quarta-feira, 26 de março de 2025

Réu por tentativa de golpe, Bolsonaro chama acusações de 'graves e infundadas'

Ex-presidente declarou que decisão do STF parece 'algo pessoal' e que discutir 'hipóteses constitucionais não é crime'

Réu, Bolsonaro chama acusações de graves e infundadas
Réu, Bolsonaro chama acusações de graves e infundadas
Foto: Reprodução/GloboNews

Após a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete pessoas por tentativa de golpe de Estado nesta quarta-feira, 26, o ex-presidente falou a jornalistas e classificou as acusações como "graves e infundadas". Em sua fala, ainda fez um balanço dos seus anos de governo e atacou o atual governo e os ministros do STF. 

Antes de iniciar o pronunciamento, Bolsonaro disse estar "feliz" em rever a imprensa que o aguardava para comentar a decisão. Diferente do que fez na terça-feira, 25, Bolsonaro não acompanhou o julgamento na sede do STF. Em vez disso, assistiu aos votos dos ministros no gabinete de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

"Vivemos um momento de intranquilidade no Brasil, por causa da criatividade de alguns", justificou Bolsonaro, lendo um texto de um papel. "Espero botar um ponto final nisso aí. Parece que tem algo pessoal contra mim e as acusações são muito graves, são infundadas".

Segundo o ex-presidente, ele tentou influenciar manifestantes de forma a evitar os atos antidemocráticos que sucederam a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 e que culminaram na depredação dos prédios dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. "Uma das acusações é a de destruição de patrimônio. Só se for por telepatia", disse lembrando que na ocasião estava nos Estados Unidos. "Eu fiz um vídeo pedindo para que eles desmobilizassem. Eu não tinha intenção nenhuma de parar o Brasil, criar o caos".

Bolsonaro reclamou que o conteúdo de uma live feita por ele em 30 de dezembro de 2022, que poderia amenizar as acusações, não consta nos inquéritos conduzidos pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Disse que não foi procurado para fazer nada de errado, se referindo às afirmações de que sabia e manuseou a minuta da tentativa de golpe, e disse que fez a parte dele no jogo democrático. "Sabemos dar valor à liberdade", disse Bolsonaro reproduzindo uma frase dita por ele na ocasião.

Na sequência, voltou a demonstrar desconfiança nas urnas eletrônicas e defendeu o voto impresso. "Não sou obrigado a confiar e acreditar num programador", declarou. "Na Venezuela, só foi possível detectar fraude no ano passado com o voto impresso".

Ele continuou atacando a condução do processo eleitoral, em especial a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano em que perdeu a disputa. "Durante as eleições de 2022, o TSE jogou pesado contra mim e a favor do Lula (...) E mais grave ainda: o TSE fez uma campanha massiva para jovens tirassem os títulos", afirmando que a maioria da faixa etária entre 16 a 18 anos vota na esquerda.

Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) continua o julgamento sobre o recebimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete aliados
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) continua o julgamento sobre o recebimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete aliados
Foto: Antonio Augusto/STF

"Eu que sou golpista?", questionou ao classificar a atuação de instituições como parcial e confirmou que, na época, não quis "passar a faixa (presidencial) para um cara com um passado como o que o Lula tem. Não é crime nenhum não querer passar a faixa".

Em determinado momento do pronunciamento, Bolsonaro afirmou que as discussões que teve com aliados não caracterizariam uma trama golpista. "Os comandantes (das Forças Armadas) jamais embarcariam numa aventura. Discuti, como disse, hipóteses de dispositivos constitucionais. Isso não é crime", justificou. "O senhor discutiu", argumentou um repórter que acompanhava o pronunciamento. Irritado, o ex-presidente falou para o jornalista esperar o momento que abriria para perguntas. "Você não vai me tirar do sério. A maioria aqui já sabe como eu ajo".

Em momento anterior, enquanto contextualizava suas justificativas, ele também se irritiou com uma repórter que o interrompeu para perguntar sobre a decisão tomada pelo STF nesta quarta. Bolsonaro não respondeu o questionamento diretamente.

Ataque à Praça dos Três Poderes, 8 de janeiro de 2023
Ataque à Praça dos Três Poderes, 8 de janeiro de 2023
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Estadão

Sobre os atos de 8 de janeiro de 2023, centro da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Bolsonaro defendeu que as imagens mostradas durante a sustentação da acusação não comprovariam seu envolvimento. "A imprensa só mostrava uma imagem: aquele cara magrinho com uma camisa com a minha estampa na barriga, derrubando o relógio", ironizou.

"Por que estou inegelível? Por que me reuni com embaixadores? Não foi com traficantes no Morro do Alemão, não", reclamou. 

Mais para o final de sua fala, Bolsonaro se concentrou em ataques ao atual presidente brasileiro. "O Lula quer botar o Brasil no colo da China", afirmou. 

Orientado por seus advogados, Bolsonaro encerrou o pronunciamento sem responder aos questionamentos da imprensa.

No julgamento desta quarta-feira, 26, os ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, que compõem a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), formaram maioria para tornar réus o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete por tentativa de golpe. Com isso, ele se torna o primeiro ex-presidente do Brasil réu em um processo desta natureza.

Fonte: Redação Terra