O presidente Jair Bolsonaro e o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), protagonizaram ontem um tiroteio verbal,
ampliando o atrito que tem como pano de fundo a relação entre Executivo e
Congresso e a articulação para a reforma da Previdência. Enquanto Maia
manteve as críticas à condução do governo da proposta no Parlamento,
Bolsonaro disse em Santiago, no Chile, que as divergências acontecem no
País porque alguns "não querem largar a velha política".
Bolsonaro
também alegou não saber por que Maia anda tão "agressivo" com ele.
Disse que o presidente da Câmara está "desinformado", mas afirmou que o
perdoa pelas críticas por causa da "situação pessoal" vivida por ele -
numa referência velada à prisão preventiva do ex-ministro Moreira
Franco, padrasto da mulher de Maia.
"Eu
lamento. Até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está
vivendo. O Brasil está acima dos meus interesses e do dele. O Brasil
está em primeiro lugar."
Bolsonaro repetiu que a
"bola" pela votação da reforma está agora com Maia e com o Congresso, e
não mais com o Planalto. "Não serei levado para um campo de batalha
diferente do meu. Eu respondo pelos meus atos no Executivo, Legislativo
são eles, Judiciário é o Dias Toffoli ", disse Bolsonaro. "O que é
articulação? O que falta eu fazer? Eu pergunto para vocês. O que foi
feito no passado? Veja onde estão dois ex-presidentes. Eu não seguirei o
mesmo destino de ex-presidentes, pode ter certeza."

Em resposta ao presidente, Maia usou um dos motes do governo para
sustentar que essa ofensiva não leva a nada. "Construir um novo Brasil
passa pela aprovação da reforma da Previdência e não continuar nesse
embate improdutivo", afirmou Maia. "Estou olhando para o futuro, olhando
para a vida real das pessoas."
Em entrevista ao
Estado, publicada neste sábado, Maia disse que o governo não tem projeto
para o País além da reforma da Previdência e cobrou empenho do Palácio
do Planalto para a votação das mudanças na aposentadoria. "O governo é
um deserto de ideias", declarou o presidente da Câmara.
Após
as novas declarações, interlocutores de Maia e de Bolsonaro tentam
jogar água na fervura política e marcar uma conversa entre os dois. O
deputado, porém, está irredutível e diz que não precisa falar com o
presidente. Maia não gostou de ver Bolsonaro repetir, em Santiago, que
"alguns" não estão acostumados com a nova forma de fazer política. (AE)
Reação
"O que é a nova política?", questionou
Rodrigo Maia ontem, em Brasília, em resposta ao presidente. "Eu
compreendo que a política é quando o Legislativo e o Executivo governam
juntos. (...) É isso que é a velha política: é usar o Estado em
benefício de poucos. A nova política é a gente transformar o Estado em
um instrumento para melhorar a vida das pessoas", insistiu ele.