A contagem regressiva para a Eleição 2020 aumenta
a pressão pelo domínio partidário nas prefeituras do Ceará. Pelo menos
24 municípios não têm hoje o mesmo prefeito eleito em 2016, o que
impacta também na correlação de forças.
O PDT, legenda do maior grupo político do Estado, liderado pelos
irmãos Cid e Ciro Gomes, segue com o maior número de prefeituras, 52 das
184. Em contrapartida, PSD e PL têm atuado nas principais ofensivas
pelo interior e veem seus quadros crescerem.
O foco em 2020, para especialistas e políticos, mira na disputa de
2022, quando chega ao fim o 2° mandato do governador Camilo Santana
(PT). A especificidade das eleições municipais, no entanto, requer jogo
de cintura das principais lideranças.
No decorrer do mandato, a filiação partidária não garante apoio entre
correligionários. Até mesmo a mudança de partido pode impactar
negativamente no resultado de quem se julgava vitorioso.
"Cada município tem uma realidade partidária diferente. Por exemplo,
em Morrinhos (Região Norte), eu era do PSB e convidei o prefeito para o
partido. Ele sempre foi PSDB, concorria pelo 45, e perdeu nas eleições
de 2012 por pouco mais de 100 votos, justamente porque tinha trocado de
legenda. Em 2016, ele voltou para o PSDB e a eleição foi vitoriosa.
Muitas vezes os prefeitos são identificados no seu município com uma
determinada cor, um determinado número de partido", pontua o deputado
estadual Sérgio Aguiar (PDT) que lista parceria direta com 10 prefeitos.
Em 2016, o PDT elegeu 52 prefeitos, seguido por MDB (25), PSD (18),
PSDB (15), PT (15), PR - hoje PL - (13), PP (8), PCdoB (8), SD (6) e PTB
(5).
A maioria das siglas perdeu representantes. O PSB, atualmente, não
tem nenhum prefeito (elegeu dois). PDT e PL driblaram perdas e
mantiveram o domínio.
O PL, no entanto, ainda está na luta para aumentar sua abrangência. O deputado federal Júnior Mano é quem atua na ofensiva.
Segundo ele, tem meta de chegar a 2020 com 16 prefeituras para a disputa eleitoral.
PSD
A estratégia polêmica é a do PSD. O partido do ex-vice-governador
Domingo Filho e do deputado federal Domingos Neto quase dobrou o total
de prefeitos filiados desde 2016. A ofensiva gerou debates na Assembleia
Legislativa e acendeu alerta de outras siglas na base de Camilo. Houve
acusações de cooptação política e uso de máquina pública.
"O PSD tem agido de forma correta. Tem a liderança do Domingos Filho,
com experiência acumulada como deputado, presidente da Assembleia e
vice-governador. Ele tem o conhecimento de todo o Estado e tem feito um
trabalho de procurar atrair para os quadros (do PSD) os melhores da
política", afirma a deputada estadual Patrícia Aguiar, esposa de
Domingos Filho. "A política no Ceará ainda é muito orientada por grupos
políticos", ressalta a cientista social, professora e pesquisadora do
Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da
Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres.
"Na história do Ceará, desde a redemocratização - de antes mesmo -
até agora, a gente observa momentos de ciclos políticos em que houve a
hegemonia de um grupo", pontua Torres. Ela destaca a verticalização
entre lideranças e a dependência da base governista para garantir a
subsistência dos municípios.
"Quanto mais dependente de recurso do Governo do Estado, mais é
problemática essa questão partidária. Partido aqui não funciona, o que
funciona aqui é liderança política", frisa Monalisa.
Recursos
O deputado estadual João Jaime (DEM), com relação direta em, pelo
menos, seis prefeituras, destaca o foco também na atração de recursos.
"Quando você tem um prefeito, tem uma oportunidade mais efetiva de
trabalhar junto ao Governo do Estado para conseguir recurso, porque
cerca de 90% de todo recurso que você consegue tem que ter a parceria da
prefeitura. No município em que você não tem prefeito lhe apoiando,
fica mais difícil de você fazer essa parceria", comentou João Jaime.
