A expectativa de uma ampla adesão à greve geral contra as
reformas do governo de Michel Temer (PMDB), programada para esta
sexta-feira (28) em todo o país, pode ter um impacto significativo na
votação dos carros-chefes do Executivo, como é o caso da Reforma da
Previdência, que será apreciada na comissão especial da Câmara dos
Deputados no dia 2 de maio, e da Reforma Trabalhista, aprovada em plenário nesta quarta-feira (26) e que agora segue para votação no Senado Federal.
Na opinião do especialista Thomaz Favaro, Temer desconsiderou o fator de influência das centrais sindicais, que devem se unir para a paralisação desta semana.
“A greve mostra que o governo subestimou o poder de mobilização das centrais sindicais; vale lembrar que, até o ano passado, o movimento estava dividido entre as centrais mais ligadas aos partidos de esquerda, como a CUT e outras, e as de perfil político mais moderado, como é o caso da UGT e a Força Sindical. Temer pensou, então, que manteria apoio das centrais mais governistas, mas a alta adesão à greve indica que o governo errou neste cálculo”, explica o diretor-associado da Control Risks para o Brasil e Cone Sul.
Para Favaro, isso aumenta a pressão nos parlamentares que estão avaliando as duas principais propostas do Executivo.
Protesto contra a reforma da Previdência em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters)
Cenários prováveis
Tal pressão não deve, segundo as projeções do analista, alterar radicalmente o texto de ambas as reformas. A exemplo da Reforma da Previdência, durante seu processo de tramitação no Congresso, algumas alterações foram consideradas, o que para Favaro é consequência de um “debate saudável dentro da democracia”.
“A Reforma da Previdência tem como objetivo equilibrar as contas públicas. Independentemente das negociações, o cerne dessa questão deve permanecer, embora exista o risco de a greve aumentar tanto a tensão a ponto de o texto ser distorcido”, pontua o analista.
Favaro trabalha com três cenários, sendo o mais improvável a cassação de Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que atualmente julga as contas de campanha da chapa do peemedebista com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
O cenário alternativo que o especialista enxerga seria justamente aquele em que o governo não consegue aprovar suas reformas por perda de capital político. “As dissidências dentro da base governista aumentariam e o governo ingressa em um quadro que os norte-americanos chamam de lame duck, que é quando o Executivo já gastou sua relação com o Congresso e entra em um período de baixa produtividade.”
A projeção mais provável, todavia, continua sendo favorável ao presidente. “As circunstâncias mostram que o governo ainda possui condições de conseguir o número de votos necessários para aprovar as reformas até provavelmente o mês de setembro.”
Economia e Lava Jato
Mesmo não sendo o mais provável, Michel Temer pode perder o razoável capital político que possui por outros motivos alheios à greve desta sexta.
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“A expectativa para este ano é de recuperação econômica, mas isso se dará de forma lenta e não deve influenciar positivamente, ao menos de forma significativa, no capital político do presidente”, avalia o analista de risco.
“Além do mais, o governo ainda rema contra a maré em outros aspectos, como na questão da investigação da Lava Jato, que implica em vários membros governistas. A aprovação antecipada das reformas seria, portanto, o cenário mais desejado pelo Executivo neste momento.”
Comunicação falha
Thomaz Favaro considera que o governo Temer enfrenta dificuldades para aprovar seus projetos por não ter se comunicado de forma mais efetiva, inclusive com os próprios parlamentares.
Nesta semana, o PSB fechou questão contra a Reforma Trabalhista e da Previdência.
“Acredito que parte dessa culpa recai sobre os articuladores do governo no Congresso. Vale lembrar que, logo no começo, Temer perdeu alguns de seus principais articuladores devido a escândalos de corrupção, como foi o caso de [Romero] Jucá”, destaca.
“Vejo também uma falha no trabalho de convencimento da população brasileira a respeito do real estado das finanças públicas do Brasil. É um assunto de difícil compreensão e as pessoas precisam entender o tamanho do déficit [das contas públicas], bem como as projeções de crescimento da dívida.”