O
primeiro debate entre presidenciáveis aconteceu nesta quinta-feira, 9,
em São Paulo e deu o tom do que parece ser uma das campanhas mais
singulares dos últimos anos. A começar pelo elefante na sala que é a
ausência do primeiro colocado nas pesquisas. Preso na sede da Polícia
Federal em Curitiba-PR, o ex-presidente Lula —candidato pelo PT— teve
pedido de ida ao debate negado pela Justiça. A juíza Bianca Georgia Cruz
Arenhart decidiu negar o recurso, por considerar que o PT não tem
legitimidade para propor a ação, que deveria ter sido apresentada pela
defesa de Lula.
Impossibilitado
pela Justiça de ter seu candidato no debate, o PT tentou emplacar a
ideia de enviar o ex-prefeito de São Paulo e candidato a
vice-presidente, Fernando Haddad como um representante de Lula. A ideia
foi vetada pela Rede Bandeirantes que promove o debate. Em protesto, o
ex-presidente publicou uma carta aberta em que questiona a decisão.
Como
medida paliativa, o PT ainda decidiu promover um debate alternativo com
transmissão via internet no mesmo horário do evento da Band. Outro
barrado no debate que fez bastante barulho foi João Amoêdo. O candidato
a presidente pelo Partido Novo não foi convidado porque sua legenda não
tem ao menos cinco representantes no Congresso o que, conforme a lei
eleitoral, o exclui automaticamente do debate. Além de Amoêdo, José
Maria Eymael (DC), Vera Lúcia (PSTU) e João Goulart Filho (PPL) também
foram barrados com base na mesma regra.
Apesar
de não ser o único barrado, Amoêdo foi de longe quem mais fez barulho. O
candidato organizou uma abaixo-assinado que ultrapassou as 90 mil
assinaturas e tentou emplacar uma hashtag que pedia sua presença no
evento no Twitter. Militantes do Novo ainda fizeram uma manifestação na
porta do Grupo Bandeirantes. Marina Silva teve sua presença garantida no
evento graças ao seu bom desempenho nas pesquisas eleitorais.
Emprego e troca de farpas
Na
primeira parte, todos os candidatos responderam a mesma pergunta sobre
desemprego. Álvaro Dias (Podemos) falou sobre sua candidatura e não
respondeu a pergunta. Cabo Daciolo (Patriota) também não se ateve a
pergunta. Alckmin (PSDB) se ateve ao tema e apresentou propostas. Marina
Silva focou que um dos caminhos para solução do problema seria a
recuperação da credibilidade do governo. Jair Bolsonaro (PSL) agradeceu a
Deus e defendeu a redução de direitos trabalhistas como um possível
caminho para criação de empregos. Guilherme Boulos (PSOL), por sua vez,
registrou protesto sobre o veto a presença do ex-presidente Lula no
debate e defendeu a retomada de investimento público e redução dos
privilégios fiscais dos mais ricos para reduzir o desemprego.
O
candidato do MDB, Henrique Meireles respondeu a pergunta falando sobre a
sua própria carreira e afirmando que não se “cria emprego no grito”,
mas com a retomada de investimentos. Ciro Gomes decidiu defender
investimentos para criação de empregos e lembrou do apoio de Geraldo
Alckmin e do PSDB a reforma trabalhista que, segundo ele, “aumentou o
desemprego e reduziu direitos trabalhistas”. Ciro terminou sua resposta
prometendo “ajudar brasileiros devedores a limparem seus nomes no SPC”.
Um dos momentos mais marcantes do primeiro bloco foi a troca de farpas entre Guilherme Boulos e Bolsonaro. O candidato do PSOL chamou Bolsonaro de machista, racista, homofóbico e de fazer da política um “negócio”. Boulos ainda
pergunta sobre a Wal —Walderice dos Santos da Conceição é supostamente
uma funcionária fantasma do gabinete de Bolsonaro que vive no interior
fluminense e é conhecida como Wal do Açaí. Irritado, Bolsonaro preferiu
desqualificar o candidato do PSOL na réplica e na tréplica. “Eu não vim
aqui bater boca com um cidadão desqualificado”, esbravejou Bolsonaro ao
abrir mão do tempo que tinha para responder.
