A Câmara Municipal de Granjeiro anunciou que
ainda não deve tomar decisão sobre o futuro do prefeito Ticiano Tomé,
que tomou posse após o assassinato do então titular João Gregório Neto,
conhecido como “João do Povo”. Após operação da Polícia Civil, ontem,
que cumpriu mandados de prisão, busca e apreensão de documentos, com o
objetivo de identificar os autores e mandantes da ação criminosa, o
presidente da Casa, vereador Luiz Márcio Pereira, o Marcim, declarou que
“vai esperar ter mais elementos para tomar alguma providência”.
As investigações apontam suposto envolvimento de Ticiano Tomé e do
pai dele, Vicente Félix de Souza, de participação no crime. A Polícia
Civil chegou a pedir a prisão do atual prefeito e de Vicente Félix. A
Justiça, no entanto, negou os pedidos – apenas uma medida cautelar foi
deferida contra Félix. As informações foram repassadas pelo secretário
da Segurança Pública do Ceará, André Costa.
Segundo o presidente da Câmara, “o clima (na cidade) está péssimo”.
“Amanheceu o dia hoje (ontem) com o meu pai na minha cama me acordando e
dizendo que a Polícia estava na casa do prefeito. Todo mundo ficou
mandando foto, perguntando o que estava acontecendo. Eu nem sabia
direito. Soube pela imprensa. Está triste a situação. Ele (Ticiano Tomé)
ainda não foi afastado da Prefeitura. Continua. A gente está aguardando
uma resposta da Justiça”, disse.
Cautela
Segundo o vereador, a Câmara “quer agir quando tiver certeza” e “os
aliados dele defendem, dizendo que ele e o pai são inocentes”. “Soube
pela imprensa que o veículo que foi apreendido ajudou na fuga. Espero
que se resolva logo. Pode ser quem for, a Justiça tem que prender”,
contou Márcio, que conversou com o prefeito ainda nesta semana.
Empossado ainda no fim de dezembro do ano passado, Tomé, que era
rompido politicamente com o prefeito João Gregório Neto, encontrava
dificuldades para montar a sua equipe. A maioria dos funcionários
ligados ao ex-gestor deixou os cargos. Por vários dias, as pastas da
Prefeitura ficaram sem secretários.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a
Polícia levantou provas que apontam que o crime teria relação com
desavenças políticas entre a vítima e outras lideranças da região.
Eleito na chapa de “João do Povo”, em 2016, pelo PSDB, Ticiano Tomé
não faz mais parte dos quadros da legenda, segundo a assessoria de
imprensa do partido. Em nota, o presidente do PSDB em Granjeiro, José
Soares de Macedo, confirmou que o prefeito não integra o quadro de
filiados da legenda tucana e enalteceu os filiados e militantes que
“perseveram na construção e fortalecimento da agremiação no nosso
município”.
Repercussão
O presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará
(Aprece), Nilson Diniz, lamentou o fato e defendeu que as autoridades
consigam desvendar o crime.
“O que a gente queria que o Governo fizesse era elucidar o crime por
conta desse vácuo que fica e essa insegurança. O papel do Estado de
elucidar é para que a gente soubesse quem são os verdadeiros culpados.
Quando se denota que está se encaminhando para um crime político, o que a
gente tem que fazer é lamentar”, disse. A reportagem procurou o
prefeito, por meio do telefone celular, mas as chamadas não foram
atendidas.
Prefeitos do Ceará assassinados
1972 - Armando Arraes Feitosa, então prefeito de Aiuaba
1977 - Expedito Leite, então prefeito de Iracema
1981 - Joaci Pontes, ex-prefeito de Caucaia
1982 - João Terceiro de Sousa, ex-prefeito de Pereiro
1987 - Almir Dutra, então prefeito de Maracanaú
1996 - Antônio Gaudêncio Anário Braga, então prefeito de Irauçuba
1998 - João Jaime Ferreira Gomes Filho, então prefeito de Acaraú
2010 - Antônio Mardônio Diógenes Osório, ex-prefeito de Pereiro
2019 - João Gregório Neto, então prefeito de Granjeiro