Após a revelação de novas mensagens trocadas pelo presidente Jair Bolsonaro e o então ministro Sérgio Moro,
a oposição quer unificar pedidos de abertura de Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) no Congresso. A medida é uma tentativa de ganhar força e
pressionar para a criação do colegiado para investigar a suposta
interferência do chefe do Executivo na PF. Há ainda 35 requerimentos de
impeachment de Bolsonaro.
O novo trecho das conversas, revelado pelo Estadão no sábado,
23, evidencia que o presidente falava da Polícia Federal e não da sua
segurança pessoal, quando exigiu substituições nessa área na reunião
ministerial do dia 22 de abril. Mostra ainda que Bolsonaro, antes da
reunião no Planalto, enviou WhatsApp para Moro comunicando que já havia
decidido demitir o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. "Moro,
Valeixo sai esta semana", escreveu o presidente às 6h26 do dia 22 de
abril. "Está decidido", continuou ele, em outra mensagem enviada na
sequência. "Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio
(sic)." O conteúdo contradiz o presidente que alega que falava sobre sua
segurança pessoal de responsabilidade do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI).
Neste domingo, 24, o líder do Cidadania na Câmara, Arnaldo Jardim (SP),
contou que o partido vai trabalhar ao longo da semana para que outros
autores de pedidos de abertura de CPI se unam em um só. Segundo ele,
isoladamente os pedidos estão enfraquecidos. Um dos pedidos de CPI mais
avançados é o encabeçado pelo Cidadania, que tem como foco a investigar
as acusações feitas pelo ex-ministro Moro. "Os pedidos estão andado
paralelo. Cada um tem sua força, mas isoladamente estão fragilizados.
Nossa intenção é que haja uma ação mais coordenada entre as diferentes
iniciativas para buscar concretizar uma proposta única e que posta ter
adesão", disse Jardim.
O número mínimo de assinaturas necessário para instalar a comissão é de
171 parlamentares na Câmara dos Deputados e 27 no Senado.
"A publicação do vídeo da reunião ministerial e das mensagens de
Bolsonaro a Moro agravam a situação política no País", disse, neste
domingo, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), autor de um dos pedidos de
CPI, apenas na Câmara. Ele diz ter coletado 101 assinaturas até o
momento e cita as sessões virtuais, em que parlamentares não precisam
estar presencialmente em Brasília, como um obstáculo.
Para o parlamentar, a unificação dos pedidos de abertura de CPI não
precisa ser formal, reunindo todos os requerimentos em uma peça só. "A
unidade pode se dar na política", disse ao Estadão.
Para o líder do PSB na Câmara, o deputado Alessandro Molon (RJ), as
novas mensagens de Bolsonaro a Moro "confirmam as denúncias de
interferência na Polícia Federal". "O fato também ajuda a esclarecer
porque Bolsonaro olha para o ex-ministro da Justiça na reunião
ministerial - uma confirmação do que já havia dito por mensagem de
WhatsApp. Em outras palavras, como uma peça de um quebra-cabeça, as
novas mensagens contribuem para comprovar os crimes de responsabilidade
de Bolsonaro."
O PSB, por meio de autoria do deputado federal Aliel Machado (PR),
também apresentou requerimento para instauração de CPI para investigar
as acusações de Moro. A legenda protocolou um pedido de impeachment do
presidente Bolsonaro. "O que pode ajudar na abertura do processo é a
pressão popular, que, neste momento, deve se dar pelas redes sociais",
disse Molon.
Caso criada, a CPI poderá solicitar depoimentos e ter acesso a diversos
documentos do governo federal que uma comissão normal da Câmara ou do
Senado não teria. Em 2005, a CPI foi criada para investigar as denúncias
de corrupção nas estatais, mas o foco acabou virando para o mensalão.