram oito anos nos batendo, oito anos nos massacrando, quando vem a pesquisa no final de ano, o governo que eles pensaram que tinham matado tinha 87% de bom ou ótimo.
O que mais incomoda eles é que a Dilma nunca tinha sido vereadora, nunca tinha disputado um cargo público. Na cabeça deles a Dilma era um poste, e como tínhamos criado o programa Luz para Todos, nós elegemos este poste para iluminar esse País," reiterou, aproveitando para ironizar o governo de Minas Gerais, que o PT acusa de se apropriar mudar o nome do programa do governo federal na área de energia.
O ex-presidente terminou o discurso atacando diretamente o senador Aécio Neves (PSDB), que além de ser o principal adversário de Dilma Rousseff, foi quem resgatou o ex-ministro Pimenta da Veiga para concorrer ao governo de Minas Gerais: "se fala muito em liberdade, mas se exerce pouca liberdade pelos governantes que estão governando esse estado. O Pimentel é um gentleman, educado, não vai fazer crítica, pode ser Pimentelzinho paz e amor, mas não é porque a gente quer paz e amor que a gente vai levar desaforo pra casa. Eu acho que está na hora dos mineiros começarem a discutir algumas coisas. Por exemplo, o nosso adversário, adversário da Dilma, agora está numa combatividade, querendo CPI no congresso nacional, mas desde 2003 que os nossos partidos tentam um CPI em MG porque é praticamente impossível fazer e os tucanos não permitem que se faça CPI nem aqui, nem em SP, nem em outros Estados".
Sem deixar cair o tom, o ex-presidente continuou: "o que é mais importante é que eu fico perguntando qual a grande obra de infra-estrutura que o nosso adversário fez no Estado. Eu fico imaginando qual a grande obra. A grande obra dele foi a cidade administrativa, quase que uma coisa feita para ele próprio," ironizou, elegendo em seguida Minas, berço político de Aécio e natal de Dilma, como Estado mais importante para a disputa presidencial. "MG será o Estado prioritário na campanha. E os tucanos vão ter que ir pro beleléu, porque Minas Gerais vai votar no Pimentel," provocou.
Dilma engrossa o coro
A presidente Dilma Rousseff seguiu o antecessor dizendo que não vai aceitar ataques "furibundos". Dilma disse que "eles querem ganhar a qualquer custo, na marra, vão descobrir pela quarta vez que nós e o povo brasileiro não se deixam enganar. Eu posso ser a Dilminha Paz e Amor, mas também posso dizer que não vou levar desaforo pra casa," ameaçou. Dilma começou o discurso tal como Lula terminou, dizendo que vão mandar os tucanos para o beleléu. A brincadeira gritada por um militante serviu para orientar o discurso da presidente, que enfatizou estar voltando a Minas Gerais, depois de ter saído há 45 anos perseguida pelo regime militar, mas que volta "não com as mãos vazias."
A presidente afirmou que o mineiro não aceita o voto de cabresto, e disse que o eleitor precisa comparar, como disse Lula, o governo do PSDB com o do PT para se decidir nas eleições de outubro: "eles (adversários) querem trazer de volta um modelo que já fracassou a partir daqui de MG, com a recessão, desemprego, arrocho salarial, aumento da desigualdade e toda submissão que o Brasil tinha no passado no fundo monetário, por exemplo." disse. "Fomos nós, do governo do PT, quem mais investimos aqui em Minas nas últimas décadas," completou.
Voltou a afirmar, como fez mais cedo em Poços de Caldas, no Sul do Estado, que a Copa do Mundo no Brasil "será um sucesso que o brasileiro vai juntar todo mundo na frente da televisão, tomar uma cervejinha e torcer pela Seleção," previu, dizendo ainda que não podemos ter o complexo de vira-latas, citado pelo escritor Nelson Rodrigues na década de 50: "no Brasil temos muita gente pessimista e com complexo de vira latas, com aquela mania de bem antes da primeira copa que nós ganhamos achavam que a gente iria perder. Que na segunda copa que ganhamos, muito antes achavam que a gente iria perder."
Para a presidente, o legado que a Copa do Mundo deixará no País é "o padrão Queijo Minas, muito melhor que o queijo suíço," quando se referiu aos atrasos das obras de infraestrutura para o mundial: "Vocês acreditam que alguém que volta para o seu país leva na mala estádios, aeroportos, BRT, metrô, que leva alguma das obras feitas aqui, mas leva uma coisa, e essa coisa é muito valorosa. Aquilo que quando nós fomos em outros países eles deram para nós: respeito, carinho e uma boa recepção," explicou.
Especial para Terra