quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Sucesso e fundo do poço: 20 anos após ‘Arrumamalaê’, Neo Pi Neo quer dar a volta por cima

Conhecido pelo jeito extrovertido nos palcos e pelas músicas bem humoradas com um vocabulário totalmente “cearês”, Neo Pi Neo conquistou o Brasil na década de 90 com o sucesso Rural, mais conhecida pelo trecho  “Arrumamalaê” – uma mistura de música árabe com  elementos da música nordestina e chamada por ele de “Forrock Arabiense”.

Agora você vai conhecer Walmyr Castro, um cearense nato, filho de um general do exército e de uma dona de casa, engenheiro civil, músico instrumentista, cantor, compositor, palestrante, pesquisador e escritor. Apaixonado por música desde criança, Walmyr – Neo Pi Neo – revela que viveu uma infância e adolescência conturbadas, além do envolvimento com as drogas.

Aos três anos de idade, a primeira “fuga” de casa. “Eu fugi de casa aos três anos e disse para meu avô que ia comprar limão, mas eu ia era fugir. Não sei porque fiz isso. Me encontraram em uma esquina”. Já aos nove anos, ele foi detido por roubar um pente em um mercadinho no bairro de Fátima.

“Eu sempre fui muito levado. Roubei o pente e não sei se para o meu bem ou mal, corri para a vila dos oficias. Meu pai morrei e nunca soube desse ocorrido. Eu não entendo porque eu roubei esses pentes, mas isso caracteriza a adicção – um transtorno comportamental de corpo, alma e espírito, cujo o sintoma é o aflorar os defeitos pelo uso de substâncias químicas ou não”, relata.

Aos 10 anos de idade ele teve a primeira experiência com drogas. “Cheirei lança perfume, depois comecei a fumar e beber. Eu bebia por necessidade de aprovação e com pessoas mais velhas para ser o bonitão.”

O nascimento de Neo Pi Neo


Com 17 anos, levado pelos impulsos de um adolescente, Walmyr conheceu o personagem – que mais tarde iria lhe dar fama – após o uso excessivo de drogas e acordar três dias depois. “Eu acordei e não sabia onde estava, as pessoas começaram a dizer que eu estava pinel. Eu passava e as pessoas diziam: lá vai o pinel. Aproveitei e adotei o nome de Neo Pi Neo.”

Portado ‘nova identidade’, em 1984, Neo assumiu a musicalidade. “Desde criança eu já tinha característica musical. Pegava o violão da minha mãe, mas só em 84 que eu assumi a música na
minha vida”.

Fã de Blues, o “humorsicalista” – como também se define – cita os nomes do gênero que o inspiram. “BB King, Jimmy Hendrix, Eric Clapton, são os meus músicos favoritos e eu uso as influências do gênero na minha música. O que caracteriza a minha música não é o gênero e sim a letra.”

A inspiração para as composições vem dos mais de 30 relacionamentos que ele viveu. Casados duas vezes “no papel”, como ele faz questão de afirmar, Neo é pai de três meninas e dois meninos.

Reabilitação

Dia 22 de dezembro de 2008, marca o ingresso do cantor na reabilitação contra a dependência química. Durante quase seis meses Neo ficou internado e depois fundou o projeto Arte na Prevenção, que combate o uso de drogas e acolhe dependentes químicos.

O artista conta que usou a música para sair da drogas e não diz que culpa de ter caído no fundo do poço não foi da fama. “Tudo o que se tem é resultado das escolhas, é a vontade do seu corpo que quer praticar as ações. Sem reflexão não dá para fazer escolhas. É o que a gente chama de livre arbítrio. A culpa não foi da fama, mas sim do meu jeito de ser mesmo.”

Hoje ele se declara feliz com o que conquistou e presta apoio também ao Lar da Criança Domingos Sávio – a instituição recebe parte do dinheiro arrecadado pelo ele nos shows.  “Finalmente consegui alinhar a minha carreira com Deus e não precisei de religião para isso. Apenas pratico o bem sem olhar a quem.”

Novo trabalho

Quer conferir o som de Neo Pi Neo? É só chegar mais no Kukukaya, que nesta sexta-feira (1º), tem a gravação do 11º CD e DVD com música autorias e inéditas – intitulado “Festa de Máscaras”. A faixa tem participação de Falcão, Messias Holanda e Tirulipa e foi feita com palavras proparoxítonas e ele explica o motivo.

“Eu primo em trabalhar as letras, já que a musicalidade nordestina está tendendo muito para o ritmo e deixando de lado a letra. A gente está até importando um ritmo,o sertanejo que agora manda no Nordeste. Eu sou muito bairrista em relação a isso e prezo muito pelo cearês. Então, pesquisando músicas com palavras proparoxítonas encontrei ‘Rosa dos Ventos’ de Chico Buarque e fiquei com vontade de fazer uma música assim e daí nasceu a ‘Festa de Máscaras’ com estilo cearense.”