Após o pedido de demissão de Dony de Nuccio,
a Globo fez uma dança das cadeiras na equipe de jornalismo do canal.
Nesta sexta-feira (9), a emissora anunciou que a bancada do ‘Jornal Hoje’ ficará aos cuidados de Maria Júlia Coutinho, a Maju.
A jornalista comandará a atração sozinha a partir de setembro. Enquanto isso, o telejornal ficará nas mãos de Sandra Annenberg. A âncora, que esteve na bancada do ‘JH’ durante 18 anos, também já tem o futuro certo no mês que vem.
Sandra estreará no ‘Globo Repórter’ com Gloria Maria.
Sérgio Chapelin, o titular da atração até o momento, dará entrada na
aposentadoria e deixará seu lugar para a colega de trabalho. Nas redes
sociais, Maju comemorou a promoção.
“Faço
aniversário amanhã, mas o presente veio hoje. Que honra e que grande
responsabilidade apresentar um telejornal brilhantemente comandado pela
competente e querida do público e dos colegas Sandra Annenberg”,
publicou.
Marido de Sandra, Ernesto Paglia
também anunciou a mudança em seu perfil do Twitter. “Sandra Annenberg,
em nova fase da carreira, vai substituir o grande Sérgio Chapelin no
Globo Rpórter’ ao lado da competentíssima Gloria Maria. E a brilhante
Maju Coutinho assume o ‘Jornal Hoje’. Sexta de grandes anúncios no
jornalismo da Rede Globo”, informou ele.
Em
comunicado enviado à imprensa, na manhã desta sexta-feira (9), o
diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, elogiou Sandra e Maju e falou
sobre o desafio de encontrar alguém à altura para o lugar do veterano
Chapelin.
Leia o texto do diretor na íntegra:
“Hoje é dia de homenagens e de lembrar histórias.
Cinco
anos atrás, Sérgio Chapelin me procurou. Era a época de renovação do
contrato. Sempre gentilíssimo, ele me disse que acreditava que era hora
de parar. Sérgio adora o que faz, tem uma relação de décadas com o
público, com o jornalismo, mas queria mais tempo para a família, para
aproveitar a vida sem tantas obrigações. Eu discordei, e o carinho dele
pelo público e pelo jornalismo é de tal ordem, que ele acabou se
convencendo a ficar mais cinco anos e a voltar a conversar sobre o
assunto no futuro. Esse futuro chegou, ele me procurou algumas semanas
atrás e a conversa se repetiu. Mesmo apaixonado pelo que faz, Sérgio
ponderou que é parte da sabedoria encontrar o momento de desacelerar e
aproveitar mais a vida, o tempo com a família.
Conversar
com Sérgio é sempre um prazer. Algo na natureza dele o faz ser o mesmo
de quando começou na Globo, quase cinquenta atrás, um pioneiro: a
vitalidade, a voz, a energia, o carisma são os mesmos (temperados pelos
cabelos grisalhos). Com anos de diferença, eu e ele temos uma origem
profissional comum, a Rádio Jornal do Brasil, e essa coincidência me
alegra. Quem o trouxe para a Globo foi Dirceu Rabelo, a “voz” da Globo
ainda hoje. Dirceu o chamou para um teste em 1972. Ele veio em roupas
esportivas, o cabelo longo e se pôs à prova diante de nossa querida
Alice-Maria e do editor Silvio Júlio. Foi aprovado, mas teve de voltar
no dia seguinte com uma orientação expressa de Alice: “Venha com terno e
gravata porque o Armando Nogueira vai ver tudo”.
Armando
adorou e Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), também. Boni o
queria logo no Jornal Nacional, mas Armando precisava dele no Jornal
Hoje, para substituir Ronaldo Rosas. Sérgio dividiria a apresentação com
Sônia Maria e com Márcia Mendes. “E também com dois comentaristas muito
jovens, Nelson Motta e Scarlet Moon”, Sérgio me contou, sorrindo, mas
logo lamentando a morte precoce de Marcia e Scarlet. Ficou no Hoje
apenas um mês, porém. O sucesso foi tão grande que quando o saudoso
Hilton Gomes deixou o Jornal Nacional, Sérgio foi o escalado para fazer
dupla com Cid Moreira, e essa dupla marcaria para sempre a história da
Globo. Sérgio participou também da estreia do Fantástico, em 1973, sem
deixar o Jornal Nacional, e foi o primeiro apresentador do Globo
Repórter. Eu disse a ele que isso era um feito, mas Sérgio, sem nunca
abandonar seu jeito simples, me disse: “É um orgulho, claro, mas naquela
época, eu apresentava o Jornal Nacional, o Fantástico e o Globo
Repórter, não tinha moleza, mas era tudo um grande prazer”.
