O Psol define, no próximo dia 10 de março, quem vai disputar a
Presidência da República pelo partido. Um dos nomes mais cotados é a
indígena Sônia Bone Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil (Apib), que tem apoio de filiadas e filiados
de 20 estados, incluindo no Ceará.
Nesta sexta-feira, 23, a líder
indígena participará do debate "Luta indígena: água e territórios" na
Assembleia Legislativa do Ceará.
No último
dia 6, ela publicou carta aberta se apresentando como alternativa para a
disputa presidencial. No dia seguinte, o coordenador do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos - outro cotado para o
posto -, disse ao jornal Folha de S.Paulo que "avançou-se bastante nos debates junto ao Psol para que se possa consolidar uma candidatura".
Na
carta, Guajajara classifica como guerra sem trégua a articulação
interna do congresso nacional do partido. "Inicialmente surpresos após a
consulta (do Psol), aos poucos fomos nos dando conta de que seria uma
oportunidade histórica de ter a nossa pauta inserida nos debates",
escreveu.
Ela destacou ainda que é a
primeira vez que uma pré-candidatura à Presidência, "ainda que pré, é
lançada por um setorial amplo, plural e diverso do partido". Ela fala do
Setorial Ecossocialista do Psol.
Presidente
do Psol no Ceará, Ailton Lopes apoia a candidatura da maranhense. Ele
defende que é fundamental pensar em uma lógica que tenha modelo
econômico e social baseado nos direitos humanos e da natureza.
"A
Sônia pretende trazer para o debate outra perspectiva, diferente desse
modelo baseado no consumo e na produção, de desmatamento e
desterritorialização", afirma Ailton Lopes. "Colocar a economia a
serviço dos povos, e não o contrário".
Para
Ailton, a pré-candidatura representa um resgate histórico. "Os povos
indígenas foram dizimados no Brasil e América Latina. Restou um número
muito pequeno que ainda resiste, inclusive com a própria vida", destaca.
"Não se trata apenas de uma luta pela terra, mas pela própria
identidade, pela cultura, valores e vidas desses povos que formaram as
primeiras nações a habitar nosso território".
Apesar
do otimismo dos setores mais ligados à luta ecossocialista, o cientista
político e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Valmir
Lopes, vê na pré-candidatura uma "lógica contrária" à do Executivo.
"Ela
se apresenta originalmente como representante de um grupo determinado, e
isso perde enormemente a capacidade de interlocução", avalia. "Teremos
uma porta-voz de um segmento particular, mesmo que simbolicamente. O
pressuposto de um cargo do executivo é falar da totalidade".
Por
outro lado, o professor hemérito de Ciência Política da Universidade de
Brasília, David Fleischer, vê na líder indígena mais uma possibilidade
de "outsider", alguém que não ocupava cargos políticos oficiais, de
destaque na política nacional.
"Encaixa
bem no que chamados de cansaço e rebeldia do eleitorado brasileiro que
não quer reeleger políticos corruptos", pondera. "E existe essa ideia de
que tudo quanto é político é corrupto. Essa candidatura encaixa muito
bem nessa nova aspiração do eleitorado".
Sônia
Guajajara foi contatada pelo O POVO Online e chegou a marcar entrevista
na tarde do último dia 22, mas as ligações não foram atendidas.