A preparação começa três meses antes, quando cabos de madeira, estopa,
esponja e roupas usadas – mas em bom estado – se unem para gerar alguns
dos personagens mais tradicionais da Semana Santa: os bonecos de Judas. As vendas em ruas e avenidas de Fortaleza foram intensificadas já nesta sexta-feira da Paixão, com preços que variam de R$ 100 a R$ 300.
Entre os locais em que personagens como o presidente Michel Temer, o juiz federal Sérgio Moro e o ex-presidente Lula
já se enfileiram estão os cruzamentos entre as avenidas Expedicionários
e Borges de Melo, no bairro Jardim América, e as vias Murilo Borges e
Raul Barbosa, na Aerolândia.
“O pessoal pede os personagens e a gente faz. O mais pedido é o Temer,
não tem nem perigo de não vender”, garante o auxiliar de pintor José
Nilson, que já dedica oito dos 51 anos de vida à fabricação anual dos
bonecos – reconhecendo o símbolo para além da brincadeira. “Queimar o Judas simboliza o que Jesus sofreu, pagar pelo que fizeram com Ele. Acho que por isso o pessoal quer tanto político, pelo que fazem com a gente”.
Segredo
De tão inerente à rotina de todos os anos, a atividade já virou até sobrenome para José do Judas,
40, que “fabrica e repassa para revenda” boa parte dos bonecos expostos
nas vias da cidade. “Em um dia, faço uns sete bonecos. Compro as roupas
em bazares e no Centro, têm que ser baratas, mas boas”, afirma.
A renda extra – que ele prefere não revelar, “segredo
de profissão” – é considerável, mas, segundo José, a diversão vale ainda
mais no sábado de Aleluia, dia em que os Judas são malhados e
queimados. “Todo ano eu tiro um pra mim e queimo perto da minha casa.
Junta gente pra acompanhar, é bom demais”.