A mesma mutação genética que tornou o novo coronavírus mais infeccioso
também pode fazer que ele se torne mais vulnerável às vacinas, aponta
trabalho de pesquisadores norte-americanos. O grupo liderado pelo
cientista Drew Weissman, da Universidade de Pensilvânia, apontou em um
estudo publicado na sexta-feira (24) que a chave deste processo está na
mutação nomeada D614G.
Esta mutação específica aumentou o número de espinhos, ou "spikes" do
coronavírus Sars-Cov-2. As estruturas são formadas pela proteína S.
Estes espinhos permitem ao vírus se conectar às células das mucosas e
infectá-las, para começar a sua duplicação.
Os cientistas ressaltam, no entanto, que essa mutação não será um
problema para as ao menos cinco vacinas para o Sars-Cov-2 em estágio
final de teste. Isso porque é justamente para combater este espinho que
elas estão sendo desenvolvidas.
As vacinas são preparadas para induzir a formação de anticorpos
neutralizantes que atacam a proteína S. Com mais espinhos, vai haver
mais espaço para os antígenos da vacina atuarem na defesa e para poder,
assim, neutralizar a ação do vírus, afirmam os pesquisadores em um
artigo que ainda não foi revisado por pares (pré-print) e que foi
publicado na plataforma MedRXiv.
Metodologia: 'falso vírus'
Para entender como uma possível vacina responderia a esta mutação, os
cientistas usaram ratos, macacos e humanos. Primeiro aplicaram em alguns
dos indivíduos um soro com anticorpos. Depois, colocaram no corpo deles
um vírus modificado para conter apenas a proteína S do Sars-Cov-2, o
que não expôs nem as cobaias nem os voluntários a riscos da Covid.
Eles perceberam que, nos indivíduos que receberam o soro, a mutação
D614G teve mais dificuldade de acoplar o vírus na célula que seria
invadida. Isso indica, segundo o estudo, que a linhagem do novo
coronavírus que se tornou dominante deve ser mais suscetível a bloqueio
dos anticorpos induzido pelas vacinas atualmente em desenvolvimento.
Vacina de Oxford
Uma das candidatas a imunização da Covid, a vacina que está sendo
desenvolvida pela Universidade de Oxford usa a chamada tecnologia
vetor-adenovírus, que, como o nome sugere, usa um adenovírus como vetor
para levar o coronavírus modificado para dentro de uma célula humana.
Esse adenovírus é geneticamente modificado para impedir sua replicação
e, assim, que ele infecte uma célula humana. Adenovírus costumam causar
resfriados.
No lugar dos genes removidos é inserida uma sequência de DNA com o
código da proteína S do coronavírus Sars-Cov-2. Essa sequência faz o
corpo humano entender, equivocadamente, que está infectado, o que gera a
resposta imunológica.