BRASÍLIA - O Ministério da Saúde detectou "limitações importantes" nos 500 mil testes rápidos doados pela mineradora Vale, fabricados na China, e pediu cautela a gestores do SUS ao aplicar o produto.
A desconfiança do governo federal surgiu após análise de qualidade de um laboratório privado, feita a pedido da pasta, apontar 75% de chance de erro em resultados negativos para o novo coronavírus. O percentual de erro cai para 14% em exames positivos, ou seja, que apontam a infecção, mas mesmo assim o governo sugeriu que o produto seja aplicado apenas em pessoas que apresentam sintomas da covid-19 há ao menos 7 dias para evitar diagnóstico falso.
Desde o anúncio do uso dos testes rápidos, o Ministério da Saúde já
determinava que o produto seria aplicado apenas em quem está na linha de
frente do combate ao novo coronavírus, especialmente profissionais de
saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda o uso desse
tipo de teste para toda a população. "O material adquirido de empresa
chinesa para doação ao Ministério da Saúde apresentam limitações
importantes", reconhece a pasta em nota enviada à reportagem. O
ministério afirma ainda que está elaborando um documento com
recomendações para uso do produto para que o resultado seja "coerente
com o que o teste pode oferecer".
Segundo integrantes do ministério e gestores do SUS, a baixa precisão
para testes negativos foi frustrante, mas eles ainda serão úteis para
fazer a triagem de profissionais de saúde que podem estar infectados. As
limitações dos testes rápidos já foram apontadas por autoridades de
outros países, como na Espanha.
"Este percentual baixo exames em negativos reais é o que justifica a
cautela.
O exame que é positivo, é positivo.
O negativo, dependerá do
momento da infecção", afirmou o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass),
Alberto Beltrame. "A utilidade do teste é encurtar o tempo de
isolamento de membro da equipe de saúde. Se alguém estiver sintomático,
deverá ser isolado imediatamente. Passados de 7 a 9 dias, deverá fazer o
teste rápido -- se positivo, completa o isolamento. Se negativo nesta
fase, poderá retornar ao trabalho. Podemos ganhar de 5 a 7 dias",
explicou Beltrame.
Evidência
Os dados sobre a precisão do teste foram enviadas pelo Ministério da Saúde a gestores do SUS, em nota obtida pelo Estado.
"Resultados negativos não excluem a infecção. Resultados positivos não
podem ser usados como evidência absoluta de SARS CoV 2. O resultado deve
ser interpretado por um médico com auxílio dos dados clínicos e outros
exames laboratoriais confirmatórios", orienta o governo federal.