Em
1974, o grande Heron Domingues, que apresentava no fim da noite o
Jornal Internacional, teve um enfarte fulminante que o matou tão cedo.
Foi logo depois de divulgar aos brasileiros uma informação de
repercussão mundial: a renúncia do presidente Nixon, o ápice do
escândalo Watergate. Foi uma edição marcante. O satélite abriu antes do
início discurso do presidente. Não estava no ar nas emissoras, somente
em circuito fechado para quem tinha acesso ao sinal da Casa Branca.
Nixon começou a brincar em frente à tela, fez caretas e sorriu. Armando
Nogueira, com o jornal no ar, disse a Jorge Pontual, redator do
telejornal, para usar as imagens e escrever um "boa Noite" com base
nelas. Pontual correu para escrever a tempo o texto, que finalizava
assim: “Como um ator antes da novela, como um político que fez sua
carreira dominando a televisão e às vezes sendo vencido por ela, Richard
Milhous Nixon se despediu do cargo mais visado da terra com um
sorriso". Pontual se agachou por debaixo da mesa de Heron e entregou o
papel com o texto. E Heron leu a nota, com aquelas imagens exclusivas
(Pontual viria a ser por muitos anos diretor do Globo Repórter e, hoje, é
correspondente em Nova York). Era o dia nove de agosto de 1974, e, na
noite seguinte, lá estava Sérgio substituindo o amigo morto na véspera.
Ficou na função por nove meses, quando o Jornal Amanhã foi criado, com
apresentação de Carlos Campbell e Marcia Mendes. Voltou para o Jornal
Nacional, onde ficou até 1983, ao lado de Cid, apresentando também
eventualmente o Fantástico, Globo Repórter e a primeira versão do Jornal
da Globo.
Ficou
um ano no SBT, mas logo voltou, a pedido de Boni e de Armando. Foi para
o Fantástico até 1989, sozinho ou dividindo a apresentação com Valéria
Monteiro e Bonner. Mas, em 1985, apresentou, sozinho, uma das edições
mais marcantes do Jornal Nacional. E num domingo. Foi o JN especial
sobre a morte do presidente-eleito Tancredo Neves, depois de 37 dias de
internação e muitas cirurgias. O Fantástico foi interrompido
bruscamente, no meio de uma reportagem, para que o repórter Carlos
Tramontina, hoje apresentador do SP2, anunciasse que o secretário de
imprensa de Tancredo, Antônio Britto, faria o pronunciamento que ficou
gravado na memória de todos: “Lamento informar que o excelentíssimo
senhor presidente da República, Tancredo Neves, faleceu esta noite, no
Instituto do Coração, às dez horas e vinte e três minutos”. Logo depois
de uma rodada de repórteres, já no cenário do JN, Sérgio, emocionado,
disse para aqueles que ligavam a televisão naquele momento: “O
presidente Tancredo Neves está morto, como acaba de anunciar o
secretário de imprensa, Antônio Britto”. Mudou de câmera e leu, com o
tom certo que fez dele um mestre, o editorial que visava a homenagear
Tancredo e consolar o país, tomado por comoção. O início dizia assim:
“Nessa hora de profunda tristeza, o Brasil se sente mais só. Todos nós
brasileiros estamos sofrendo muito. O presidente nos deixa, entre
lágrimas e saudades, a certeza de que haveremos de viver uma Nova
República”. E, por horas, ancorou aquela cobertura histórica.
Em
1989, voltaria a se dedicar exclusivamente à apresentação do Jornal
Nacional ao lado de Cid até 1996, quando passou a ser o titular do Globo
Repórter. São 23 anos comandando o programa, campeão absoluto de
audiência, num longo convívio com a genial Silvia Sayão, diretora do
programa durante todo esse período (e por muitos mais).