O Yahoo Notícias
fez uma breve análise do desempenho de cada um dos candidatos. Veja
também algumas das checagens da Agência Lupa realizadas durante o
debate.
Geraldo Alckmin
– O presidenciável tucano desviou de polêmicas. Focou sua atuação em
problemas caros ao eleitorado como desemprego e violência. Mostrou
habilidade ao responder Marina Silva o questionamento sobre desvios
éticos e o apoio do centrão. Ele capitalizou com o eleitorado
anti-petista ao lembrar da trajetória da ex-senadora no partido.
Guilherme Boulos
– Um dos mais incisivos durante o debate, o candidato do PSOL fez
questão de se colocar como antagonista ao projeto de Jair Bolsonaro. Ele
chegou até a desestabilizar o adversário por breve momento. Também
tentou colar nos rivais o rótulo de representantes da “velha política”.
Não tergiversou sobre temas polêmicos como o aborto.
Ciro Gomes –
O candidato do PDT foi um dos menos acionados pelos adversários. Tentou
responder de forma programática a maioria das perguntas sem deixar de
cutucar alguns adversários diretos como Geraldo Alckmin. Fez questão de
lembrar que os tucanos apoiaram a controversa reforma trabalhista de
Michel Temer.
Henrique Meirelles
– O candidato do MDB tentou se apresentar ao eleitorado que ainda não o
conhecia e se descolar da imagem de banqueiro na política. Acabou
sofrendo certo desgaste no embate com Álvaro Dias (Podemos) logo em
economia —tema em que é especialista. Não soube lidar com o rótulo de
representante do governo de Michel Temer.
Álvaro Dias –
Candidato do Podemos tentou surfar na popularidade do juiz Sérgio Moro
ao fazer um convite aberto ao Ministério da Justiça. Exaltou a Lava
Jato, atacou a “velha a política” ao defender a necessidade de reformas.
Se envolveu em um entrevero com Henrique Meirelles (MDB) sobre economia
e saiu-se bem. Fez questão de exaltar seu companheiro de chapa Paulo
Rabello de Castro (PSC).
Jair Bolsonaro
– Candidato do PSL foi o único a pedir e ter direito de resposta após
ser chamado de racista, machista e homofóbico por Guilherme Boulos
(PSOL). Mostrou certo desequilíbrio ao responder sobre Walderice dos
Santos da Conceição que é supostamente uma funcionária fantasma de seu
gabinete. Derrapou mais uma vez em economia. Foi questionado por Ciro
Gomes sobre o que faria para ajudar os 60 milhões de brasileiros
cadastrados nos serviços de proteção ao crédito e preferiu ironizar ao
invés de responder a pergunta. Foi pouco atacado por outros candidatos e
mostrou habilidade ao guardar para o final a defesa de suas posições
polêmicas como ideologia de gênero, aborto, feminismo e petismo.
Marina Silva
– A candidata da Rede tentou colar em Geraldo Alckmin (PSDB) o rótulo
de candidato do “centrão” e do fisiologismo, mas foi habilmente rebatida
pelo tucano. Levantou discussões como a importância do saneamento
básico no combate a doenças. Fez uma dobradinha com Ciro Gomes para
capitalizar votos pelo seu papel e do dele na transposição do rio São
Francisco e mostrou um posicionamento repaginado sobre o aborto ao
defender um plebiscito para tratar do tema.
Cabo Daciolo
– Ilustre desconhecido da maioria do eleitorado brasileiro, o candidato
do Patriota acabou chamando atenção por seus excessos retóricos, uso
indiscriminado de informações imprecisas e passagens da Bíblia. Atacou
todos os seus adversários e, bem ou mal, agora é conhecido por mais
gente.