Narguilé e cigarro eletrônico: casal fumando e tirando selfie
Os jovens são mais antenados e se tornam mais vulneráveis a modismos e
novidades. Não é diferente em relação ao cigarro e suas variáveis. A
pressão social, a influência de amigos e a superexposição a mensagens
nas redes sociais, cinema e televisão faz com que eles tenham a
curiosidade de experimentar variações do tabaco, como o narguilé e o
cigarro eletrônico.
“A maior parte dos fumantes adquire o hábito de fumar e a dependência
à nicotina na adolescência, pois a curiosidade inicial na
experimentação de cigarros é um dos fatores determinantes da prevalência
do tabagismo na vida adulta”, explica a preceptora do Programa de
Residência Médica de Psiquiatria do Hospital Universitário de Brasília
(HUB), Maria Célia Vitor De Souza Brangioni.
“Daqueles que começam a fumar na adolescência, 50% morrem
prematuramente na meia-idade, perdendo cerca de 20 a 25 anos de
expectativa de vida em comparação aos não fumantes. O risco é maior
naqueles que começam a fumar regularmente na adolescência”, destaca
Maria Célia, lembrando que a iniciação precoce do cigarro pode levar ao
uso de outras substâncias, como álcool e drogas ilícitas.
Narguilé e cigarro eletrônico
Modismos como o narguilé e o cigarro eletrônico escondem riscos
extras e ainda são porta de entrada para o vício em cigarro comum. “O
tabaco tem sido apresentado sob diferentes formas de consumo. O narguilé
e o cigarro eletrônico são tratados como menos nocivos mas podem impor
danos semelhantes ou até piores do que o cigarro convencional”, chama a
atenção a psiquiatra.
Por utilizar mecanismos de filtragem, o consumo de narguilé é visto
como menos nocivo à saúde. Mas, na verdade, seu uso é mais prejudicial
do que o de cigarro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma
sessão dura, em média, de 20 a 80 minutos, o que corresponde à exposição
a todos os componentes tóxicos presentes na fumaça de 100 cigarros.
E os riscos são os mesmos associados ao fumo regular, que incluem as
doenças cardiovasculares, respiratórias e alguns tipos de câncer. O uso
coletivo ainda aumenta a exposição a doenças como herpes, hepatite C e
tuberculose. Com o cigarro eletrônico, a história não é diferente.
Mesmas substâncias tóxicas do cigarro
Segundo nota técnica produzida
pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), a
nicotina nos produtos de narguilé é responsável por seu potencial de
dependência. Além da nicotina, as mesmas 4.700 substâncias tóxicas do
cigarro convencional estão presentes no narguilé, mas análises
comprovaram que a fumaça contém quantidades superiores de itens como
nicotina, monóxido de carbono e metais pesados.
Já o cigarro eletrônico é um dispositivo que produz vapor inalável.
Estudos mostram que os jovens são mais propensos do que os adultos a
usar cigarros eletrônicos e podem ser duas vezes mais propensos a
avançar para cigarros convencionais do que aqueles que nunca usaram
esses dispositivos. Também podem correr risco maior de overdoses
acidentais de ingestão de fluidos de nicotina destinados aos cartuchos
de e-cigarros.
Redução
Diante de todos os riscos e com os esforços de conscientização, o
número de fumantes tem diminuído no Brasil. Segundo dados do
VIGITEL/2016, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no
Brasil é de 10,2%, sendo 12,7 % entre homens e 8,0 % entre mulheres. “O
número de fumantes no País diminuiu nos últimos 25 anos e a redução
coloca o Brasil entre os campeões de quedas do volume de pessoas que
consomem tabaco”, destaca Maria Célia.
Um levantamento que ouviu 75 mil adolescentes de 1.251 escolas
públicas e privadas, feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e pelo Ministério da Saúde em 2016, sugere que 18,5% dos
adolescentes brasileiros entre 12 e 17 anos já experimentaram cigarro.
Dos jovens, 6% são fumantes, ou seja, saíram da fase de experimentação.
Apesar do estudo indicar um índice alto de contato com o cigarro, a
tendência é de queda desse percentual quando há comparação dos dados com
outros estudos anteriores.
Faz mal à saúde
O tabagismo é reconhecido pela OMS como uma doença crônica,
epidêmica, sendo a maior causa isolada evitável de adoecimento e morte
precoce em todo o mundo. Está inserida dentro do grupo dos transtornos
mentais e de comportamento decorrentes do uso de substâncias psicoativas
na Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10).
É um importante fator de risco isolado para cerca de 50 doenças,
muitas delas graves e fatais, como o câncer e as doenças
cardiovasculares. Mais de 5 milhões de mortes são resultantes do
tabagismo no mundo, por ano; 200 mil mortes no Brasil, por ano. Além dos
prejudiciais efeitos à saúde dos fumantes, o tabagismo atinge também os
não fumantes que convivem com fumantes em ambientes fechados, os
denominados fumantes passivos.
“Prevenir o início do uso de cigarro e ofertar tratamento para os
fumantes, além de proteger as pessoas do fumo passivo, são ações
necessárias para combater esta grave e complexa patologia”, completa
Maria Célia.