Beijar na boca é um dos sinais de carinho e amor mais comuns entre os
seres humanos. Mas, este simples gesto pode causar a propagação de
algumas doenças. Isso porque o beijo é capaz de transmitir infecções
causadas por vírus, bactérias e fungos. “Por meio da saliva, há a troca
de milhões de microrganismos causadores de doenças como a mononucleose,
gripe, herpes, meningite, sífilis, caxumba e cárie. Isso, porém, não
significa que a pessoa precise ficar assustada cada vez que beijar
alguém, pois os casos mais comuns são de curta duração e de fácil
tratamento, basta ter a atenção necessária para não deixar a doença
avançar”, explica o Dr. Claudio Gonsalez, infectologista do Hospital
Santa Paula.
Como evitar esses contratempos? Fácil, basta manter uma boa
higienização bucal para evitar a proliferação dos microrganismos
causadores e ficar de olho no sistema imunológico, pois pessoas que
estão com o sistema de defesa do corpo vulnerável ficam mais propensas a
contrair a doença, esclarece o infectologista. E, ao contrário do que
muitos acreditam, o HIV e a Hepatite C não são transmitidas através do
beijo, exceto se houver feridas nos lábios ou no interior da boca.
Para não haver mais dúvidas, descubra quais doenças podem ser
transmitidas pelo beijo, previna-se e aproveite este momento especial.
E, caso algum dos sintomas aparece, procure sempre um profissional.
Mononucleose
É muito conhecida pela “doença do beijo”. Ela é causada, na maioria das vezes, pelo vírus Epstein-Barr (EBV), componente da família do vírus da herpes. É transmitida, em grande parte, através da saliva – pode ser transmitida também pela exposição a tosses e espirros, bem como o compartilhamento de talheres e outros objetos, como copos e colheres e garfos mal lavados. Uma vez espalhado, esse vírus entra em contato direto com a nossa orofaringe – parte da garganta logo atrás da boca – para, depois, atingir os linfócitos B, isto é, os glóbulos brancos responsáveis pela produção de anticorpos, conta a Dra. Caroline Alexandra Pereira, ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana e endoscopia ginecológica. Sintomas: febre elevada, podendo chegar até a 40°C, fadiga extrema, sensação geral de mal estar, dor e inflamação na garganta, amígdalas inchadas, inchaço dos gânglios linfáticos no pescoço e axilas, dor de cabeça, erupção cutânea e baço inchado, enumera a ginecologista.
Tratamento: segundo o Dr. Claudio Gonsalez, não há um tratamento específico para a mononucleose, uma vez que o corpo é capaz de eliminar o vírus sozinho. Neste caso, o mais recomendado é repouso e beber muito líquido. Os medicamentos receitados são para o controle dos sintomas, como dipirona e paracetamol e pode levar até dois meses até que a infecção passe.
Gripes e resfriados
Mais conhecida entre todas as doenças, a gripe e o resfriado, ambos transmitidos através da saliva e vias aéreas, são causados por vírus mas, enquanto o último caso é provocado pelo vírus do tipo Influenza, o resfriado pode ser ocasionado por mais de 200 tipos de vírus como rinovírus e coronavírus, conta a Dra. Caroline Alexandra. Sintomas: nos dois casos, a pessoa pode ter febre, dores no corpo e coriza. Mas, no caso da gripe, além das dores serem mais fortes, o paciente também pode apresentar dor de garganta e nos olhos. Outra diferença está no tempo de duração: a infecção pela gripe dura cerca de 7 a 10 dias, enquanto o resfriado vai de 2 a 4 dias, esclarece o Dr. Claudio Gonsalez.
Tratamento: o tratamento indicado é ficar em repouso, ingerir líquidos, alimentos ricos em vitamina C e tomar analgésicos para ajudar a aliviar as dores no corpo.
Herpes de boca
Trata-se de um vírus que entra na pele ou na mucosa e se reproduz. “Um dos problemas dessa doença é que ela é reincidente, ou seja, pode aparece novamente. Isso ocorre porque o vírus migra para uma massa de tecido nervoso da coluna, chamada gânglio da raiz dorsal, onde se reproduz e fica inativo. Ele pode reaparecer quando a pessoa passa por situações de estresse, alteração emocional ou está com o sistema imunológico debilitado”, conta Dr. Claudio Gonsalez.
Sintomas: o
infectologista explica que os sintomas começam com formigamento e
ardência na boca e, logo estouram pequenas bolhas. Depois de um período,
elas começam a desaparecer, deixando úlceras abertas rasas que
cicatrizam com o tempo.
