A Segurança Pública contabilizou, ontem, mais uma ofensiva contra o
Estado. Desta vez, o alvo do atentado foi um trio de servidores da
corporação da Polícia Militar do Ceará (PMCE). De acordo com uma fonte
oficial ligada ao setor de Inteligência da Polícia, que preferiu não se
identificar, a ordem para os assassinatos dos policiais partiu de dentro
de um presídio.
Um tenente, um subtenente e um sargento foram executados enquanto
almoçavam em um estabelecimento comercial, no bairro Vila Manoel Sátiro,
em Fortaleza. Segundo as informações apuradas pela reportagem, a
Polícia Civil já teria conhecimento que as vítimas foram escolhidas
exclusivamente por serem PMs.
"A ordem veio em uma ligação e foi por retaliação à morte de um
criminoso. Foi avisado que tinha policial lá por perto e que era para
matar. O que eu soube é que o Noé estaria envolvido nesse mando. Os
presos comemoraram quando souberam que os militares tinham morrido",
afirmou o oficial.
O 'Noé' que a fonte se refere é Noé de Paula Moreira, um dos líderes da
facção criminosa Guardiões do Estado (GDE). Ele está preso desde o
início deste ano, sob a suspeita de participar da Chacina das Cajazeiras
- a maior matança da história do Ceará, com 14 vítimas. A defesa de Noé
negou o envolvimento do cliente com as execuções. De acordo com o
advogado, os supostos inimigos de Noé poderiam ter se aproveitado para
apontá-lo como mandante para prejudicá-lo. O advogado também afirma que a
família está preocupada com possíveis retaliações ao preso.
Triplo homicídio
Por volta de 13h30 de ontem, quatro homens chegaram ao bar em um
veículo Volkswagen Voyage, de cor preta, e efetuaram uma sequência de
disparos de armas de fogo. "Não houve chance para reação. Não houve
discussão, não houve briga. Chegaram e mataram", contou o tenente
Mardônio Aguiar, da Reserva Remunerada da PMCE.
José Augusto de Lima, de 58 anos, Antonio Cezar Oliveira Gomes, 50, e
Sanderley Cavalcante Sampaio, 46, não resistiram aos ferimentos e
morreram ainda no local do crime. Augusto era sargento e Cezar, tenente.
Ambos já estavam na Reserva.
Cavalcante era subtenente e o único que atuava no serviço ativo da
Corporação. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa
Social (SSPDS), ele estava de folga.
O tenente Mardônio revelou que o Voyage foi abandonado na Avenida José
Bastos e a quadrilha continuou a fuga em outro veículo. A Reportagem
apurou que o automóvel apreendido tinha placa clonada e havia sido
roubado há poucos dias. Já as armas utilizadas pelos criminosos eram
pistolas.
O perito Rômulo Lima, que participava dos levantamentos acerca do
triplo homicídio, informou que dois veículos foram localizados e
passariam por perícia. O outro carro teria sido localizado em
Maranguape.
Motivação
Investigadores contaram ao Diário do Nordeste que a ideia de executar
policiais veio após a morte de um homem conhecido como 'Thales', em um
confronto com a Polícia Militar, nas proximidades de onde aconteceu o
triplo homicídio, na noite da última quarta-feira (22).
'Thales' era suspeito de envolvimento no assassinato de um outro
subtenente. O PM Juciano de Lima Barbosa foi morto a tiros na noite de
29 de julho deste ano, em um bar em frente à sua residência, no bairro
Vila Peri, na Capital. Dois homens que trafegavam em uma motocicleta
cometeram o crime.
Durante o velório de Thales - que acontecia nas proximidades do triplo
homicídio - criminosos teriam recebido a informação que PMs estavam em
um bar na região e deviam morrer, como retaliação. "Esses policiais que
morreram não tinham nada a ver com a morte do Thales. Podia ser qualquer
policial que estivesse por ali", explicou a fonte.
Agressões à imprensa
No local das execuções, a angústia dos policiais que lá trabalhavam se
transfigurou, por diversas vezes, em ações que desrespeitavam o trabalho
da imprensa. Tentativas de retirar a reportagem do local sob escolta
forçada, empurrões em fotógrafos e cinegrafistas e coação contra
repórter, com a obrigação de apagar conteúdo registrado, foram algumas
das ações presenciadas por esta Reportagem.