Ano
após ano, são inúmeros os episódios marcantes da carreira de Sérgio
(caberiam em mais de um livro). Se escolhi esses para citar é porque
brotaram na conversa que tivemos (na memória dele e na minha, como
espectador e admirador). Olhando para tudo o que Sérgio fez, para o seu
pioneirismo (quem mais pode dizer que estava na estreia de dois
fenômenos como o Fantástico e Globo Repórter?), para a sua imensa
contribuição ao nosso jornalismo, foi impossível não me render aos
argumentos dele. Como dizer não ao desejo de se dedicar mais à família e
à vida, tendo ele sido esse gigante para a Globo? Confesso que fiquei
emocionado, na terça, durante a nossa conversa de arremate. Mas disse a
ele que sim. Sérgio deixará o Globo Repórter no fim de setembro. Mas não
deixará a Globo. Como Cid Moreira, continuará ligado à emissora que a
ele é tão grata. Tenho certeza de que falo por todos nós, seus colegas,
quando, em nome da TV Globo, agradeço seu trabalho magistral. Sérgio,
muito, muito obrigado. Sua contribuição ao nosso jornalismo é
imensurável.
Como
substituir alguém como Sérgio Chapelin? Com duas das mais completas e
consagradas jornalistas da televisão brasileira, Glória Maria e Sandra
Annenberg. Conversei com elas e fiquei imensamente feliz ao perceber o
entusiasmo delas diante do novo desafio, tanto Sandra como Glória. O
Globo Repórter, eu sei, empolga todos nós jornalistas, porque é um
programa vitorioso, de altíssimo nível.
Glória
é uma pioneira: foi a primeira repórter a fazer um vivo no Jornal
Nacional. Se, ainda hoje, um repórter experiente fica ansioso ao entrar
no ar, dá pra imaginar o que foi a proeza quarenta e dois anos atrás, em
1977. E não foi fácil. Todos muito empolgados com a possibilidade de
entrar ao vivo sem equipamentos enormes (mas gigantes em relação aos de
hoje), a ideia foi fazer o vivo na Avenida Brasil, durante um enorme
engarrafamento. Tudo estava certo quando, cinco minuto antes de ir ao
ar, os refletores desligaram. A saída foi criativa: Glória se ajoelhou e
foi iluminada pelos faróis da Chevrolet Veraneio, então o carro de
reportagem da Globo. “Foi um susto, todos ficamos apavorados. Tínhamos
ali os faróis, o problema era que eles não iluminavam o meu rosto. Eu
disse, calma, eu me ajoelho! E tudo saiu à perfeição”, Glória conta.
Saber sair de situações difíceis é uma característica que ela sempre
teve. Novamente pioneira, anos mais tarde, em 2007, fez a primeira
transmissão em Alta Definição da TV Brasileira, na Cidade Proibida, em
Pequim, para o Fantástico.
Foram
muitas as coberturas importantes, e eu ressalto aqui três. Cobriu em
1976 a posse do presidente americano Jimmy Carter, apenas cinco anos
depois de entrar na emissora como estagiária. Foi um acontecimento, um
presidente do partido Democrata depois dos conturbados anos de Nixon e
Gerald Ford. Glória foi a primeira mulher na Globo a cobrir uma guerra, e
coube a ela anunciar o fim da Guerra das Malvinas, em 1982. “Muitos
colegas foram mandados antes de mim, num trabalho muito rico. Quando
Armando Nogueira decidiu me enviar, eu tive a sorte de poder anunciar o
fim do conflito", Glória lembra. Em abril de 1997, Glória foi enviada ao
Peru, onde cobriu o desfecho do sequestro de mais de 100 diplomatas que
estavam numa festa na casa do embaixador do Japão, um drama que se
iniciara em dezembro do ano anterior. Entre as vítimas, o embaixador
brasileiro, Carlos Luiz Coutinho Peres, entrevistado por ela ao deixar o
cativeiro. Foram dez dias tensos, que acabaram na morte dos 14
guerrilheiros do Movimento Revolucionário Tupac Amaru. “Foi uma
cobertura muito intensa, tudo era imprevisível, os olhos do mundo
estavam ali, em Lima, não esqueço nunca aqueles dias”, Glória me disse.
Além disso, foram quatro Olimpíadas (Atlanta, Sidney e Atenas) e duas
Copas do Mundo (Estados Unidos e Brasil).
