O ex-presidente Lula, preso há um mês na
Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), reafirmou sua
candidatura por meio de recado transmitido pelo teólogo Leonardo Boff,
ontem. "Lula mandou recado dizendo que é candidatíssimo e que só vai
renunciar à candidatura no dia em que o Moro trouxer uma única prova de
que ele é dono do tríplex", disse o teólogo a jornalistas.
Boff encontrou o ex-presidente na tarde de ontem sob a justificativa de
que se trataria de uma visita religiosa. As visitas a Lula têm sido
negociadas entre a defesa e a Polícia Federal. O advogado do
ex-presidente, Cristiano Zanin, também esteve na PF.
O teólogo afirmou que Lula está entusiasmado e que a situação de
solitária faz com que o ex-presidente leia e reflita muito. Segundo
Boff, ele disse que quer ser presidente para radicalizar o processo de
dignificação e cidadania dos invisíveis, a grande maioria do país.
"Ele quer voltar ao poder para dar centralidade às políticas brasileiras para os pobres".
Boff também disse que Lula, ao mesmo tempo, está indignado frente ao
acúmulo de mentiras. "Não quero meu neto olhando para mim e dizendo 'meu
avô é um ladrão'. Nunca fui", o ex-presidente teria afirmado a ele.
O teólogo disse considerar o petista como alguém que está aprofundando
sua trajetória e se colocando em um nível maior, acima de brigas
jurídicas. Ele comparou o momento de Lula a situações já vivenciadas por
líderes mundiais como Nelson Mandela e Gandhi. "Se não morri de fome
aos cinco anos, aprendi a resistir e estou aqui resistindo", Lula teria
afirmado. O ex-presidente também teria dito que a vocação de sua vida é
lutar, por si mesmo e pelos outros.
Pedido de soltura
A defesa de Lula protocolou um pedido para que ele permaneça preso na
PF em Curitiba e não seja transferido, como pediu à Justiça a própria
Superintendência da PF na cidade.
Já a Segunda Turma do STF segue julgando um recurso que pode conceder
liberdade a Lula, no plenário virtual, desde a sexta passada. Dois
(relator Edson Fachin e Dias Toffoli) dos cinco ministros da Turma
votaram contra o recurso da defesa.
Já o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, deu depoimento,
ontem, ao juiz Sérgio Moro, como testemunha de defesa, sobre o caso do
sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), objeto de uma das ações penais em
que o petista é réu.
Okamotto afirmou que Lula pensava em comprar o sítio para dar de
presente à dona Marisa. Questionado pela advogada do empresário Fernando
Bittar, dono oficial do sítio, Okamotto confirmou que o tema foi
tratado em um almoço, ao qual não esteve presente. Okamotto disse também
que parte do acervo presidencial do petista após o término de seu
mandato ficaria no imóvel. "Teve um almoço. Lula, Kalil, Fernando, não
sei se o Fábio também. Esse tema tinha sido tratado. O presidente Lula,
já há algum tempo, achava que tinha que comprar o sítio como presente
para dona Marisa. Ele tinha um pouco de dúvida, mas tinha essa
impressão", afirmou.