Mesmo faltando três dias para o fim do mês, este já é o segundo
fevereiro mais chuvoso da década, segundo a Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Até ontem (26), o órgão já
havia registrado média de 182,8 milímetros para o mês, o que representa
desvio positivo de 54,1%. As precipitações também já superaram o índice
de janeiro deste ano, quando choveu 142,5 mm.
Barragem de Acopiara continua seca, as chuvas registradas nos últimos dias infelizmente não contribuiu para o acumulo de Água no principal reservatório da cidade.
Fevereiro de 2018 foi o mês com maior média de chuvas da década
(196,7 mm). No entanto, se o volume pluviométrico das últimas semanas se
mantiver até o fim deste mês, fevereiro de 2020 ultrapassará esta marca
e passará a ser o mais chuvoso dos últimos 10 anos. O meteorologista do
Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes,
acredita que as chuvas seguirão com boa intensidade no Estado. Ele
pontua que o “Sertão cearense tem boas possibilidades de receber chuvas
pelo menos até a primeira quinzena de março”.
O meteorologista da Funceme, Raul Fritz, também acredita que é
possível superar a média de 2018. “Apesar de ter ocorrido uma redução
das chuvas, é provável a volta de mais chuvas, elevando a média mensal”,
analisa.
Médias elevadas
Fritz explica, ainda, que em março e abril, estatisticamente, a Zona
de Convergência Intertropical (ZCIT) – principal sistema indutor de
chuva no Nordeste – aproxima-se da costa cearense e favorece a
ocorrência de mais chuvas. “A convergência dos ventos do Hemisfério
Norte com o Hemisfério Sul e temperatura elevada das águas superficiais
do Oceano Atlântico Equatorial Sul formam o cenário ideal para chuva em
nosso Estado”.
O período coincide com as celebrações de São José e, por
isso, “o agricultor associa a data a um bom inverno”, reforça o
meteorologista do Inmet, Flaviano Fernandes.
A esperança do sertanejo é transposta às terras produtivas. Diante
dos bons volumes, e da boa perspectiva futura, muitos estão expandindo a
produção. No distrito de José de Alencar, em Iguatu, o agricultor de
base familiar José Cosmo de Jesus aumentou o plantio de milho e feijão
de um para 1,5 hectare. “A gente sempre confia que o inverno vai ser
bom”. A Secretaria de Agricultura de Iguatu estima que, neste ano, a
área cultivada de grãos – 3.160 hectares – será 15% maior do que ano
passado (2.750ha).
Recarga hídrica
Os bons volumes pluviométricos estão beneficiando, também, os
reservatórios cearenses. Até ontem, a Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos (Cogerh) contabilizava oito açudes sangrando no Estado.
Adotando como referência o dia 26 de fevereiro de cada um dos últimos 10
anos, este é o maior número de reservatórios a ultrapassar 100% do
volume. O número, entretanto, pode subir nos próximos dias. Quatro
reservatórios estão próximos da sangria: Acarape do Meio (97,23%),
Gameleira (98,79%), Sobral (97,37%) e São Vicente (98,33%). Outros
quatro estão com volume entre 90% e 94%: Gangorra (91,25%); Várzea da
Volta (91,64%); Jenipapo (93,57%) e Itapajé (91,8%)
Cenário delicado
Apesar da melhoria, a situação ainda inspira atenção. O volume médio
dos 155 açudes monitorados pela Cogerh é de 15,70%, o que representa
2,92 bilhões de m³ de água reservada. No início do ano, este índice era
de 14,50% e, há exatos 12 meses, o volume médio era de 11,14%. A
preocupação reside nos “gigantes cearenses”. O Açude Castanhão, maior do
Estado, acumula apenas 2,56% de sua capacidade. Já o Orós, segundo
maior reservatório, está com 4,75%. Ambos estão situados na Bacia do
Jaguaribe.
O secretário Executivo da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH),
Aderilo Alcântara, explica que, para esses grandes açudes conquistarem
significativa recarga hídrica, são necessárias chuvas elevadas e
próximas. “Precisamos de chuvas mais intensas para a água escorrer nos
riachos, rios chegarem aos pequenos e médios reservatórios e depois aos
grandes”, pontua. Essa análise justifica o porquê de, mesmo diante de
bons índices pluviométricos registrados em fevereiro, ainda existir
açudes em situação delicada. “Se as chuvas forem intensas, mas separadas
por vários dias, ou mesmo se chover acima da média no somatório, mas
com volumes diários reduzidos, não ocorre a tão esperada recarga”,
pontua o gestor.
Diário do Nordeste