Chuvas isoladas e fora de época, características do segundo semestre do
ano, trazem um alento para a situação de seca enfrentada pelo Estado do
Ceará. Cuidados com a saúde, no entanto, devem ser redobrados,
especialmente os acometidos por doenças de base respiratória, como as
alergias. Isso porque as mudanças bruscas de temperatura, aliadas à
estação de ventos fortes, contribuem para potencializar essas
enfermidades.
Nesse contexto, o período é favorável ao desencadeamento,
principalmente, de crises de rinite alérgica, asma e conjuntivite
alérgica, segundo explica a presidente da Associação Brasileira de
Alergia e Imunologia (Asbai) Regional Ceará, Fabiane Pomiecinski. "A
gente percebe que todos os pacientes com essas doenças têm uma piora no
segundo semestre, por causa dos ventos, mudança climática e até mesmo
por coincidir com a época de floração do cajueiro".
Porém, a especialista ressalta que os fatores não causam as doenças,
apenas favorecem o surgimento das patologias em quem já é alérgico à
poeira, ácaros, pelos, mofo e etc. Conforme explica, os ventos fortes
carregam os ácaros e os demais causadores das doenças e, por isso,
facilitam muito o surgimento das crises. "E quando chove fica muito mais
úmido, e essa umidade contribui para a proliferação de ácaros e fungos
no ambiente. Além disso, a mudança brusca de temperatura facilita uma
irritação na mucosa nasal".
As crianças, diz ela, são as mais vulneráveis e ainda estão sujeitas a
adquirir viroses e infecções em ambientes conjuntos, como a escola, que
agravam ainda mais o quadro alérgico. Entre as orientações divulgadas
aos alérgicos nesta época do ano, de acordo com a médica, está a
necessidade de lavar frequentemente o nariz com soro fisiológico, não
descuidar das medicações de uso contínuo, ingerir bastante água durante o
dia e evitar os principais causadores das alergias. "Como elas têm
muito mofo não é bom ter plantas dentro de casa; é necessário evitar a
secagem de roupas dentro dos apartamentos, que é muito comum; é bom
limpar os ambientes com panos úmidos ao invés de varrer; evitar bichos
de pelúcia, evitar produtos de limpeza com cheiros fortes; e não sair de
um ambiente com ar condicionado direto para o sol", esclarece a médica.
Precipitações isoladas
A chuva fina, porém constante, que atingiu o começo da manhã de ontem
foi um exemplo de precipitação isolada e que pode gerar mudanças de
temperatura. Também é conhecida como "chuva do caju", por coincidir com o
período de floração dos cajueiros e início dos frutos.
De acordo com as informações do meteorologista da Fundação Cearense de
Meteorologia (Funceme), David Ferran, as chuvas deste período são
provocadas pela interação da brisa terrestre com os ventos alísios, formando, assim, linhas de nuvens que, por sua vez, causam chuvas
isoladas na Região Metropolitana de Fortaleza. "É um fenômeno que pode
acontecer todos os dias, mas com horário definido, durante a madrugada e
o começo da manhã, horários em que a brisa terrestre se intensifica,
amenizando a temperatura em torno de 1ºC", afirma o meteorologista.
A maior velocidade dos ventosos deste segundo semestre, explica, que
podem atingir velocidade média de 32Km/h, com rajadas máximas de até
60Km/h no litoral, é causada pela diferença de pressão na região do
Oceano Atlântico Sul, que aumenta, e a baixa de pressão da zona de
convergência. "O Ceará fica bem no meio dessas duas regiões", esclarece.