terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

'Tarifaço de Trump' sobre aço e alumínio pode causar desemprego no Brasil; entenda impactos

Plano tarifário de Trump afeta o setor siderúrgico brasileiro, que é um dos maiores fornecedores dessas commodities para o mercado americano

O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá.
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá.
Foto: Adobe Stock

A imposição de uma tarifa de 25% sobre aço e alumínio pelas importações dos Estados Unidos deve afetar diretamente o setor siderúrgico brasileiro, avaliam especialistas do mercado ouvidos pelo Terra. O plano tarifário, engendrado pelo presidente Donald Trump, irá impactar nas exportações e na indústria nacional, com queda na produção de empregos e redução no preço das ações de empresas listadas na B3, a Bolsa de Valores do Brasil.

Além do Brasil, países exportadores de aço e alumínio para os EUA, como Canadá e México, também podem ser diretamente afetados. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá. Em 2024, mais de quatro milhões de toneladas de aço saíram do território brasileiro para o americano, o que representou US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 26 bilhões) na nossa balança comercial e 15,5% da importação americana do produto. 

“O setor siderúrgico brasileiro exporta uma parte relevante de sua produção para os EUA, e a imposição de tarifas pode reduzir essa demanda. Com isso, empresas do setor podem enfrentar dificuldades financeiras, afetando empregos e investimentos. Além disso, se o Brasil decidir retaliar com tarifas sobre produtos americanos, pode haver impactos em outras cadeias produtivas que dependem do comércio bilateral”, diz Hugo Garbe, economista e professor da Mackenzie (UPM).

Bruna Allemann, economista e head da mesa internacional da Nomos, cita outros impactos com as novas tarifas de Trump. Além do risco de queda na produção de emprego, a especialista afirma que haverá uma perda de competitividade e redução do superávit comercial. Sobre o primeiro ponto, ela explica que com a nova tarifa, empresas brasileiras precisarão reduzir margens para manter preços competitivos ou buscar novos mercados.

Em relação a redução do superávit comercial, a explicação dada é que os Estados Unidos são um dos maiores parceiros comerciais do Brasil. Se as exportações de aço diminuírem, o saldo comercial brasileiro pode ser afetado negativamente, reduzindo o fluxo de dólares para o País.

“Caso as exportações diminuam, pode haver um excedente de oferta no mercado interno, o que poderia pressionar os preços para baixo. No curto prazo, as empresas brasileiras podem buscar mercados alternativos para seus produtos, mas a realocação pode não ser imediata, causando possíveis perdas financeiras”, alerta Bruna Allemann.

Carlos Honorato, economista e professor da FIA Business School, indica que esse cenário talvez possa ser contornado com maior exportação à China e outros mercados. Atualmente, os Estados Unidos representam o principal mercado para as exportações de aço do Brasil. Em 2024, segundo dados do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, os Estados Unidos foram o destino de 47,9% das exportações brasileiras do grupo de aço e ferro.

“A produção de aço bruto no Brasil para 2025 está projetada para uma queda de 0,6%, acompanhada de uma redução de 0,8% nas vendas internas. Esses fatores reforçam a perspectiva de redução da presença dos EUA como principal destino das exportações brasileiras de aço”, diz Honorato.

Efeito para nos EUA

Nos EUA, a elevação das tarifas pode resultar em aumento nos preços de produtos que utilizam aço e alumínio em sua fabricação, como automóveis, eletrodomésticos e equipamentos de construção.  Essa alta deve recair sobre os consumidores americanos. 

“Esses setores podem ver seus custos aumentarem, o que pode se refletir em preços mais altos para os consumidores. Além disso, se outras indústrias forem prejudicadas, a medida pode gerar perdas de empregos em áreas que dependem desses materiais”, pontua Hugo Garbe.

Bruna Allemann, cita detalhadamente como a tarifa deve impactar em cada setor: 

  • Automóveis: A Ford e a GM já indicaram que podem repassar custos para os consumidores, aumentando o preço final dos carros novos.
  • Construção civil: Infraestrutura, obras e construções comerciais podem sofrer com alta nos preços de materiais.
  • Indústria aeroespacial: Boeing e Lockheed Martin usam grande quantidade de alumínio, e podem ser forçadas a buscar alternativas mais caras.

“O protecionismo tem como objetivo proteger empregos e fortalecer setores estratégicos, mas seu impacto nem sempre é positivo no longo prazo. No cenário atual, essa decisão pode trazer mais incertezas para o comércio global. O desafio será encontrar um equilíbrio entre fortalecer a indústria americana e evitar impactos negativos para parceiros comerciais e consumidores”, diz Hugo Garbe.

Reação

Falando a jornalistas na manhã dessa segunda-feira, 10, o ministro Fernando Haddad disse que o governo iria aguardar a oficialização de novas medidas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na área tarifária para posteriormente se manifestar

“O governo brasileiro tomou a decisão sensata de só se manifestar oportunamente com base em decisões concretas e não em anúncios que podem ser mal interpretados ou revistos. Vamos aguardar a orientação do presidente”, disse Haddad. Ainda segundo o ministro, “não é correta a informação de que o governo Lula deve taxar empresas de tecnologia se o governo dos Estados Unidos impuser tarifas ao Brasil”, disse. 

Possibilidades diante da elevação da tarifa 

Negociação direta com os EUA: O governo pode tentar negociar isenções ou novos acordos comerciais, como ocorreu em 2018, quando parte das exportações brasileiras foi isenta de tarifas americanas.

Retaliação comercial: O Brasil pode adotar medidas de represália, como tarifar produtos agrícolas dos EUA, especialmente soja e carne, setores em que os americanos são dependentes do mercado brasileiro.

Diversificação de mercados: Buscar novos parceiros comerciais, fortalecendo exportações para Europa, América Latina e Oriente Médio. 

Estímulo à indústria local: Medidas internas, como incentivos fiscais e subsídios, podem ajudar as siderúrgicas brasileiras a se adaptarem à nova realidade.

Impacto da tarifa para as empresas do setor siderúrgico

Empresas siderúrgicas brasileiras listadas na B3, como Gerdau, CSN e Usiminas, podem enfrentar desafios devido à redução da competitividade de seus produtos no mercado americano. 

"As empresas do setor de siderurgia já têm sentido impactos diretos ou indiretos. Certamente as empresas sofrerão maiores perdas nas cotações até termos uma clareza de como esse processo ocorrerá e se realmente esses aumentos afetarão a oferta e os preços globais", diz Carlos Honorato.

Embora seja ruim para o setor, análises de Bruna Allemann indicam que a Gerdau, por possuir operações nos Estados Unidos, pode ser menos afetada ou até se beneficiar da medida, enquanto CSN e Usiminas podem sofrer impactos mais significativos.

  • CSN (CSNA3): Exporta cerca de 30% da sua produção para os EUA e pode ser uma das mais afetadas, com impacto negativo nas receitas.
  • Usiminas (USIM5): Voltada ao mercado interno, mas pode sofrer pressão caso o excesso de oferta de aço no Brasil leve a uma queda nos preços.
  • Gerdau (GGBR4): Possui operações dentro dos EUA, o que pode mitigar os impactos, já que parte da produção ocorre localmente e não será tarifada.
Fonte: Redação Terra