A cada
cem testes realizados em farmácia para detectar o novo coronavírus, 15
têm resultado positivo no Brasil, revela pesquisa da Abrafarma
(Associação Brasileira das Redes de farmácias e Drogarias) a que o UOL
teve acesso.
Essa é
a primeira pesquisa do gênero desde que a oferta de testes em farmácia
foi aprovada pela Anvisa, em 28 de abril, e confirmado por um projeto de
lei em 18 de maio.
De
acordo com a pesquisa, foram realizados 62.660 testes rápidos para
detecção de anticorpos contra o vírus, entre os dias 28 de abril e 14 de
junho. Desse total, 9.584 (15,30%) testaram positivo, enquanto para
53.076 pessoas (84,70%) o resultado foi negativo.
Minas
Gerais é o estado que mais realizou o procedimento: 22.222 pessoas foram
testadas, com 2.522 positivos, ou 11,3% dos casos. É seguido por São
Paulo, com 14.793 testes, 2.101 positivos, 14,2% dos casos.
Os
estados com maior proporção de infectados ficam no Norte e Nordeste. O
Ceará é o primeiro do ranking: 1.786 dos 5.002 testes realizados deram
positivo, ou 35,7% do total. É seguido por Amazonas (31,5%), Pará
(31,3%), Paraíba (31%), Maranhão (30,5%) e Amapá (29%).
"O
alto índice de positivo em alguns locais indica que as pessoas daquela
região já desconfiavam ter contraído a doença", explica o presidente da
Abrafarma, Sergio Mena Barreto. "Muitos vão ao hospital com sintomas,
não são testados, mas ficam 14 dias em quarentena. Quando elas saem,
buscam o teste para saber se teve mesmo o vírus."
O teste
O
teste, cuja coleta se dá por meio de um furo na ponta do dedo, "é uma
fotografia sobre como o organismo está reagindo" depois de ter contraído
a doença, diz Barreto.
"Esse é
um teste que mede a quantidade de anticorpos no organismo ao novo
coronavírus. Ele indica se o paciente já teve contato com ele. Quanto
mais tempo você se afastar da origem da doença, mais anticorpos você
terá", afirma.
Barreto
lembra que os testes em farmácia "não podem ser epidemiológicos porque a
população não está estratificada". Essa era, no entanto, a intenção da
proposta de lei aprovada em maio.
Ela
justificava a aplicação dos testes em farmácia a "tornar massivos os
testes rápidos" para "obter dados sobre a quantidade real de infectados"
no Brasil. Após a decisão federal, no entanto, o setor farmacêutico
rachou.
Poucas farmácias oferecem exame
Enquanto
a Abrafarma defendeu a venda dos testes, a Febrafar (Federação
Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias)
recomendou a seus associados que não fornecessem o exame rápido.
Em
nota, afirma que a aplicação dos testes "exige das farmácias e dos
profissionais envolvidos um cuidado muito grande". "É preciso a
utilização de equipamentos de proteção individual de uso hospitalar que
estão escassos no mercado no momento."
Diz
ainda que a venda do teste poderia "estimular maior circulação de
pessoas com alta probabilidade de contaminação nos estabelecimentos" e
exigiria manter profissionais direcionados "exclusivamente para esses
serviços".
"Isso é
uma bobagem", provoca Barreto. "Você está na guerra, alguém te convoca e
você diz que não quer ir para o front porque terá vítimas?", questiona.
Mesmo
assim, ainda são poucas as farmácias que oferecem o teste, mesmo entre
aquelas ligadas à Abrafarma. Barreto culpa a burocracia.
"A
autorização da Anvisa tem um mês e meio", diz. "Entre a autorização e
realização do teste leva algum tempo. A licença, quem concede, é o
município. Cada cidade exige coisas diferentes para ofertar a licença. A
burocracia é muito grande."
Governo terceirizou teste em massa?
O
executivo lembra que os testes de farmácia "não têm o viés
epidemiológico", como pretendia a lei, e que "o serviço da farmácia é
auxiliar".
"Eu
acho que o governo deveria ter uma estratégia de testar em maior volume.
O teste na farmácia ajuda o cidadão a ter mais segurança em transitar e
voltar ao trabalho, não substitui o teste em massa do governo",
conclui.
Para
quem tem dificuldade em encontrar uma farmácia que ofereça o serviço,
uma plataforma digital chamada Clinicarx criou uma ferramenta que
permite acessar uma relação de farmácias e clínicas onde são realizados
testes para detecção da covid-19.