Em
sua carreira de repórter, Glória esteve em mais de cem países. Poucos
jornalistas conheceram o mundo como ela: terremotos, vulcões, eleições,
além dos programas para o Globo Repórter que fazem o brasileiro viajar
com ela. Entrevistou o ex-presidente americano Gerald Ford, já fora do
poder, o primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin e personalidades como
Michael Jackson, Harrison Ford, Leonardo DiCaprio, Sophia Loren, Nicole
Kidman, Fred Mercury, Madonna e dezenas de outras. Apresentou o Bom Dia
Rio, o Jornal das Sete (predecessor do RJ2), o Jornal Hoje e, de 1998 a
2007, apresentou o Fantástico, onde marcou época, seu nome está para
sempre relacionado à história do programa. Inúmeros domingos históricos,
todas as eleições presidenciais do período, apuração, passo a passo,
noite adentro. Em 2003, com Pedro Bial, fez a primeira entrevista com o
então presidente Lula no Alvorada, mostrando a vida dele em palácio com a
família. “O Fantástico foi uma experiência maravilhosa na minha vida.
Por quase dez anos, estive na casa dos brasileiros mostrando grandes
reportagens, coberturas marcantes. Não houve um assunto de grande
repercussão que não tenha sido tratado com zelo e competência pelo
programa. Fico feliz de ser parte de sua história,”, me disse Glória.
Desde 2010 está como repórter no Globo Repórter.
Ao
lado de Sandra, agora será apresentadora do programa. E continuará a
mostrar ao público a profissional extraordinária que é: tem alma de
jornalista e, como poucos, empatia absoluta com o telespectador.
Quando
convidei Sandra Annenberg para apresentar o Globo Repórter, ela fez uma
observação curiosa: de todos os programas da Globo, era o único que
ainda não tinha apresentado. Ao todo, ficou 18 anos à frente do Jornal
Hoje, pelo qual tem um carinho sem medidas. “É onde me encontrei, sou
feliz, adoro o seu público. Vou sentir saudades, mas sou movida a
desafios, e o Globo Repórter é irrecusável”, Sandra me disse.
Sandra
começou a trabalhar no jornalismo da Globo em 1991. Estreou em rede
fazendo a previsão do tempo no Jornal Nacional, quando Cid Moreira e
Sérgio Chapelin eram os titulares. Foi a primeira mulher a estar toda
noite no JN, na estreia da fase mais profissional da previsão do tempo.
“Foi uma transformação radical, o tempo ganhou espaço, ganhamos uma
assessoria de técnicos, desenvolvemos uma linguagem própria, o clima
virou notícia diária”, lembra Sandra. Na mesma época também apresentava o
São Paulo Já Primeira Edição, um telejornal que, de 1990 a março de
1994, ia ao ar no horário do Jornal Hoje. Em 93, também seguindo os
passos de Sérgio Chapelin, foi titular do Fantástico, ao lado de Fátima
Bernardes e Celso Freitas, onde ficou até 1996.
A
maior emoção foi o domingo em que Ayrton Senna morreu, em 1 de maio de
1994. “Eu e Fátima Bernardes entramos ao vivo ao longo de todo o
domingo, com boletins ao vivo. Seguramos a emoção. Durante o programa,
combinamos de não nos olharmos porque sabíamos que íamos desabar. Ao fim
do programa, olho no olho, dever cumprido e muito choro”, Sandra se
recorda. Outro programa difícil foi o da morte de Lady Di, em 31 de
agosto de 1997. Sandra tinha feito o Jornal Nacional na véspera, quando o
mundo soube do acidente depois das dez da noite: a notícia foi dada em
primeira mão. No domingo, o mundo inteiro estava em choque. “O programa
tinha de refletir a comoção mundial. Todos nós nos preparamos e foi uma
das edições mais marcantes do Fantástico”, Sandra me contou.
Em
1996, voltou para São Paulo para ser a apresentadora do Jornal da Globo
e editora-executiva do jornal até 1998, quando teve seu primeiro
contato com o Jornal Hoje: tornou-se apresentadora e editora executiva
do telejornal. Nessa primeira fase no Hoje, ficou até o ano 2000, e
avalia: “O carinho pelo Hoje foi imediato. É um jornal na hora do
almoço, quando tudo ainda está acontecendo, o desafio de dar a notícia
em desenvolvimento é enorme”. Ela deu então uma guinada em sua carreira.
Aceitou o convite para a chefia do escritório da Globo em Londres e
relembra: “A cobertura do 11 de setembro, em 2001, foi a mais difícil.
