Foi com um nome novo, o de Tasso Jereissati, em 1986, que ocorreu uma
transformação na política do Ceará, à época dominada pelos coronéis
Adauto Bezerra, César Cals e Virgílio Távora, todos ex-governadores do
Estado. Hoje, a oposição admite reeditar aquele momento, indicando um
candidato novo, na idade e nas ideias, para concorrer com o governador
Camilo Santana. O advogado Caio Rocha é o nome mais cotado para a
empreitada. No último encontro de líderes oposicionistas, ao ser
lembrado pelo senador Tasso Jereissati, para ser o candidato, animou a
todos os presentes. Discreto como é, Caio não fez qualquer manifestação
pública a respeito do assunto.
Em 1986, quando todos davam como certa a eleição do Coronel Adauto
Bezerra, naquele ano vice-governador do Ceará, após ter sido governador
por um período de quatro anos, Gonzaga Mota, o governador, já rompido
com os coronéis, apontou o nome de Tasso Jereissati, filiado ao PMDB,
para concorrer com Adauto Bezerra, apoiado por quase dois terços dos
prefeitos municipais cearenses, além dos dois outros coronéis, como ele,
ex-governadores do Estado. Resultado final da eleição, no dia 15 de
novembro daquele ano, Tasso obteve 1.407.693 votos contra 807.315 dados a
Adauto. Foram eleitos, também, os dois candidatos ao Senado na chapa de
Tasso Jereissati.
Mauro Benevides e Cid Carvalho, os dois senadores, derrotaram Paulo
Lustosa, ex-ministro e ex-deputado federal, e César Cals, ex-ministro e
ex-governador, poucos anos antes da disputa senatorial, também como o
candidato a governador, considerados imbatíveis, tal o espaço político
ocupado durante vários anos do período da exceção.
Foi realmente, naquele ano, um derrota acachapante dos grandes líderes
políticos do Estado até aquele momento. O governador Gonzaga Mota foi
eleito pelos três Coronéis, tendo Adauto Bezerra como o seu vice. Sob o
comando do senador Tasso Jereissati, o Ceará experimentou uma grande
renovação política, nascendo daí os irmãos Ciro e Cid Gomes, com o
primeiro sendo eleito prefeito da Capital e logo em seguida governador
do Estado, apontado por Tasso. Portanto, essa realidade de hoje nasceu
na década de 1980.
Ruptura
Naquela época, como agora, embora por razões diferentes, se buscava a
ruptura. Mesmo sem os generais presidentes da República, como no período
da Revolução de 1964, a maioria dos políticos tinha a marca do regime
de exceção, o que sugeria mudanças.
Hoje, com a classe política execrada por conta das mazelas atribuídas
aos representantes políticos nos três níveis de Poder, o desejo de
afastá-los é grande, abrindo um enorme espaço para a eleição de pessoas
comprometidas com ética e o respeito à coisa pública.
Caio Rocha é o nome que atende a todos os requisitos explicitados pelos
líderes oposicionistas locais e nacionais, como ser jovem, competente,
bem-sucedido profissionalmente, atento às questões do Estado e do País. É
uma figura de bom trato e bem relacionada com representantes de todos
os segmentos políticos e sociais do Estado.
Até bem pouco presidiu o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, sendo
hoje um dos conselheiros cearenses da Ordem dos Advogados do Brasil. O
nome de Caio Rocha já circulava nos bastidores da política cearense como
um dos prováveis candidatos a governador do Ceará, por suas ligações
pessoais com o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos
Deputados, um dos nomes citados como postulante ao cargo de presidente
da República.
Caio é o cearense mais próximo de Rodrigo Maia. O presidente da Câmara
dos Deputados, quando veio ao Ceará prestigiar a filiação do deputado
federal Danilo Forte ao DEM, em dezembro passado, foi recepcionado por
Caio, um dos filiados ao mesmo DEM de Maia.
Pesquisa
Este ponto também foi abordado na reunião dos oposicionistas cearenses,
onde estavam o senador Tasso Jereissati, os deputados federais Domingos
Neto, Genecias Noronha e Raimundo Gomes de Matos, o vice-prefeito de
Maracanaú, Roberto Pessoa, o deputado estadual Carlos Matos, o
conselheiro e ex-vice-governador do Ceará, Domingos Filho, o
ex-presidente do PSDB, Luiz Pontes, e o atual, Francini Guedes, também
defensores de um novo na disputa estadual.
O anúncio do nome do candidato para disputar com Camilo Santana só se
dará, porém, próximo do fim de março, quando já determinados estiverem
os postulantes à Presidência da República. O PSDB vai patrocinar uma
ampla pesquisa, quantitativa e qualitativa, sobre a sucessão cearense.
Eles querem informações para nortear a campanha, além de ganharem tempo
para que fique aclarada a situação da política nacional, ainda mais
duvidosa após a confirmação da condenação do ex-presidente Lula a pouco
mais de 12 anos de prisão, o que teoricamente o deixa fora da disputa
presidencial.
Ademais, no próprio PSDB ainda paira dúvida quanto à sustentação ou não
da pretensão do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de disputar o
lugar hoje ocupado pelo presidente Temer. Tem tucano admitindo que se
ele não alcançar ao menos 15 pontos nas pesquisas de intenção de votos
até o fim de março, não há como o partido mantê-lo como candidato,
ressurgindo, então, o nome do apresentador de televisão, Luciano Huck,
com quem tucanos importantes têm mantido contatos permanentemente. Huck
pode ter o apoio do PSDB, mesmo estando filiado a outra agremiação.
Discurso
O governador Camilo Santana, no seu pronunciamento ontem, na abertura
dos trabalhos da Assembleia Legislativa, como não poderia deixar de ser,
deu ênfase à questão da Segurança Pública. Ele foi duro com os
adversários que exploraram politicamente as duas chacinas ocorridas no
último fim de semana no Ceará, com 24 mortos, ao condenar os "discursos
oportunistas e politiqueiros" quando, realmente, o mais importante seria
a união de todos para mostrar aos marginais que todos os segmentos
cidadãos da sociedade os renegam e estão aliados às autoridades que os
combatem.
Camilo também reclamou deste e dos demais Governos da República, por
ainda não termos um Plano Nacional de Segurança, quando em todos os
estados brasileiros a bandidagem quer intimidar as pessoas de bem.
Camilo falou sobre a Segurança em dois momentos. O primeiro, na ordem
cronológica que estabeleceu para destacar os feitos do seu Governo no
ano passado. E o segundo, de improviso, no fim do discurso. Este mais
bem inflamado e dirigido aos adversários que exploraram as negativas e
dolorosas ocorrências dos últimos dias no Estado.