Uma postagem da médica Leanara Amaro Rocha, da cidade de Guajará-Mirim (RO), revoltou internautas e chegou até o vereador Rivan Eguez (PV), que informou ter levado o caso às autoridades.
Nos
Stories do Instagram, a médica, cuja formatura foi antecipada em maio
de 2020 devido à necessidade por profissionais diante da pandemia,
postou que no mesmo plantão havia intubado dois pacientes. Na sequência,
contudo, escreveu: "kakakakka Mais um eu peço música no fantástico",
junto com um emoji de risada. Diante das críticas, Leanara Rocha
divulgou uma carta aberta pedindo desculpas à população.
"Peço
publicamente desculpas a todos os conterrâneos, familiares, amigos de
familiares, conhecidos, aos gestores desse Município, meus colegas de
trabalho e aos principais os meus pacientes por uma publicação não
pensada, sem teor nenhum de maldade ou sentimentos ruins que foi
reproduzida inúmeras e inúmeras vezes com teor totalmente diferente e
discrepante do sentimento expressado naquele momento: "Rir pra não
chorar". Jamais e por hipótese nenhuma comemoraria de maneira cruel
sobre os péssimos desfechos da Covid-19", disse a médica em trecho da
carta.
Na
terça-feira da última semana, dia 19, o vereador Rivan Eguez manifestou
em seu perfil do Facebook "muita revolta e indignação" em razão do post
da médica.
"De imediato entrei em contato com o Plantão do Ministério Público", contou Eguez.
O
vereador disse ter recebido orientação para "cobrar providências" da
direção do Hospital Regional, da Secretaria Municipal de Saúde e da
Prefeitura.
"Solicitei
tanto do diretor do hospital quanto do secretário, que tomassem as
devidas providências que o caso requer", acrescentou.
Segundo
Eguez, o secretário Rafael Ripke Tadeu Rabelo "se prontificou a fazer
as devidas apurações, para verificar a veracidade do fato narrado, assim
bem como, de imediato publicar uma 'Nota de Repúdio', repudiando esse
INFELIZ EPISÓDIO".
Em
nota divulgada no dia 20, a prefeitura de Guajará-Mirim, em nome da
prefeita Raissa Bento, afirmou que "não concorda, não compactua e
repudia de todas as formas a atitude da Médica".
De acordo com o comunicado, Leanara Rocha "já havia pedido exoneração" no início deste ano.
"E logo depois ficou afastada por problemas de saúde", informou.
Quanto
ao plantão feito pela médica que foi registrado em foto, a prefeitura
esclareceu que a profissional "se prontificou em ajudar nos
atendimentos", "mesmo estando afastada e assegurada por atestado
médico".
"Diante
do acontecido já tomamos todas as medidas cabíveis que estavam ao nosso
alcance e dentro da competência do Município. E continuaremos tomando
todas as providências para que fatos como este não entrem em uma
estatística", concluiu.
Leia abaixo, na íntegra, a carta aberta divulgada pela médica Leanara Rocha:
"Carta aberta à população de Guajará-Mirim
Diante
dos acontecimentos envolvendo meu perfil pessoal, o instagram, e das
inúmeras repercussões negativas a respeito de um post realizado em modo
de stories achei justo me posicionar a respeito do assunto:
Eu
sou Leanara Amaro Rocha, pros meus amigos mais próximos a Léa, a Dra.
Léa. Nascida e criada em Guajará-Mirim até os meus 14 anos, quando tive o
sonho de ser Médica, desde então, fui morar fora junto com meu irmão em
Cuiabá/MT e lá permanecemos por 3 anos sozinhos, um sob
responsabilidade do outro, estudando em escola em período integral; após
todos esses anos e não suficiente para ingressar em uma faculdade de
Medicina, cursei mais um ano de cursinho em Porto Velho/RO sendo
aprovada em uma instituição particular para Medicina em que permaneci
por um ano.
Devido
as inúmeras intempéries financeiras de só quem tem um filho em período
de Graduação em instituição particular pode entender, foi necessário
buscar novas oportunidades, sendo aprovada um ano depois na Universidade
pública do Estado.
Tive
formatura adiantada no período de pandemia pela COVID-19 em 2020 tendo
em vista o status de calamidade pública do nosso Estado, sendo
Guajará-Mirim/RO uma das cidades com maior taxa de mortalidade do Estado
na época com falta de profissionais médicos para linha de frente.
Não
posso dizer que essa era minha primeira opção de emprego, nem a segunda
e por muitos e muitos dias sofri pessoalmente com a realidade do
município em que nasci, tive pesadelos, pensei na minha família que
ficou aqui, nos meus amigos que ficaram, nos amigos dos meus pais, no
meu pai. E se fosse algum deles? E se algum deles precisar de assistênca
e essa não estiver disponível? E se?
Com
tantas dúvidas e contrariando todos aqueles que são mais próximos de
mim, decidi voltar a Guajará-Mirim, na intenção de tocar uma vida, de
melhorar a realidade de pelo menos uma pessoa, isso para mim já teria
pago todos os meus anos de estudo, de morar fora sozinha, de perder dias
com as pessoas que amo por um bem maior.
Peço
publicamente desculpas a todos os conterrâneos, familiares, amigos de
familiares, conhecidos, aos gestores desse Município, meus colegas de
trabalho e aos principais os meus pacientes por uma publicação não
pensada, sem teor nenhum de maldade ou sentimentos ruins que foi
reproduzida inúmeras e inúmeras vezes com teor totalmente diferente e
discrepante do sentimento expressado naquele momento: "Rir pra não
chorar". Jamais e por hipótese nenhuma comemoraria de maneira cruel
sobre os péssimos desfechos da Covid-19.
Trabalho
nesta cidade desde o dia em que me formei Médica em maio de 2020, às
vezes com uma carga horária longa de hora de trabalho sem descanso e sem
colegas para revezar o plantão: 36h, 48h, 72h... E neste último mês fui
afastada pelos meus colegas por exaustão profissional. Síndrome de
Burnout, e mesmo estando de atestado para descansar, voltei, tive um
plantão tumultuado e acabei removendo paciente grave em 8h de viagem
para o Hospital Referência.
Todos os meus pacientes e as pessoas que chegarem até mim serão tratadas com respeito, carinho e dedicação até que se recuperem.
A essas pessoas todo meu respeito e pedido de desculpas.
Abraços