Londres era vista como o próximo alvo. Trabalhávamos quase 24 horas por
dia, praticamente morávamos no escritório. Parte da equipe foi para o
Paquistão, de onde cobríamos a Guerra no Afeganistão”. Fora esse evento,
participou da cobertura da eleição de Putin, da segunda Intifada, da
chegada ao mercado do Euro, entre tantas outras. Além do trabalho de
coordenação, Sandra fazia reportagens para todos os telejornais, para o
Globo Esporte, Globo Rural e ancorava de Londres o noticiário
internacional para o JH.
Na
volta, em 2002, apresentou o SP1, da qual foi também editora-executiva.
E, em 2003, assumiu novamente o Hoje. Participou das coberturas dos
dois últimos conclaves, o que escolheu Bento XVI e Francisco. “Foram
grandes desafios em minha carreira. A fumacinha branca anunciando os
novos Papas saíram sempre quando eu estava no ar. É emocionante dar essa
notícia em primeira mão aos brasileiros”, Sandra lembra com orgulho.
Nesses anos todos, muitas vezes entrou no ar para dar um “plantão” e
permaneceu horas no ar ancorando a cobertura. Para citar apenas dois de
dezenas de exemplos: o acidente aéreo que matou o então candidato à
Presidência Eduardo Campos (que levou o Hoje a ser indicado ao Emmy) e o
brutal assassinato dos estudantes da escola em Suzano. “Não tem jeito,
nesses dias, tudo é susto, tudo é surpresa, tudo começa num boletim e
pode se alongar por horas a fio. É uma adrenalina grande, e difícil,
porque os assuntos são pesados. Mas é nossa obrigação informar”, diz
Sandra.
Por
oito anos, ancorou a edição matutina do Globo Notícia, um boletim que
resumia os assuntos da manhã, mas que crescia de tamanho toda vez que a
notícia se impunha. Em 2014, surgia um novo programa do jornalismo, o
Como Será, que completa amanhã cinco anos. Duas horas que conquistaram o
público nas manhãs de sábado só com boas notícias. No Esporte, cobriu
as Olimpíadas de Atlanta, em 1996, quando ancorava as notícias da noite
ao lado de Fernando Vanucci, e, a do Rio, em 2016. E ancorou para o Hoje
as Copas da Alemanha, da África do Sul e da Rússia.
No
Globo Repórter, como apresentadora ao lado de Glória Maria, vai
continuar a brilhar, a emprestar o seu talento para um dos programas
mais queridos da televisão brasileira.
Glória
e Sandra não abrem mão da reportagem. Glória continuará a fazer as suas
e Sandra as dela. Enquanto uma estiver em campo, a outra apresentará
sozinha e vice-versa. Provavelmente o esquema será assim: um terço com
Glória, um terço com Sandra e um terço com Glória e Sandra, juntas. É
sucesso garantido. O formato do Globo Repórter vai ser modificado para
essa nova fase.
E
como substituir Sandra Annenberg no Jornal Hoje, ela que deu rosto e
voz de forma tão intensa por tantos anos? Com o talento de Maria Júlia
Coutinho, cuja trajetória tivemos todos o prazer de acompanhar e de
aplaudir desde que chegou à Globo, há doze anos.
Da
TV Cultura, onde começou como estagiária, Maju chegou à casa nova com
aquele currículo ideal das carreiras de sucesso no jornalismo. Porque o
primeiro passo na TV pública paulista foi como estagiária. E a caminhada
prosseguiu pela escuta, pela apuração, pela pauta. Dessas atividades de
importância fundamental nos bastidores do telejornalismo, Maju migrou
para a frente das lentes. E caminhos novos se abriram imediatamente.
Primeiro como repórter, depois como apresentadora, ao lado de Heródoto
Barbeiro. “Foi muita rua, muito chão, um aprendizado diário. E desde
cedo senti a importância do trabalho dos jornalistas. Como numa matéria
que começou cobrindo um acidente numa obra civil, desdobrou-se mostrando
as condições ultrajantes em que os serventes de pedreiros trabalhavam e
terminou com a Delegacia Regional do Trabalho obrigando a empresa a não
somente melhorar as condições, mas a pagar a passagem para aqueles que
desejavam voltar para o Nordeste. O jornalismo torna isso possível”, diz
Maju. E foi ainda na TV Cultura que Maria Júlia recebeu um prêmio de
que se orgulha enormemente, com justiça: menção honrosa no Vladimir
Herzog de Anistia e Direitos Humanos. “Foi uma ideia simples, mas
reveladora. Saí às ruas perguntando às pessoas qual era a cor da minha
pele. Diziam tudo, menos que eu era negra. Quando perguntava por que,
algumas diziam que não queriam me ofender. Um jeito simples, mas
contundente de mostrar o racismo”, lembra.