O trabalho iniciado na pré-eleição municipal é fundamental para a
conquista das prefeituras em 2020 e, por consequência, para a formação
de base política para a campanha de deputados estaduais e federais,
senadores, governador e presidente dois anos depois.
"Nosso trabalho nunca para. Termina a eleição estadual e, dois anos à
frente, já tem a eleição municipal. Esse espaço serve para que a gente
possa fortalecer aqueles que serão nossos candidatos nas bases
eleitorais. Isso traz, além do trabalho, reciprocidade em relação à
questão do voto, porque aqueles municípios que nos colocam aqui na
Assembleia criam expectativa de que a gente possa cumprir com aquilo que
prometemos em palanque", afirma o deputado estadual Danniel Oliveira
(MDB), que elenca 14 prefeituras aliadas.
"Eu sou da época do vestibular. Meu vestibular será em 2022, mas tem o
pré-vestibular, que é quando eu tenho que me preparar para estar apto a
ir ao concurso. 2020 é uma hora de a gente já poder colher os frutos do
trabalho que a gente viu praticado pelos prefeitos", afirma Aguiar.
Polícia
Quem se elegeu seguindo um viés que foge às relações
político-partidárias se prepara para garantir também bases tradicionais
em 2020.
"Venho de uma situação um pouco diferente. Nunca fui político na
vida, não tenho familiar na política, não tenho ligação com prefeitos,
não tenho essa proximidade", ressalta o deputado estadual Soldado Noélio
(Pros), ligado à bancada da Segurança Pública.
O grupo político do deputado é liderado pelo deputado federal e
pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza, Capitão Wagner (Pros). Para o
próximo ano, o grupo prepara candidatura para municípios no interior e
na Região Metropolitana. "O segredo é porque a Polícia está em todos os
184", destaca Noélio.
Filiações
A corrida por filiados deve se intensificar nos primeiros meses do
próximo ano, com a proximidade da janela eleitoral para troca de
partidos.
"Nós temos um marco diferente nas eleições de 2020 que é a janela
partidária. Até a eleição passada, essa janela ocorreu até outubro. Esse
ano, a janela ocorrerá em março, a seis meses da eleição. É uma
articulação que deixa para ser feita de maneira decisiva nos três
primeiros meses do ano", pontua o deputado estadual Audic Mota (PSB).
Desde muito antes disso, os bastidores já estão aquecidos para o
malabarismo não só de quem vai se candidatar, mas também apoiar.
"Muitas vezes vou (para campanha) com uma camisa azul. Quando saio
daquele município, tenho que ir para outro onde a camisa é amarela.
Depois já tenho que trocar porque, no início do dia seguinte, tenho que
estar com uma camisa vermelha, por causa das cores dos partidos ou dos
grupos políticos a que são filiados os prefeitos", conta Aguiar sobre a
época de campanha que se aproxima.
24 prefeituras mudaram de gestor (até novembro de 2019)
1. Acopiara
2. Aracoiaba
3. Aratuba
4. Barro
5. Bela Cruz
6. Capistrano
7. Cascavel
8. Croatá
9. Frecheirinha
10. Missão Velha
11. Pacajus
12. Paracuru
13. Pedra Branca
14. Poranga
15. Potengi
16. Saboeiro
17. Santa Quitéria
18. Santana do Cariri
19. São Luís do Curu
20. Tarrafas
21. Tauá
22. Tianguá
23. Umari
24. Uruburetama
2. Aracoiaba
3. Aratuba
4. Barro
5. Bela Cruz
6. Capistrano
7. Cascavel
8. Croatá
9. Frecheirinha
10. Missão Velha
11. Pacajus
12. Paracuru
13. Pedra Branca
14. Poranga
15. Potengi
16. Saboeiro
17. Santa Quitéria
18. Santana do Cariri
19. São Luís do Curu
20. Tarrafas
21. Tauá
22. Tianguá
23. Umari
24. Uruburetama