sábado, 18 de janeiro de 2020

Déficit recua, mas Ceará ainda precisa de 200 leitos de UTI

Em pouco mais de uma semana, a vida da pensionista Maria Lucimar dos Santos Costa, 65, poderia ter tido rumos trágicos para a família. Isso porque esse foi o exato período em que o filho, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), teve que esperar por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), na rede pública de saúde do Ceará.

Com atuais 722 leitos de UTI conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), o Ceará reduziu um déficit que até 2017 era de 300 unidades. A insuficiência recuou cerca de 33%, mas atualmente, o déficit na oferta ainda preocupa, especialmente para quem precisa de assistência. Segundo aponta o titular da Pasta, Dr. Cabeto, essa redução se deve, em parte, à diminuição do número de dias de permanência dos pacientes na rede hospitalar, em razão de uma melhor eficiência no sistema. "Hoje, com métodos modernos de administração, com outras metodologias, com planejamento da unidade de cuidados especiais e intermediários, nós acreditamos que isso deve dá em torno de 200 leitos de demanda extra no sistema, que vai ser suprido plenamente com as iniciativas do Estado", afirma o gestor.

O secretário se refere à liberação de recursos para a construção de, pelo menos, 200 novos leitos distribuídos em 20 hospitais polos no interior do Estado, em cidades como Iguatu, Crateús, Tauá, Itapipoca e Tianguá. Cada unidade receberá 10 leitos. A expectativa é que estejam prontos para uso em até três anos.

Outros 32 leitos de UTI para adultos e 20 infantis devem ficar prontos, até junho deste ano, segundo Dr. Cabeto, no Hospital Regional do Vale do Jaguaribe, em Limoeiro do Norte. Já em Fortaleza, acrescenta, segue em execução a construção de 40 leitos no Hospital Universitário Walter Cantídio e 32 leitos de UTI Neo Natal na Maternidade Escola Assis Chateaubriand. O prazo de conclusão é de até um ano.

Para o secretário da Saúde, outro reforço significativo virá com a mudança dos serviços do Hospital Geral Dr. César Cals para o novo hospital universitário da Universidade Estadual do Ceará (Uece), que garantirá à rede mais 100 leitos de UTI.

Dos 1.024 leitos de UTIs anunciados pelo Ministério da Saúde em 2019 para o Brasil, 28 foram destinados ao Ceará, atendendo a demandas do Hospital e Maternidade São Francisco de Assis, no Crato; do Instituto PRAXIS e do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), em Fortaleza.

O titular da Sesa explica, no entanto, que essas unidades já estavam disponíveis e em utilização no Estado, passando apenas pelo processo de habilitação. Esse procedimento assegura o recebimento de recursos federais.

"É importante a habilitação e o compartilhamento do custeio junto com a União. O Estado está ora construindo, ora colaborando, mas bancando o custeio inicial de todas essas unidades. No futuro, precisarão ser habilitados pelo Ministério porque o financiamento deve acontecer de forma tripartite", comenta.

Judicialização

O processo que garantiu ao filho da pensionista Lucimar Costa uma vaga de UTI no Hospital Geral Waldemar de Alcantara foi viabilizado pelo Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa) da Defensoria Pública do Estado, sendo essa uma das principais demandas recebidas pelo órgão.

Somente no ano passado, 1.202 atendimentos para abertura de processos judiciais não solucionados de forma administrativa foram registrados. O total representa um aumento de 44% em relação a 2018, quando foram protocolados 834 pedidos.

"Quando ele não conseguia falar levamos na UPA do Eusébio. Lá ele foi bem atendido, fez todos os exames e foi diagnosticado o AVC. Desde então, a família tentou conseguir uma vaga em vários hospitais e nada. Depois de mais de uma semana tentando, eu busquei a Defensoria Pública e no mesmo dia que recebi o número do processo, ele foi transferido", afirma Lucimar Costa.

Sem mencionar números, o secretário da Saúde do Estado reconhece o impacto com a demanda ainda oriunda das ações judiciais, mas enxerga no processo de regionalização da Saúde uma alternativa para que todas as demandas estejam zeradas até o fim do ano.

"As demandas judiciais ainda são grandes, mas o Estado está fazendo uma reanálise dessas demandas, nessa interiorização dos processos, o apoio aos hospitais polos", reforça. De acordo com ele, o objetivo é que grande parte dessas solicitações, como as de cirurgias eletivas, por exemplo, seja atendida a partir deste ano. Dr. Cabeto acrescenta que estão sendo formuladas também ações para outras demandas como cirurgias cardíacas, neurocirurgias e cirurgias oncológicas.

"Estamos elaborando mudanças dos perfis dos hospitais, parte já aconteceu esse ano, que é adequar esses hospitais com uma complexidade maior. Estou falando aqui de uma mudança onde nós devemos durante o ano ampliar ou iniciar serviços de oncologia nos hospitais regionais. Com isso, com serviços de oncologia e hematologia a gente consegue cumprir grande parte dessa demanda", avalia.