À
Globo, ela chegou em 2007 para a reportagem dos telejornais locais de
São Paulo. “Foram 6 anos de rua, antes de me escalarem como substituta
na previsão do tempo do Globo Rural e do Bom dia Brasil”, ela conta, com
orgulho mais que justificado. Porque a chegada ao "Mapa Tempo", em
2013, foi um marco para Maju e para os telejornais em que atuou. Um ano
depois do Globo Rural e do bom Dia Brasil, quando estreou o nosso Hora
1, a previsão do tempo rapidamente se tornou um momento especial, na
interação perfeita de duas profissionais talentosas: Monalisa Perrone e
Maria Júlia Coutinho proporcionaram ao telejornal caçula da Globo um
clima perfeito (e o trocadilho é involuntário). As duas ofereceram aos
brasileiros um jeito informal, descontraído e natural de informar “com
que roupa” deveriam ir pra rua no dia que começa. E essa citação de Noel
Rosa foi se tornando marca de Maju. E também os neologismos para
designar fenômenos meteorológicos, como a “chuvica”, e termos técnicos
quase impronunciáveis aos não-íntimos dessa área do conhecimento. Até
que, em 2015, semanas antes da estreia de um novo cenário do Jornal
Nacional, chegou o momento de introduzir no horário nobre o estilo de
apresentação da previsão do tempo que Maju tinha imprimido com sucesso
ao Hora Um. E ao vivo, como nunca havia sido feito no Jornal Nacional. O
sucesso não foi surpresa para ninguém que já conhecia o estilo dela.
Mas Maju confessa: “Eu não poderia imaginar como essa exposição a um
público maior, com mais TVs ligadas, causaria uma mudança tão grande
para mim.”
Maju
lembra ainda meio atônita a rapidez com que as novidades foram
surgindo: "No fim daquele mesmo ano, fui convidada pela Organização
Meteorológica Mundial da ONU para participar da COP 21 em Paris, onde
apresentadores do tempo de vários cantos do mundo se informaram melhor
sobre mudanças climáticas.” Maju participou de outros encontros desse
tipo em 2017, em Turim, e em 2018, em Paris novamente.
Ganhou
menção elogiosa da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança
do Clima por ter introduzido informações sobre sustentabilidade e
mudanças climáticas na previsão do tempo do Jornal Nacional. E de tal
forma se dedicou ao tema e se encontrou nessa função que lançou seu
primeiro livro pouco mais de um ano depois de ter chegado ao JN:
“Entrando no Clima”, um almanaque sobre fenômenos meteorológicos.
Fora
do quadro da previsão do tempo, sentada à bancada, Maju apresentou o
Jornal Hoje pela primeira vez em 2017. No ano seguinte, foi convidada
pelo Sistema Globo de Rádio para um programa de entrevistas. Em janeiro
deste ano, um teste de surpresa: “Encarei 7 de horas de ancoragem ao
vivo no JH na cobertura da tragédia do rompimento da barragem de
Brumadinho.”
E
foi no mês seguinte que Maju estreou na bancada do Jornal Nacional,
pouco menos de 4 anos depois de ter passado a apresentar a previsão do
tempo no painel em que interage à distância com Renata e Bonner.
Agora
como titular da apresentação do Jornal Hoje, Maria Júlia Coutinho
repetirá um caminho que Sandra Annenberg também trilhou, do mapa tempo
para a bancada. E o público poderá acompanhar mais essa etapa de uma
carreira solidamente construída e merecidamente aplaudida.
Maju
assumirá a bancada no final de setembro, e a comandará sozinha (o
formato do Hoje corresponderá a essa nova realidade). Até lá, Sandra
continuará a comandar o Hoje.
Escrevo e-mail tão longo porque é preciso cultivar a história dos que se dedicam a essa nossa profissão tão bonita.
A Sérgio, Glória, Sandra e Maju, desejo toda sorte do mundo.
Ali Kamel”