Tratamento: o tratamento inclui o uso de antivirais, que reduzem a incidência do vírus e acelera o processo de cicatrização.
Meningite
Uma das mais graves da lista, a meningite precisa de diagnóstico e tratamento precoces para evitar complicações. “É uma inflamação grave das meninges, que são as membranas que revestem o cérebro e toda a medula espinhal, e pode ser ocasionada por vírus ou bactérias. As bactérias que causam a meningite meningocócica podem ser transmitidas pelo beijo”, afirma Dr. Claudio Gonsalez. Sintomas: febre alta, dor de cabeça, náusea e vômito, confusão mental, rigidez do pescoço, intolerância à luz ou ruídos, cansaço excessivo e manchas vermelhas na pele.
Tratamentos: deve ser feito sob acompanhamento médico, podendo ser tratada com antibióticos, antivirais, sintomáticos ou corticoides.
Sífilis
Mais conhecida como uma doença sexualmente transmissível, a sífilis também pode ser passada através da saliva. A doença é causada por uma bactéria chamada Treponema Pallidum e pode aparecer em diferentes partes do corpo e levar até uma semana após o contágio para aparecer, explica o infectologista. “A sífilis é transmitida pelo beijo se estiver no segundo estágio da doença, ou seja, quando surgem pequenas feridas na boca. O problema é que por ser uma ferida pequena qualquer um pode pegá-la sem nem se dar conta do risco”, alerta a Dra. Caroline Alexandra.
Sintomas: no início há o surgimento de uma
ferida indolor, semelhante a um pequeno caroço rosado que evolui para
uma úlcera avermelhada. Com o desenvolvimento da doença, vão aparecendo
sinais como dores de cabeça, mal-estar, febre, dores musculares e falta
de apetite. Caso não seja tratada, a doença pode provocar aneurisma,
alterações neurológicas e até demência, diz Dr. Claudio Gonsalez.
Tratamento: é feito com o uso de antibióticos como a Penicilina. A dose e a duração do medicamento depende da gravidade e do tempo de contaminação da doença.
Caxumba
Também conhecida como papeira ou parotidite, a caxumba é uma infecção viral transmitida por gotículas de saliva causada pelo vírus Paramyxovirus, que inflama as glândulas salivares e sublinguais, conta o Dr. Claudio Gonsalez. Ela também pode descer para outras glândulas inferiores, podendo afetar os testículos, no caso dos homens, e os ovários, no caso das mulheres, alerta a Dra. Caroline Alexandra. Sintomas: podem levar de 14 a 25 dias para surgir. O mais comum é o inchaço entre a orelha e o queixo devido à inflamação das glândulas. Outros sinais são: dor de cabeça, febre, perda de apetite, sensação de boca seca e dor ao engolir, esclarece o infectologista.
Tratamento: não existe nenhum remédio para a cura da caxumba. A recomendação médica é ficar de repouso até que o inchaço diminua, que costuma acontecer dentro de 5 a 7 dias após o surgimento dos sintomas. Durante esse tempo é indicado a ingestão de líquidos e alimentação pastosa até que o organismo consiga eliminar o vírus.
Cárie
Mesmo que pouco provável a cárie pode, sim, ser transmitida através do beijo. “Para que a cárie se desenvolva é necessário que determinadas bactérias estejam associadas a dietas ricas em açúcares, má higienização oral, baixa quantidade de saliva, defeitos no desenvolvimento do dente, entre outros. Beijar uma pessoa com cárie não necessariamente fará com que você tenha também”, conta o dentista Dr. Eduardo Yamaguti. Ou seja, a bactéria pode até ser transmitida mas, se a saúde bucal estiver em dia, ela dificilmente irá de desenvolver.
Sintomas: em uma
primeira etapa a cárie causa um ataque superficial no esmalte, uma lesão
indolor que pode se recuperar sozinha com uma boa higienização. Passado
um tempo, se não bem cuidada, a lesão se aprofunda formando uma
cavidade. Neste caso, é normal sentir dor quando se come certos
alimentos – doces ou ácidos – ou por conta de mudanças de temperatura,
explica o dentista Dr. Rogério Marques. “Uma cárie que não é tratada
atinge o nervo do dente, podendo causar dores fortes, pulsáteis ou
contínuas e até mesmo infecções localizadas ou na face”, completa.
Tratamento: quando a cárie já formou uma cavidade é necessário que um profissional remova o tecido dentário comprometido para, então, restaurar o restante. “Nos casos em que o problema comprometeu grande parte do dente, pode-se necessitar extrai-lo, uma vez que nem sempre há possibilidade de reparação”, diz o Dr. Rogério Marques.